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Atena se perguntava por que tantos rostos femininos feridos despareciam após voltarem ao normal, mas um dia parou de fazer a mesma pergunta quando viu uma antiga vizinha que carregava marcas vermelhas ao redor do pescoço caminhando pela rua com um homem nada contente. Ela tentou conversar com a mulher, lhe incentivar a pedir ajuda, pois o futuro era sempre cruel, mas ela negou, e o desconhecido intrometeu-se apavorando Atena.
Naquela noite fria, correu para casa e fechou todas as portas, com medo de ter sido seguida.
Para ela não foi fácil reconhecer o mundo como um lugar para todos, e principalmente se conhecer mais uma vez. Foram meses dentro de um quarto, encarando uma pintura que perdeu os tons brilhantes com o tempo. Ás vezes chorava, principalmente quando telefone tocava, ou quando ouvia a voz de Matheo prometendo ser melhor.
O tempo lhe deu a chance de descobrir que cometera um crime contra si quando machucou o próprio corpo por um homem que não teria feito o mesmo. A dor maior no passado não era sobre a perda que achava existir, e sim as feridas que aumentava, e a fazia sangrar.
Apesar de tudo, Atena conseguiu erguer-se. Ela não vivia com muito luxo, e precisou mudar-se duas vezes até encontrar um apartamento a altura do salário escasso. Tentava ajudar a mãe no vício, mas sabia que usava o dinheiro para ter mais cocaína. Escondia-se com frequência ao ver o pai pelo centro da cidade, e mudava de número bastantes vezes.
Atena trabalhava com faxinas, como a maior parte de mulheres que foram subjugadas e tentavam encontrar um caminho. Ela gostava de organizar, e encontrou clientes fixos, a maior parte acumuladores. Também frequentava casas bonitas, sem vida e pessoas. Quando tinha sorte, colocava os fones e fingia morar em residências minimalistas.
O dinheiro era bom para uma mulher sem muitas despesas, conseguindo unir boa quantia para a faculdade. Ela ainda podia sonhar em voltar a estudar, fingir que ainda existia um talento incomum com números. Atena sonhava em se aprofundar na física, conhecer cada mínimo detalhe, entrar de cabeça em resultados certeiros. Contar era um talento nato.
De segunda e sexta ela acordava as oito e voltava para casa no horário certo para assistir mais episódio de zumbis insistentes. Nos fins de semana Atena reprisava filmes românticos, porque raramente encontrava bom conteúdo. Aquele era mais um fim de semana normal, com cenas bonitas o suficiente para serem falsas.
Viu o celular acender com a chamada. Verificou o número, constatando não ser de Matheo. Fazia três meses que parou de tentar, porém Atena não confiava que permaneceria assim.
Pausou o momento em que Julia Roberts revela seus cachos incrivelmente lindos e surpreende o milionário bonitão. Ela já sabia
— Sim? – atendeu.
— Tenho trabalho para você, do jeito que gosta.
Maeva era a organizadora da pequena instituição que criou, recebendo as ligações dos clientes e designando as funções. Ela costumava deixar os piores casos para Atena, porque ela escolheu assim.