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O medo podia ser uma arma. Se usasse da maneira correta, a pessoa a ser atingida corria até as garras do agressor, se enrolava nas amarras da aceitação, e a luta tornava a situação mais satisfatória. Ela era uma vítima, então entendia muito melhor agora o que era esperado. Se fugisse, poderia deixar um rastro maior e ser pega no momento menos esperado.
Há muito tempo Atena não possuía qualquer porto seguro. Contudo, havia um lugar onde pessoas como ela se escondia, com a certeza que ficariam seguras pelo tempo necessário.
— Oi. – sussurrou no meio da noite fria de Montreal.
A porta foi aberta, e a passagem liberada.
Era muito comum mulheres como ela se esconderem com os filhos. O celular era sempre deixado desligado, qualquer contato com o mundo esquecido além dos portões de ferro.
O rosto cheio de rugas de Elena a saudou. Ela era mais baixa que Atena, com mãos levemente trêmulas, usava sempre o mesmo casaco azul. Aquela mulher a encontrou pela primeira vez quando o que tinha era uma mochila e lágrimas, agora tudo se repetia, mas sem mais lágrimas.
— O que aconteceu com você?
— Ele quase me encontrou.
— Vamos entrar.
A porta foi fechada.
Atena a seguiu pela escada estreita pintada a muito tempo de verde. Quanto mais subia, encontrava novamente seu lar por longos meses turbulentos. Ali existiam pequenos apartamentos. O quintal era o suficiente para as poucas crianças que iam e vinham. Um ambiente simples, seguro.
Entregou o celular desligado para Elena e assinou os termos. Por já ter ido para a polícia antes, não precisava prestar queixa. Estava tudo de acordo com as leis canadense. Teria um lugar confortável para dormir. Pegou a chave e seguiu os passos lentos da mais velha.
Seu novo lar ficava no segundo andar como da última vez. O número dez a saudou. Todos os apartamentos eram iguais no interior, à mesma pintura, o sofá pequeno, e armários na cozinha.
— Fique o tempo que achar necessário, trarei algo para comer.
— Obrigado, por me ajudar.
— Nada que você não faria, Atena.
Assentiu, sentindo os olhos queimarem.
Sentou-se no sofá da sala, tirando os tênis. O corte na mão ainda ardia, junto com os ferimentos da madeira.
Não importava o quanto corresse, ou lutasse, seu destino estava claramente entrelaçado com o de Matheo. Tudo que podia fazer era atrasar o cruel encontro, para poder aproveitar um pouco da vida que não a pertencia.
Tocou a cicatriz na nuca, deslizando o dedo indicador pelo relevo macio que ainda se tornava dolorido quando os pesadelos chegavam sem aviso no meio da madrugada. O sangue havia descido quente, um toque da morte que jamais esqueceria. Havia outros lugares com cicatrizes por seu corpo, mas aquele era o pior.