TOMÁS
Hoje era um dia pelo qual eu vinha me preparando mentalmente nos últimos dias.
O dia da festa.
Quando minha mulher morreu, levou um tempo até que conseguisse voltar a fazer as coisas. Cuidar da minha filha foi meu foco total até que meus tios interviram e Gil também.
Não posso dizer que me tornei uma pessoa festeira ou social, mas fui a uma ou duas festas, fiquei menos de uma hora e comecei a rever antigas pessoas pela cidade e falar. Sabia que era importante até mesmo para minha filha ver que seu pai não era nenhum esquisitão, e que tínhamos uma boa comunidade de pessoas pra contar em todos os momentos.
Não saía muito porque não queria que ninguém confundisse as coisas ou pensassem que estava a procura de alguém. Mas tentava ser amigável.
Agora estava testando todos os meus limites ao ir nessa festa de hoje. Tentei colocar na minha mente que não tinha nada diferente nisso, que era mais uma sexta em que beberia com uns amigos antes de voltar para casa...
Mas não seria tão fácil assim.
E se ela conhecesse alguém? Se alguém se interessasse por ela?
A verdade é que eu não podia fazer nada se isso acontecesse. E não entendia exatamente o motivo disso me incomodar tanto.
Eu não tenho nada a ver com a vida dela.
Cecília me revirava de uma maneira que não entendia e não gostava. Minha vida era boa do jeito que era e ninguém melhor do que eu mesmo para saber o que realmente precisava.
Convicto disso, suspiro uma última vez no carro antes de esperar por ela.
De longe a vi caminhando até mim e foi como se tivesse tomado um chute. Ela era bonita quando não usava nada, mas quando se arrumava, mesmo que minimamente, sentia como se tivesse levado um soco na cara de tão afetado.
Não precisava dessa merda.
Tracei um plano na mente que depois de deixá-la lá, inventaria alguma dor de cabeça e deixaria que voltasse com o Charles. Ele e o esposo haviam ido mais cedo para ajudar na arrumação e aproveitaram pela levar as tortas que minha tia havia feito para a festa.
Respirei fundo e abri a porta da caminhonete para ela antes de seguir para o meu lado.
— Boa noite, Tomás. – Ela disse depois que entrou e senti o cheiro do seu perfume adocicado impregnar cada parte do carro.
— Boa noite. – Respondi mesmo não querendo muito. Quanto mais falava, mais mexido ficava com ela e com essa situação toda. A melhor coisa era chegarmos logo a festa.
Espero ela colocar o cinto e ligo o carro dando partida em direção a cidade, minha mente indo a milhão por hora.
Talvez por estar com a mente cheia com toda essa história e os sentimentos ameaçando a me sufocarem lentamente, não percebi que estávamos na cidade mais rápido do que imaginava.
Ambos estávamos calados enquanto me aproximava do bar do Gil, mas sabia que ela não tinha culpa da minha rabugice, mesmo sendo a causa de grande parte dela.
— Pode ficar despreocupada com qualquer coisa porque o pessoal da cidade é gentil. Sempre tem uns turistas misturados lá do hotel, mas em geral, nunca tivemos nenhum problema. Você vai poder curtir despreocupada.
Cecília ouve minhas palavras atentamente antes de relaxar. Nem percebi que estava tensa até ver com os meus olhos ela soltar um suspiro de alívio.
— Isso é bom. Nunca fui a das mais sociáveis ou festeira, então fiquei com medo disso.
— Também nunca fui. Me fazia presente sempre que Gil enchia muito o meu saco e era isso. Foi assim que conheci minha esposa, ela era a alma de qualquer festa.– Falo antes de olhar para o volante pensando em anos atrás.
Uma festa qualquer. Luísa ali sendo a alma da festa super extrovertida, animada, dançando e atraindo a atenção de todos.
Mas o mais incrível foi que a atenção dela estava em mim enquanto a minha estava na dela desde o minuto que meus olhos se chocaram com sua beleza. Daquela noite em diante nunca mais nos desgrudamos.
Ouço uma risada baixa da Cecília antes de voltar a olhá-la.
— Conhecendo a Cacau imagino bem isso, imagino que seja que nem a mãe até em festas pequenas. Cacau tem mais confiança em seu dedo mindinho do que eu tinha até meus vinte anos.
Sorrio com isso. Todo dia, desde que ela havia nascido, eu falava para a Carol o quanto ela era linda, que seus cachos eram uma coroa que enfeitavam seu rosto, que eu cérebro era seu maior músculo e seu coração sua maior arma.
Era sempre bom ouvir de qualquer um, qualquer hora que fosse, que estava fazendo um bom trabalho como pai, já que eu apenas podia tentar e torcer para que tudo desse certo no final.
— Elas são muito parecidas e isso me enche de orgulho.– Sorrio também de lado.
— Ela também tem muito de você. – Cecília diz de repente, como se estivesse distraída e arregala os olhos percebendo o que disse, e acaba desviando o olhar.
Franzo o cenho.
— Tem?
Ela respira fundo antes de me encarar e continuar.
— Os olhos, o jeito meio mandão, o cuidado com cada canto daquela fazenda... até mesmo o jeito que ela faz algumas caretas lembram as suas. Sua filha é uma menina que herdou as melhores coisas dos pais.
Engulo em seco com aquilo.
Foi estranha a sensação de queimação se espalhando por todo o meu peito com as palavras dela.
Minha filha era a herança que eu e Luísa deixamos para o mundo, e ver outra pessoa falando dela com esse carinho, quase... maternal, mexia comigo.
Ainda mais por ser ela.
A mulher que eu não conseguia tirar da cabeça por mais que tentasse, da mulher que tinha o perfume em cada canto do meu carro e me encarava com olhos bonitos que me chamavam como um canto da serpente.
Seus lábios pareciam mais inchados, sua respiração acelerada quase como a minha.
Corto o magnetismo do momento ao desviar os olhos e desligar o carro, antes de abrir a porta.
— Vamos, já devem estar esperando a gente. – E desço do carro antes de cometer alguma burrice.
Alguma burrice irreversível.
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NOSSA SEGUNDA CHANCE
RomanceSINOPSE: Cecília precisava de um recomeço. Acabou de separar e ver ruir um relacionamento de anos como se fosse nada. Logo, ela questiona sentimentos, pensamentos e até a si própria. E um momento de epifania, ela junta suas coisas e parte em uma jor...