CAPÍTULO 29

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CECÍLIA

Comecei a me arrumar animada com a noite de hoje. Iríamos para o bar curtir uma noite como um casal. Bem diferente do que da última vez e dessa vez estava mais feliz.

Sei que não posso mensurar minha felicidade com base em um relacionamento e não iria, mas caramba como era bom me sentir assim.

Como era bom me sentir desejada, querida e uma felicidade plena que inundava cada canto do meu ser.

Tinha modelado meus cachos, escolhido meu vestido verde escuro de alças que era colado ao meu corpo e tinha um decote generoso, o que me ajudava já que eu tinha bem pouco nessa região. O vestido ia até meus joelhos.

Resolvi ir com tudo essa noite, então passei meu batom vinho e pensei em botar minha bota. Já tinha se passado um tempo e me sentia melhor ao andar, mas não queria contrariar as leis da física muito, então decidi por minhas sandálias rasteiras de tiras. Não apertavam meu pé e conseguia andar numa boa com elas.

Os remédios, os cuidados, e a pasta duvidosa que dona Verona me deu, me ajudaram muito. Sem contar que Tomás se certificava o tempo todo de saber como eu estava.

Só tinha passado uns dez dias, mas nunca fui tão feliz.

Na verdade, desde que pisei aqui, foi como se um peso tivesse saído de mim. Aquela Cecília do Rio, a Cecília atribulada, cansada, ignorada, sem tempo, não amada o suficiente e julgada tivesse sido apagada e agora tivesse espaço só para a existência da Cecília. Essa que resolveu resetar tudo e ir fundo nessa experiência louca que estava sendo a melhor da vida dela.

Levanto para me olhar no espelho de corpo e sorrio com a imagem que vejo, tinha reencontrado aquela Cecília que lutava por si de todas as formas.

Uma batida na porta me tira dos meus devaneios e me viro para encontrar o Tomás já abrindo-a e me brindando com o sorriso maravilhoso dele.

Ele estava bem também. Uma blusa preta de manga longa estavas dobrada até a metade, ela era meio colada, então deixava seu corpo em forma bem torneado. A calça jeans escura parecia nova também.

Até seu cabelo estava arrumado.

Um frio na minha barriga apareceu com a percepção de que era nosso primeiro encontro. E ambos já estávamos dando o nosso melhor para ele.

— Você está... nossa, eu não tenho palavras. — Ele assobia baixinho e eu rio. — Você está incrível, Cecília. Linda nem começa a descrever você.

Pude sentir que estava corando diante do olhar embasbacado dele. Era isso que ele fazia comigo, me fazia parecer uma adolescente boba quando na verdade já era uma mulher adulta.

Mas era isso que uma nova paixão fazia, não é? Ela te revirava do avesso e fazia com que você se sentisse uma jovem tendo seu primeiro amor. Acho que não importa em que estágio da vida estivesse, toda vez que o assunto era paixão, a irracionalidade surgia de forma natural.

— Você também está incrível.

Sorrimos um para o outro antes que eu pegasse minha bolsa de mão e fosse em direção a mão que ele estendia para mim.

**

— Ah! Parece que temos novidades. – Gil grita ao nos ver de mãos dadas.

Ele estava atrás do bar, limpando e secando copos quando nos viu entrando. O bar hoje estava um pouco cheio, pessoas sentadas rindo nas mesas ou no balcão e garçonetes passando pra lá e pra cá.

Tomás apertou minha mão depois da fala do amigo dele.

— Parece que sim. – Tomás diz com naturalidade e me puxa para frente, colocando os braços a minha volta. — Então, é melhor você não ter nenhuma brincadeirinha.

Gil nos encara com falsa modéstia.

— Eu? Brincadeirinha? Que isso, meu amigo! Você sabe que nunca faria isso com você.

Tomás bufa no meu pescoço e eu rio baixinho.

— Vou fingir que acredito. Vou realmente acreditar.

— Bem, vamos ver o que a nossa noite trás então. Mas me digam, o que vão querer?

Tomás pede uma cerveja e eu uma caipirinha. Estava com saudade do tempo que Lari e eu saiamos para beber, então pedi em sua homenagem.

Gil pede que uma das garçonetes, Maria, levasse a gente até uma das mesas que ficavam na janela. A nossa ficava mais ao fundo e tinha uma placa escrita "reservada".

Me viro para Tomás.

— Você realmente planejou tudo, não foi?

— Ainda tenho muito o que me redimir com você, esse momento é só um de tantos que ainda vou compensar você do meu comportamento um tanto errático.

Beijo sua bochecha em agradecimento.

— Obrigada.

Sei que podia dizer que não precisava, mas a verdade era que precisava sim. Toda mulher precisava ser mimada e se sentir querida. E bem, que mulher não gosta de um gesto romântico?

Nos sentamos e Maria estende o cardápio. Pensei que o bar do Gil era mais de petiscos e bebida, mas me surpreendi ao ver que tinha pratos também.

— Já sabem o que vão querer ou precisam de um minuto? – Maria nos pergunta com um sorriso no rosto e o bloco de anotações na mão. Ela tinha o cabelo loiro preso em um coque e usava a blusa com a logo do bar e uma calça jeans.

— Vou querer as costelas com molho barbecue e as batatas recheadas com quatro queijos e bacon. – Tomás decide sem olhar muito e entrega o cardápio de volta para Maria. — E você? Se quiser pensar um pouco não tem problema.

Dou um gole na minha bebida antes de entregar o cardápio para Maria também.

— Vou querer o mesmo porque parece delicioso.

Ambos sorrimos um para o outro.

— Você vai gostar mesmo! Tudo aqui é uma delícia, mas as costelas são o ponto alto com certeza. – Ela diz com um sorriso antes de se despedir com os cardápios debaixo do braço.

Me viro para Tomás que já me olhava com aqueles olhos que pareciam me engolir.

— Vou confiar em você e na opinião da Maria. Mas a verdade é que também só de ouvir você descrevendo a comida, já me deixou faminta.

Ele estende a mão na mesa e eu coloco a minha sob a sua, ganhando um aperto.

— Espero que hoje seja tudo inesquecível, e que eu consiga surpreender você como eu quero.

— Eu tenho certeza que...

— Cecilia? — A voz masculina surpresa me interrompe e viro minha cabeça para encontrar meu ex, de todas as pessoas, ali.

NOSSA SEGUNDA CHANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora