CAPÍTULO 5

1.1K 182 15
                                    

Não esqueci de vocês, só fiquei extremamente enrolada pra postar 🤪

Boa leitura! Bora conhecer melhor nosso grosseirão ❤️

TOMÁS

Minha tia costumava dizer que o tempo cicatriza todas as feridas.

"- Elas não são curadas milagrosamente. Elas cicatrizam, criam aquela casquinha por cima da ferida aberta e estanca um pouco aquela dor. E a gente vive com ela, vive com aquela cicatriz sabendo que se ela for aberta, vai doer, mas que a gente aprende a viver com ela. E isso que importa."

Ela disse um mês depois da morte da minha esposa. Um mês depois que eu apareci na sua casa, desesperado sem saber como cuidar da minha filha e de mim ao mesmo tempo. Sem saber lidar com o luto que me sufocava. Sem saber lidar com a raiva que eu sentia só de pensar na família agora quebrada. Na minha filha sem mãe.

E tudo por conta de uma doença maldita.

Depois de um tempo a ferida realmente cicatrizou, mas ela vive lá, exposta, zombando de mim pelo menos uma vez ao dia.

E é por isso que me afasto de todos e me foco apenas em ajudar na fazenda, ajudar minha família e em criar o melhor presente que me foi deixado: minha filha.

O único problema disso tudo? Os hóspedes.

Alguns até entendiam que eu era reservado, mas algumas das mulheres solteiras..., bem, elas eu tive problema em afastar. E já estava de saco cheio disso.

Principalmente porque notei o quanto minha tia me empurrava para encontros e o quanto minha filha havia começado a parecer animada com a ideia.

Elas podiam fingir a vontade, mas de tanto conviver com mulheres, acabei entendendo mais do que elas deixam transparecer.

No entanto, não eram elas que estavam me deixando nervoso. Era a nova hóspede.

Havia algo nela, algo que me intrigava de um jeito que não entendia.

Ela estava aqui a menos de dois dias e eu já queria que ela fosse embora.

E como a minha sorte se provou ser sempre azar, era ela que ajudava no café da manhã hoje.

Tentei comer pensando em tudo que precisava fazer hoje, e que minha filha queria ir comigo ajudar nos cavalos.

Minha filha.

Carolina. Minha Cacau.

Tinha todos os traços da mulher que eu amava. Era linda, feliz, espontânea, engraçada...

- Pai, você não vai acreditar! A senhorita Cecília vai com a gente ajudar com os cavalos!

... e extremamente engenhosa.

Não queria negar ali na frente dela nada sobre isso, nem mesmo a repreender por convidar uma estranha – mesmo sendo hóspede – para passar o dia com ela.

Apenas acenei concordando enquanto podia ver que Cecília parecia prender a respiração enquanto ela falava.

Então... será que ela estava na artimanha? Usando a minha filha para algum joguinho idiota?

Podia sentir a cólera nublando minha visão.

Não iria explodir ali por mais que fosse a minha vontade. Afinal, aquele era o negócio da minha família e os hóspedes estavam ali, mas quando estivéssemos sozinhos...

Ah, ela iria ouvir.

**

Depois do café da manhã e garantir a minha tia que daria tudo certo, fomos os três – eu, minha filha e a hóspede – até os estábulos onde ficavam nossos quatro cavalos.

Ajudava na criação dos cavalos, porcos, galinhas e das duas vacas que tínhamos aqui. Não era veterinário – esse vinha de tempos em tempos -, mas lidar com os animais me animava e me acalmava de qualquer tumulto na minha mente.

Estar com os animais ou a minha família, me ajudava nas horas que tudo se tornava demais.

Mas agora eu estava distraído pela bonita hóspede que passava a mão lentamente em tudo, maravilhada pelos cavalos.

- Posso tocar um deles? Ou tem algum arredio que devo evitar? – Ela pergunta para mim e percebo que foi a primeira vez que nos falamos diretamente desde hoje cedo e sem nenhuma entonação grosseira.

- Evite a Lua, ela foi resgatada a pouco tempo e ainda é um pouco arredia. Ela não gosta de toques indesejados e são os poucos que ela permite. – Aponto para a campolina linda de pelagem marrom.

- O que houve com ela? – Ela pergunta baixinho e vejo como olha para a égua com simpatia.

- Ela era muito maltratada e mantida em condições péssimas em uma fazenda em outra cidade. Um amigo meu que sabia daqui e viu as condições dela falou comigo, disse que queria denunciar mas não sabia o que fazer porque tinha medo para onde ela iria. Enfim, fomos eu, ele e a polícia até lá e vi que ele só tinha aquela égua ainda viva, porque os outros cavalos morreram devido a maus-tratos.  Trouxe ela pra casa e aqui está desde então.

Bem, evitei a parte em que meu amigo teve que me conter porque eu queria dar uma surra naquele dono miserável. Aquele safado achava um absurdo ser denunciado e eu achava um absurdo não poder socar a cara dele.

Se tinha algo que eu tinha pouquíssima tolerância eram abusadores, e aquele cara ainda era um maldito abusador que se sentia no direito de se achar certo.

Um cavalo da raça Campolina era extremamente dócil e gentil.

- Ele merecia uma surra. – Ela diz baixinho enquanto acaricia o macho, um manga-larga marchador preto de nome Sol. A pelagem escura reluzia no sol, e aquele cavalo imponente e altivo, se curvava para receber carinho.

- Aqui Solzinho, você merece uma também. – Minha filha carrega um certo de cenouras e estende uma em direção ao Sol, que come de rua mão enquanto ela segura.

Carol foi criada com os animais daqui. Chegamos quando ela tinha cinco anos, e desde antes ela já gostava de visitar, tocar e ajudar com eles.

Depois de grande já queria cada vez mais participar e eu adorava esses momentos que compartilhávamos juntos.

Era um momento de troca e de amor.

- Vocês cuidam de todos os bichos sozinhos? — Ela pergunta com curiosidade enquanto vai agora a acarinhar a crina do Veloz.

— Eu e meu tio conseguimos monitorar tudo porque são poucos os animais, mas se expandirmos, provavelmente contrataremos mais gente. Temos uma parceria também com o pet shop local. Eles especializados em todos os animais e isso ajuda todas as fazendas da região. E é claro, temos ajuda também da nossa estagiária número um! — Digo ao falar da minha filha. Sorrindo enquanto vejo ela arrumando o feno espalhado.

Eu que iria limpar os excrementos porque precisava que estivesse em contato direto com os cavalos e querendo ou não, alguns podiam ser arredios.

— Pelo o que posso ver só daqui, sei que vocês dão conta tudo de tudo muito bem.

Ela sorri de novo e por um segundo volto a ficar meio perdido. Como o sorriso de alguém podia ser tão bonito?

E percebo que provavelmente fui relapso demais notando o sorriso dela porque logo minha filha, ou melhor dizendo, minha casamenteira mirim, soltou.

— Quer andar de cavalo, Lia?

_____________________________________________

VOTEM! COMENTEM!

NOSSA SEGUNDA CHANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora