CAPÍTULO 10

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CECÍLIA

Tinha falado a verdade para a pequena Cacau, tudo melhorava depois de um remédio e uma boa noite de sono.

E talvez um gole ou dois de uma taça de vinho.

Depois disso, acordei novinha em folha e pronta para outra. Tomei um banho, botei um vestido de alças com um decote singelo nos seios já que eu não tinha muito e com a saia rodada.

Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo no alto e fiz o baby hair nos cantos, para ajeitar meus fios rebeldes da frente e fiz uma maquiagem leve.

Fui pronta pra enfrentar tudo ao ir em direção a casa principal e ajudar a dona Verona com o café da manhã. Me tornar útil me deixava feliz, e ajudar uma pessoa que estava fazendo tanto por mim com a casa dela, me deixava mais feliz ainda.

Depois de comer bem no café – provavelmente voltaria com uns cinco quilos a mais de tanto que andava comendo aqui –, fui buscar minha bolsa antes de encontrar com a Cacau e o grosseiro do pai dela na caminhonete.

Mesmo sabendo que ele agia todo taciturno a minha volta, queria passear, andar pela cidade e conhecer mais coisas.

Uma das coisas que a minha psicóloga tinha dito quando contei da viagem, era que eu precisava me permitir mais.

Sempre vivi pensando em um caminho só, um caminho estreito cheio de planos e metas a serem marcadas como se fosse uma lista.

E fora dessa lista? Bem, tinha nada.

Nunca fiz loucuras, nunca me aventurei nas saídas ou gerei várias histórias vergonhosas que fosse rir no dia seguinte.

Claro, vivo algumas coisas com a minha melhor amiga, mas eu mesma? Eu começar alguma coisa ou tomar uma atitude louca? Nunca.

"— Vá e aproveite. Viva! Você não precisa enlouquecer e fazer coisas que não representam quem você é, mas se der vontade, faça! Não pense muito. Você pensou demais e enclausurou suas ideias dentro de você e as limitou por tempo demais, Cecília."

Respirando fundo e colocando a bolsa traspassada de cor marrom, vou até eles com um sorriso no rosto.

— Estou pronta! Vamos?

*

A cidade era tudo aquilo que as cidades pequenas eram.

Casas, lojas e bares espalhados pelas ruas. Árvores, praças e gente passeando. Todos parecendo se conhecer enquanto a caminhonete seguia e muitos acenavam para o Tomás e a Cacau.

Gostava disso. Gostava dessa sensação de proteção, de união, de comunidade.

Eu amava meu Rio de Janeiro, minhas praias e meus pontos turísticos belíssimos. Mas a cidade as vezes que parecia um ovo – que todo mundo conhecia todo mundo –, era muito grande e podia te engolir.

Tomás parou o carro no estacionamento de um mercado, e eu abri minha porta atrás para sair. Cacau havia ido na frente com ele.

Quando decidi da viagem, tinha pego um o ônibus que me deixou na cidade e depois me informado na banca sobre um senhor que deixava passageiros lá no sítio e por toda a cidade. Então nem tive muito tempo de observar ao redor.

Agora observava e gostava de tudo.

— E aí, Lia, o que você quer fazer? — Cacau me pergunta com os olhos brilhando.

Dou de ombros.

— Não sei, o que você mais gosta de fazer aqui? Você vai ser a minha guia pela cidade. – Termino com um sorriso ao ver sua animação com a ideia.

— Você não devia ter dito isso, ela adora ser a líder de qualquer coisa. – Tomás diz baixinho enquanto olha para a filha com um brilho nos olhos que me faz sorrir maior.

Era a primeira vez que ele falava comigo de boa vontade ou sem parecer rancoroso.

— Ela merece. Vamos, Cacau, me mostre.

Cacau sorri e faz uma careta pensativa antes de apontar para o mercado.

— Primeiro precisamos comprar umas coisas no mercado. Depois a gente pode ir no shopping, ir na banca do seu Zé, passar pelo bar do tio Gil. Papai diz que o bar do tio Gil não é para crianças, mas de dia as vezes ele me leva lá.

Tomás bufa divertido com a fala da filha e eu também.

— Vocês podem pular o mercadinho, eu posso comprar as coisas lá enquanto as duas andam pelo shopping. Depois nos encontramos no bar do Gil, ok? Te dou duas horas, ouviu senhorita Carolina Santana?

Ela faz posição de sentido antes de rir.

— Pode deixar, capitão.

Ele levanta o olhar brincalhão dela antes de me olhar mais sério.

— Vou confiar em você com ela, Cecília.

Cecília.

De novo esse homem falando meu nome dessa forma.

Com sua voz rouca e grossa.

Não sei o que de fato tinha mudado de um dia para o outro para ele primeiro falar comigo e depois confiar sua filha a minha proteção.

Talvez ele fosse um daqueles homens que odiava shopping e era alérgico a compras.

— Pode deixar, ela está segura comigo.

Ele tira a carteira do bolso de trás e tira uma quantia para me entregar.

— Aqui, se ela quiser alguma coisa.

Não queria testar minha sorte, e não queria usar o dinheiro dele, afinal, queria a desculpa para mimar um pouco aquela garotinha incrível, então só fiquei quieta e acenei concordando.

— Duas horas no bar do Gil. A Cacau sabe como chegar lá. – Ele volta a olhar para a filha. — No máximo duas horas e meia.

Acenamos para ele que se afasta para o mercado e me viro para a Cacau.

— Dia de garotas? – Pergunto animada.

— Dia de garotas! – Ela grita batendo palmas.

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