CAPÍTULO 13

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CECÍLIA

Os dias se passaram tranquilamente.

Passava eles lendo, descansando ou ajudando a dona Verona em algo.

Até conheci a pequena Maya e o companheiro do Charles, o Léo.

Léo era um homem negro lindo, tímido, com um sorriso retraído e olhos apaixonados pro marido.

Maya é uma menina arteira de baixa visão da pele branca meio bronzeada pelo sol e do cabelo loiro escuro. Ela usava um óculos de lente bem grossa que a ajudava a enxergar com exatidão as coisas. Cacau na mesma hora disse que sempre seria os olhos da amiga, o que me fez querer esmagar aquela criança fofa.

Por ser professora um bom tempo, eu tive em primeira mão alguns casos de crianças com os mais variados problemas, déficits ou deficiências.

Me deixava feliz ver que Charles e Léo eram pais conscientes e adaptavam tudo da melhor maneira para que a Maya se sentisse inclusa em qualquer atividade. Falei para eles minha profissão e disse que ajudaria no que fosse preciso. Me olharam um poucos emocionados, mas ser professora era isso. Era um compromisso com cada criança em seu desenvolvimento pleno.

E assim meus dias foram passando. Alegres, calmos e pensativos.

Aproveitei para pensar em mim como pessoa e como mulher.

Me anulei demais em prol de outro homem, me anulei demais em prol de uma ideia de mim mesma que nem sabia se era a certa pra mim, só imaginava que era a certa a ser seguida.

Adolescência mais ou menos, namorar focada, noivar pensando na construção da família, casar e concretizar tudo.

Seguir e esperar demais me levou a nada além da decepção.

Não vou julgar jamais quem escolhe o mesmo caminho porque as coisas dão certo para cada um a sua maneira. Errado é a gente achar que a mesma receita de bolo serve para todos os tipos. A vida é uma, mas a maneira de viver são várias.

Recomeçar hoje com mais de trinta não significa que eu seja uma fracassada. Significa que eu fiz de tudo e agora posso tentar de novo. Significa uma chance de fazer diferente, de ser diferente e melhor com tudo aquilo que já fiz, como bagagem de aprendizado.

E entender isso não foi fácil. Quantas vezes não me questionei e ainda questiono? Quantas vezes pego uma roupa ou faço algo pensando se é ou não adequado?

Estou tentando me desconstruir dos planos e metas e viver cada dia devagar. Respirando, aproveitando e observando.

Aproveitei também para tirar fotos lindas na natureza desse lugar maravilhoso. Postava sorrindo, admirando que meus olhos e meu sorriso já pareciam mais relaxados de estar aqui.

E assim os dias passaram até ser a próxima sexta.

O dia da festa.

O dia da festa que eu iria com o Tomás.

Tomás que me evitava, mesmo agora dando curtos acenos reconhecendo minha presença.

Tomás que eu tentei não pensar, mas era difícil ignorar aquele homem chucro que era extremamente lindo. Por que os homens lindos costumam ser uns homens das cavernas? Era injusto.

Era injusto que sua pele bronzeada parecia perfeita. era injusto com o cabelo desarrumado dele me dava vontade de passar a mão e puxar para mim. Era injusto que aqueles olhos fizessem coisas engraçadas com a minha barriga de tão nervosa que ficava.

E por tantos outros motivos pelos quais tudo isso era injusto, que decidi ser justa comigo mesma e não pensar nele.

Bem, tentar né.

Respirei fundo enquanto olhava minhas opções de roupa.

Tinha evitado falar para minha melhor amiga com quem eu ia a festa pra não evitar mais ataques de esperança dela, então só comentei a festa por alto e que estava animada.

Ela me ajudou a montar duas opções: casual ou sexy. A primeira consistia na minha calça jeans preta de cintura alta que era colada ao corpo e tinha rasgos na parte da frente com uma blusa de flanela vermelha e meu all star vermelho.

A opção sexy consistia no meu vestido preto midi até o joelho com uma fenda lateral, minhas botas e uma jaqueta. O vestido era bem colado e tinha um decote quadrado que valorizava meu pequeno busto e me deixava linda.

Agora olhando as duas opções, escolho aquilo que parece ser uma aposta segura de não parecer nada além do que era. Iria com casual para não parecer que iria me jogar em alguém ou tinha intenção disso.

Ok, talvez eu tivesse a intenção de atrair uns olhares.

Mas nada muito na cara no começo.

Boto a minha roupa, dando um nó na blusa de flanela, dobrando duas mangas até os cotovelos e calço os tênis antes de me olhar no espelho gostando da roupa como um todo.

Solto meus cabelos que lavei mais cedo e sequei com a ajuda de um difusor e coloco ele de lado.

Termino com a minha maquiagem bem simples, corretivo, base, pó, rímel, blush de leve, um pouco de iluminador nas maçãs do rosto e um batom vermelho nos lábios. Deixei a pele bem simples já que o batom chamaria a atenção para um dos detalhes que mais gostava de mim: minha boca.

Uma das técnicas que aprendi lendo um livro de autoajuda anos atrás, era que devia me encarar no espelho e reconhecer cada coisa que gostava em mim mesma. Tinha que encarar esses pontos com amor, uni-los devagar até que esse "gostar" se espalhasse por mim toda, incluindo as partes que não gostava muito.

Minha boca era uma delas, minha altura outra e a maciez da minha pele mais uma.

Todo dia me encarava no espelho com menos dor e mais amor. Todo dia conhecia novas coisas para gostar nesse corpo que é tão meu, mas que só foi conhecer agora com mais idade.

Quando termino tudo, dou uma volta antes de pegar meu celular, carteira e a chave da cabana.

Saio de lá indo em direção a casa principal onde havíamos combinado de nos encontrar mais cedo.

Graças a Deus que Charles e Léo iriam também. Eles só foram mais cedo pra ajudar o Gil e depois voltariam com a gente.

Quando chego na casa principal e noto Tomás vestido como sempre – e ainda assim completamente tentador –, penso que talvez não fosse bom beber hoje a noite.

E se eu bebendo acabo atacando esse homem? É um risco que não tinha certeza se queria correr.

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