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Suas mãos soavam, por isso apertava o lençol com força

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Suas mãos soavam, por isso apertava o lençol com força. Apesar de tentar dormir, não conseguia fechar os olhos por muito tempo. Sentia muito medo. Fazia dias desde que tudo aconteceu, então era normal que mover-se causasse muito dor. Não conseguia compreender como se deixou aceitar tudo aquilo, ou porque permitiu.

Atena ouviu a porta ser fechada, e soube.

Não precisava que Matheo se aproximasse muito para sentir o cheiro de bebida. Preferia quando ele chegava com o perfume de outra mulher, porque isso significava que ela foi receptiva e Atena poderia dormir em paz. Infelizmente naquela noite foi diferente.

A dor deixava muito claro que não iria engravidar mesmo se mil homens como ele tentasse, então aquele não era seu medo principal.

— Minha querida. – ele sorriu jogando-se na cama.

Tinha dias que ela lutava com vigor, usava as unhas e gritava usando seu último fôlego. Ele costumava acerta-la no rosto para silencia-la. Quando chorava, também o deixava irritado, então fazia tudo demorar mais e ser mais dolorido. Ela sentia nojo, do começo ao fim.

A dor era capaz de rasga-la ao meio. Pior que qualquer tapa ou corte. Ela não conseguia respirar com a sensação torturante. Lâminas afiadas perfurando seu corpo, fazendo-o sangrar e impedir sua recuperação. Não conseguiu segurar as lágrimas, então virou o rosto para o outro lado, com muito medo que aquilo demorasse.

Aqueles atos desumanos a fizeram detestar o ato sexual. Atena havia se esquecido de que um dia foi capaz de sentir prazer antes de tudo ser apenas dor. Sua mente se concentrava somente na força que homens viam a ter durante o sexo. Assim como um dia conseguiu voltar a usar sua cor favorita, esperava conseguir sentir desejo como antes, sem ter tanto medo da violência.

Afastou as lágrimas, enquanto os olhos mantinham-se na televisão. Os demônios a mantiveram acordada, sendo obrigada a ver o nascer do sol pela janela antiga e cortinas baratas que comprou há muito tempo. Ainda era estranho ser livre, mesmo não se sentindo assim.

Atena não queria ser o objeto de ninguém. Ela não queria ser uma mulher bonita para nenhum dos olhos que a enxergavam. Estava tudo bem fazer parte da multidão. Ficava feliz com o pouco, apesar de um dia desejar fazer muito mais, conhecer o mundo, fugir da paisagem pacata de Montreal, viver a vida sem precisar fugir.

Saiu do apartamento de cabeça baixa, ouvindo passos pesados do andar de cima. Ela se apressou nas escadas, encolhendo-se na parede quando passava por alguém, fosse homem ou mulher. Seu carro era o maior de todos entre aqueles estacionados, um erro.

Dias ruins eram comuns, significava que permanecia viva.

Dirigiu para a casa de Lance sem ouvir qualquer música para afastar os sentimentos ruins, duvidava que ritmos alegres fossem capazes de deixa-la melhor.

Ela ainda podia sonhar em ser melhor no futuro.

Estacionou soltando um suspiro. A cada passo para perto da residência pensava em maneiras de ir para longe, abandonar tudo.

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