Capítulo 20

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Sete de uma vez.

Eu me lembrei do conto de fadas dos Irmãos Grimm em que um gigante fica impressionado porque acha que o alfaiate exterminou sete homens com um só golpe. O alfaiate não era ninguém perto de Alfonso Herrera, que conseguiu conquistar sete mulheres da família Portilla– bem, oito, contando comigo.

Depois do jantar, minhas irmãs e minha mãe ficaram espiando pela janela da frente, vendo o Alfonso jogar basquete com a Alícia na rua. Sentei em uma poltrona do outro lado da sala, tentando fingir que não queria olhar.

- Jesus, toda vez que ele arremessa a bola, a camiseta dele sobe. Espero que ele ganhe da Alícia– comentou Alegra.

- Eu não via um V tão marcado no abdome de um homem desde... Bom, acho que nunca vi um assim – Mac suspirou.

Minha mãe liderava a Campanha Pró-Alfonso.

- Ele é bonitão. Mas o chamei para jantar antes de vê-lo. Isso deveria lhe dizer algo. Ele é tão atraente por dentro quanto é por fora.

- Por quanto tempo você falou com ele? – perguntei, massageando as minhas têmporas.

- Tempo suficiente para saber que ele teve um namoro, que a mãe dele morreu quando ele tinha dezessete anos, que o irmão dele faleceu alguns anos atrás e que os hobbies dele são mergulho, surfe e escalada.

Fiquei boquiaberta.

- O irmão dele morreu? Escalada?

- Sim, o nome do irmão era Jayce. Alfonso é católico, também. Mas faz uns anos que não se confessa. Você deveria convencê-lo a corrigir isso. É bom para a alma pedir perdão a Deus.

Por que diabos esse homem apareceu na porta da casa da minha mãe? Qualquer outro ia sair correndo o mais rápido possível, sem olhar para trás. Mas ele não apenas sobreviveu ao interrogatório da minha mãe – uma mulher que, por experiência própria, sempre tem um pé atrás com homens – como pode tê-la feito se apaixonar um pouquinho por ele.

Levantei e fui até a janela, onde minha mãe ainda estava suspirando. Fiquei atrás dela e coloquei a mão no seu ombro.

- Ele parece maravilhoso, mamãe.

- Parece mesmo.

- Você tem a minha bênção.

- Que bom. Espere. O quê?

- Você tem a minha bênção para sair com ele. Sei que ele é um pouco mais novo que você, mas acho que formariam um ótimo casal.

Minhas irmãs morreram de rir. Minha mãe até corou.

- Não estou interessada nele para mim, mas para você!

- Aham. – Escondi meu sorriso e fiz aquela cara de "sei".

- Anahi Giovana Portilla. Você precisa começar a namorar de novo, e esse homem cruzou o país só para conhecer você melhor.

- Ele está trabalhando aqui, mãe. Ele viaja pelo mundo a trabalho e desta vez teve de vir a Nova York.

- Não. Ele pediu para assumir um projeto em Nova York só para ficar perto de você.

Fui pega de surpresa.

- Ele disse isso?

Alícia entrou pela porta da frente.

- Ele é melhor que meu treinador!

Aquilo era... um sorriso no rosto dela? O diabo do homem não era só charmoso, era mágico.

- Mas ele não é tão bom quanto eu, né?

Alfonso entrou e fechou a porta. Ele estava suado, deliciosamente suado.

- Você joga?

Alícia tirou sarro de mim:

- Quando arremessa a bola, ela levanta a perna como se fosse a Marilyn Monroe. Mas fez um gol outro dia.

- Ah, ela também joga futebol? – Alícia perguntou com uma cara interessada.

- Não, foi o que ela disse quando fez uma cesta. Começou a pular e a dizer que tinha feito um gol.

- Fiquei empolgada.

Alícia balançou a cabeça, mas não desfez o sorriso.

- Convidei o Hunter para vir me ver jogar na terça-feira. Ele vai assistir e me dizer o que estou fazendo de errado, como o papai fazia.

Olhei para o Hunter.

- Ah, ele vai?

- Tudo bem para você? – Ele pareceu sincero.

Alícia estava tão empolgada que eu não poderia recusar. Ao menos foi essa a desculpa que dei para mim mesma por não ter me oposto.

- Claro. É legal da sua parte. Tenho um compromisso marcado para depois do jogo, mas posso adiar um pouco e ficar para ouvir os comentários.

Os suspiros provocados pelo Alfonso se estenderam para a sobremesa. Quando terminamos e vi o horário no meu celular, fiquei surpresa por serem quase dez horas. Em geral, nós íamos embora às oito, porque a Alícia tinha de acordar cedo na manhã seguinte e a viagem de trem demorava mais de uma hora.

- Está ficando tarde. É melhor irmos, Alícia.

Ela fez uma careta. Mas aí uma ideia a animou.

- Qual trem você vai pegar, Alfonso?

- Vim de carro. Mas estou ficando em Manhattan, subloquei um apartamento. Posso deixar vocês em casa no caminho.

Alícia e eu respondemos ao mesmo tempo. Eu disse "não, obrigada". Ela disse "eba, obrigada!". Os dois me olharam fazendo bico. Revirei os olhos.

- Tá. O trânsito deve estar melhor agora.

A carona foi surpreendentemente silenciosa. Alícia colocou os fones de ouvido para escutar música no banco de trás e acabou dormindo. Provavelmente estava cansada por causa da longa partida com o Alfonso. Ele parecia perdido em pensamentos, e eu lutava contra os meus próprios enquanto olhava pela janela. A ideia de me envolver com aquele homem era muito tentadora, mas eu não estava pronta para um relacionamento. Eu também precisava me manter focada nas coisas importantes: minha carreira e minha enteada.

Ao cruzarmos a ponte para Manhattan, Alfonso quebrou o silêncio desconfortável:

- Sua família é ótima.

Sabendo que ele havia perdido a mãe e o irmão, sensibilizei-me com o comentário. Em geral, eu ficaria irritadiça, mas dessa vez me senti grata.

- Sim, ela é. Mas não conte que falei isso. Alfonso sorriu e falou calmamente:

- Espero que você não se importe de eu ir ao jogo na terça à noite. Eu jogava basquete na escola. Ela é muito boa, e não consegui dizer não.

- Não, de jeito nenhum. Achei fofo da sua parte. Depois de alguns minutos, ele disse:

- O compromisso que você tem depois tem a ver com aquele cara chamado Marcus, que a Alícia mencionou no jantar?

Assenti.

- Sim, vou sair com ele.

- Primeiro encontro?

- Segundo.

Ele ficou quieto de novo. No fim, disse:

- Coitado.

Fiz uma careta.

- O quê? Por quê?

- Marcus... Provavelmente, o primeiro encontro foi bom. Nunca vai entender por que você agirá de maneira distante no segundo encontro e depois nunca marcará um terceiro. Ele vai achar que fez algo errado.

- Do que está falando? Alfonso deu de ombros.

- Você vai ficar pensando em mim durante o encontro. O coitado nem vai entender o que está acontecendo.

- Você é tão metido.

Embora Alícia estivesse dormindo com os fones de ouvido, ele se aproximou para sussurrar:

- Talvez. Mas logo vou meter em você também. 

Sex without love? - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora