CAPÍTULO 11

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TOMÁS

Por mais que eu fosse uma pessoa reclusa, não podia continuar ignorando sempre a Cecília, porque sei que minha filha expontânea adora ela.

Relutei porque não quero dar esperanças nenhuma para a minha filha cupido, mas o que fazer nessa situação? Não queria ter que sentar e ter uma conversa com a minha filha sobre limites e relacionamentos.

Talvez a minha tia tivesse.

Pensando melhor, talvez tudo isso seja coisa da minha tia.

E cheguei a toda essa conclusão depois das compras no mercado.

Talvez a Cecília não seja uma má pessoa e a verdade é que nem a conheço direito. Mas conheço a minha tia cheia de maquinações e ideias.

Droga, precisava de uma bebida.

Como já ia encontrar com elas mesmo no bar do Gil, segui para lá pensando em tomar apenas um chop, isso ia me relaxar de pensar em todo esse estresse.

— Problemas? – Meu amigo pergunta assim que me vê.

Gil e eu éramos amigos desde pequenos. Gilberto ou Gil, era da minha altura, careca, negro, um sorriso brincalhão nos lábios e uma sagacidade que o ajudava a administrar o bar.
Brincávamos horrores no sítio dos meus tios ou na casa dele na cidade. Quando eu sai para estudar em outra cidade e depois acabar ficando, mesmo assim continuamos em contato.

Ele foi meu padrinho de casamento e é padrinho da Cacau. Estava comigo nos piores e melhores momentos da minha vida.

Então nos líamos como um livro.

Sento em um dos bancos de frente para a bancada do bar.

— É minha cara normal.

— Verdade, esqueci que a sua cara de bunda é algo fixo em você. — Ele brinca antes de estender uma garrafa de cerveja.

Bufo para ele antes de tomar um gole.

— Cadê minha afilhada? Saudades dela me pentelhando por aqui.

Por um momento penso em mentir porque sei que quando soltar que eu estivesse próximo de qualquer mulher, ele vai amolar a minha vida, porém eu lembro que havia marcado com elas aqui de qualquer jeito, então não tinha o que fazer, tinha que ser honesto.

— Ela saiu com uma hóspede da minha tia. Foram passear e depois vão me encontrar aqui.

Gil para com o que estava fazendo e apoia as duas mãos no balcão para me olhar.

— Uma hóspede hein? Ela é bonita?

Penso por um momento na Cecília. Alta, uma pele que reluzente que parecia extremamente macia, os cachos que emolduravam o rosto dela que sempre pareciam revoltos, o sorriso sem graça dela ou o jeito que ela ficava irritada...

— Ela é ok.

Ele abre um sorriso sacana.

— Então ela é gostosa, não é? Sabia que essa cara de bunda tinha um motivo.

— Você e suas ideias geniosas. O que te faz pensar isso? Na verdade, nem me fala porque sei que é alguma besteira sem tamanho.

Ele se afasta para abrir para ele mesmo uma garrafada cerveja e toma um gole antes de apoiá-la no balcão.

— Já estava na hora.

Fico tenso por um segundo antes de olhá-lo nos olhos sério.

— Não quero falar disso.

Ele me olha por um tempo antes de balança a cabeça discordando.

— Isso não é saudável e você sabe. Não quer ouvir agora? Tudo bem, não vou me estressar fazendo você enxergar que está parando a sua vida. Não vou falar de novo de como a vida segue e que existem segundos amores depois dos primeiros. Não vou esfregar na sua cara a necessidade de você acordar enquanto é tempo. Só vou ficar calado e beber minha cerveja enquanto falamos amenidades.

Olho para ele mais um pouco antes de abaixar e cabeça e balançá-la cansado.

Não queria falar disso. Não queria saber disso.

Então só ia enfiar tudo isso em uma caixa dentro da minha cabeça e seguir em frente.

Cecília nada mais era que uma mulher bonita, e era saudável e normal isso acontecer, mas não significava que iria atrás disso.

O tempo segue enquanto conversamos sobre outras besteiras e mais alguns clientes chegam, fazendo com que Gil os atenda ou encaminhe os pedidos das garçonetes para o cozinheiro.

Pouco tempo depois, a porta abre e eu ouço um sonoro papai.

— Se divertiu? – Pergunto ao botar o sorriso da minha filha e sua aparência. Parecia que ela tinha feito algo no cabelo, estava mais brilhoso. Tinha também um pouco de brilho na sua boca e ela tinha uma sacola no braço.

— Muito! A senhorita Lia me levou ao salão, fizemos hidratação, pintamos a unhas, olha! – Ela levanta as mãos para me mostrar as unhas pintadas de roxo. — E depois fizemos algumas compras. Eu tenho um vestido novo, um tênis novo e uma blusa nova bem bonita.

Ela falava tudo sorrindo e eu percebo como era bom para ela ter uma presença feminina na vida. Ter minha tia era bom, mas minha tia era quase uma avó para ela, e mesmo que tia Verona tenha a alma eterna de uma jovem de vinte e cinco anos, minha filha precisava de mais coisas.

Coisas que eu não podia suprir.

Perceber isso mais nitidamente apertou meu coração e me deixou irritado, sem entender direito ou processar isso melhor sem procurar culpados.

O cheiro dela se aproxima e volto a ficar tenso.

Cecília também tinha feito a tal hidratação no cabelo e tinha mais sacolas com ela. Me olhava com um sorriso tímido nos lábios e eu apenas aceno, incerto e irritado.

— Quer dizer que essa linda mocinha vem para o meu bar e não me cumprimenta mais? O que eu fiz para minha afilhada me abandonar assim? – Meu amigo volta para nós fazendo um drama costumeiro dele.

Cacau grita de alegria.

— Tio Gil! – Ela grita ao subir no banco e atravessar o balcão para abraçá-lo. Ele pega ela no colo com facilidade e ri junto com ela. — Que saudades!

Sorrio para os dois.

— Não pareceu muito isso, mas vou perdoar só porque você está parecendo uma atriz de cinema.

Minha filha gargalha.

— A senhorita Lia diz a mesma coisa. Que eu também parecia uma pintura de tão linda. Mas eu acho que ela está mais bonita que eu.

— É mesmo? — Meu amigo arqueia uma sobrancelha para ela antes de me olhar e depois olhar para o lado.

Para a Cecília.

Ele arregala os olhos e me olha de volta antes de olhá-la novamente.

— Você é a Cecília? A nova amiga da minha afilhada?

— Sou sim, e você é o famoso tio Gil.

Ambos sorriram um para o outro e eu não gostei.

Não gostei nem um pouco.

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