CAPÍTULO 19

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CECÍLIA

Tentei muito não deixar o beijo com o Tomás me irritar ou atrapalhar minha noite, então botei isso no canto da minha mente e sorri para todos, dancei com o Charles e com o Léo, ri com o Gil e as outras pessoas que conheci ali.

No final, não me arrependi de ter ficado ali e curtido a minha noite.

Voltei rindo horrores no carro com os meninos e quando eu cheguei na minha cabana, tinha um sorriso largo no rosto e o coração cheio.

No dia seguinte rolei na cama ainda sorrindo, mas meu sorriso morreu um pouco lembrar de uma certa parte de ontem.

"— Faça-me você o favor e pare. – Ele pede antes de voltar a passar as duas mãos no cabelo, como se estivesse ansioso.

Olho para ele confusa.

— Parar com o que? Não fiz nada.

É como se agora pudesse finalmente ver todos os sentimentos e emoções naqueles olhos que pareciam tão apagados desde que cheguei.

— Parar de me atormentar. Você não sai da minha cabeça, não sai dos meus pensamentos. Seu cheiro não sai do meu nariz e pelo amor de Deus, por que você tem que ficar tão linda em tudo? – Ele levanta as mãos para o céu como se estivesse tentando entender e apenas o encaro."

Era mais forte do que eu.

As mãos dele. A pegada. O cheiro. Tudo nele me embriagava e me deixava tonta.

Não sabia lidar com o Tomás e sempre que nos aproximávamos era como se fôssemos uma bomba atômica perto de explodir. Ontem foi a primeira explosão e isso quase me consumiu viva.

Aquele beijo...

Eu era uma idiota, mas ficava molhada só de lembrar. Nunca senti aquilo, aquele desejo ardente por alguém que parecia não conseguir se controlar.

E o mais triste que mesmo sem querer, não dava para não comparar o beijo de ontem com todo o meu casamento. Meu casamento que era estável, mas era morno. Quando a paixão acabou e o amor se tornou apenas de amizade? Quando o tesão, o desejo pela pessoa, de tocar, de beijar, de fazer sexo de modo solto e sem ser obrigatório se apagou?

No começo do meu relacionamento com o Felipe, éramos grudados. Fazíamos tudo juntos e havia uma espontaneidade. Ele me surpreendia ou eu o surpreendia. Presentes, ligações, mensagens, beijos quentes ou até algo mais apimentado rolava no começo.

Quando tudo isso morreu?

Uma lágrima desce pelo meu rosto e eu sento na cama, limpando aquela ingrata antes que mais a sigam.

Agora eu sei que não tinha culpa de nada, mas não tornava menos fácil saber que dê certo modo, eu tinha um pouco da culpa assim como o Felipe.

Ambos fomos os culpados por não ver antes de ser tarde demais. Podíamos ter acabado numa boa, podíamos ter tentado alternativas ou uma conversa honesta... mas não.

Foi um término frio, grosseiro e que me marcou de uma forma como se um machucado tivesse sido aberto no meu peito.

Mas ele iria cicatrizar e aprenderia a viver com aquilo. Não posso e não iria deixar um relacionamento ou um homem ditar meu caminho pela vida.

Não vou fazer isso com o Felipe e não deixaria o Tomás me fazer seguir pelo mesmo caminho.

Depois de decidir isso, levanto da cama e vou para o meu banho motivada.

Gostava de tomar banho porque parecia que a água lavava toda energia ruim, todos os problemas e preocupações.

Estava tão em paz quando sai do banho e comecei a me vestir, que peguei meu celular e botei uma das minhas músicas preferidas, bem que se quis, na voz da Marisa Monte.

"Bem que se quis
Depois de tudo
Ainda ser feliz
Mas já não há
Caminhos pra voltar

E o que que a vida fez
Da nossa vida?
O que é que a gente
Não faz por amor?"

Comprei roupas novas para vir pra cá porque pensei que era uma oportunidade de me permitir mais. Explorar ainda mais o meu gosto, algo que nunca havia dado muita atenção anteriormente porque só vivia a vida sem realmente vivê-la.

E que vida era essa?

Botei meu vestido amarelo de alças finas enquanto continuava a rodopiar com a voz melodiosa de Marisa.

"Mas tanto faz
Já me esqueci
De te esquecer porque
O teu desejo
É meu melhor prazer
E o meu destino
É querer sempre mais
A minha estrada corre
Pro seu mar

Agora vem pra perto, vem
Vem depressa, vem sem fim
Dentro de mim
Que eu quero sentir
O teu corpo pesando
Sobre o meu
Vem, meu amor, vem pra mim
Me abraça devagar
Me beija e me faz esquecer"

Rodopiava feliz penteando meu cabelo com a música ainda rolando quando dou de cara com a Cacau parada na janela do meu quarto.

Tomo um susto e faço um sinal para ir para a porta e a abro para a pequena que entra com a melhor amiga.

— O que é isso, senhorita Cecília? Que música é essa? – Maya pergunta para mim com seus olhinhos curiosos. Ela era a mistura perfeita dos pais e nem tinha vindo deles. Assim como a Cacau, tinha a pele negra em um tom quase caramelo lindo.

Olho entre as duas com um sorriso.

— É uma das minhas músicas preferidas, é de uma cantora chamada Marisa Monte.

Elas fazem uma careta meio confusas antes da Maya responder.

— Meus pais gostam dela, já ouvi bastante lá em casa.

Cacau continua com o semblante meio confuso.

— Acho que não conheço, mas talvez papai conheça.

Dou de ombros não querendo pensar no pai dela.

— Provavelmente sim.

— Mas então meninas, o que posso fazer por vocês?

As pequenas se entreolham antes de me darem sorrisos marotos.

— Queremos sua ajuda em uma aventura!

Olhando os rostos das duas pensei que essa aventura tinha um cheiro de problema, mas mesmo assim balancei a cabeça concordando.

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