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Lance chorou antes de dormir, como se tivesse ouvido pela segunda vez o som terrível do carro azul batendo grosseiramente. Doeu ver as fotos no closet, então às jogou fora. Dormiu ainda sentindo o gosto doce do champanhe, eufórico pelo álcool e o cheiro de Sara em si. Ele tinha muito para dar, não entendia por qual razão seus pais continuavam puxando-o para longe de quem amava verdadeiramente.
Ele não estava só, mas Mick parou de falar quando percebeu que o amigo não ouvia.
O café da manhã foi terrivelmente silencioso, porque não estava em casa e não queria ouvir os pais naquele momento. Comprar um lugar longe da mansão Stroll foi a maior imbecilidade que Charles já fez por Lance, ele não podia ter feito algo pior.
— Preciso ir para casa. – Mick suspirou, odiando ver o amigo naquele estado – Qualquer coisa me liga.
— Para que? Você vai está na Suíça.
— Podemos fazer chamada de vídeo, e não é como se estivesse apreciando minha presença.
Lance deu de ombros emburrado.
Não gostou quando viu o loiro partir, mas não podia fazer nada.
Odiava demonstrar fraqueza quando perdia, por isso raramente tentava ser sociável, pois assim poucos descobririam suas camadas obscuras. Nunca foi uma pessoa fácil, estava no DNA lutar para conseguir o que queria, apesar de precisar apenas assinar um cheque. Com uma infância entediante, Lance precisou inovar com sua irmã, Percy, criando situações preocupantes e às vezes alarmantes.
Facilmente escondia os sentimentos, deixando-os para depois.
Não podia ficar em casa esperando cair do céu uma solução, ou pior, fazer com que todos soubessem do seu coração partido. Lance era muito sentimental quando tragédias aconteciam, e Percy sempre explicava que era porque ele era o mais novo, logo, o mais protegido. Lance discordava da irmã.
Levantou-se disposto a mudar aquela bagunça. Ainda podia implorar para ela voltar, sem deixar transparecer todo o confronto interno existente, ou fingir que nada mais importava. Ele podia ter outras mulheres, modelos e herdeiras. O pensamento de criar vínculos com outra pessoa lhe fez muito mal, porque não queria aceitar um término como aquele, ainda havia esperanças.
Com desgosto, subiu as escadas.
Lance vestiu-se para lutar contra seus demônios, porque era melhor na pista de gelo ou dentro de um ringue. Práticas mal vistas pela parte sensata da sociedade, porém um homem como ele não podia dar o luxo de encontrar prazeres violentos em outros lugares inadequados, odiaria passar meses na cadeia, ou preso na casa dos pais. Se alguém pagava para ver socos e sangue, então deveria aceitar a oportunidade.
O jovem Stroll colocou a bolsa esportiva no porta-malas e saiu cantando pneu. O vazio bairro familiar estava tão solitário quanto ele. Em breve começaria a vida de poeta, porque tudo que pensava em dizer era sobre o buraco no peito, em como o mundo se tornou sem graça, tudo preto e branco, ele queria alguém para conversar, uma esposa bonita.
