CAPÍTULO 9

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TOMÁS

O dia seguinte veio mais rápido do que o esperado e me vi pensando no dia anterior e no que de fato o dia de hoje traria.

Esperava que a Cecília estivesse bem, mas não queria que ela fosse conosco.

Sabia que também precisava dar uma palavrinha com a minha filha sobre seus hábitos de cupido.

Mas... como conversar com uma criança pequena sobre o motivo dela querer tanto alguém para mim?

Será que ela esqueceu da mãe tão rápido assim?

Meu peito doeu um pouco ao pensar que a minha Cacau já tivesse esquecido da Luísa.

Sei que ela só tinha quatro para cinco anos na época, entretanto fazia questão de sempre falar com ela sobre a mãe. Quem a mãe era, o que gostava, o que fazia, e como ambas eram tão parecidas que meu coração esquentava toda vez que via o sorriso da minha filha.

Uma cópia mirim da mãe e a minha melhor versão.

Como converso com ela sobre isso sem sentir que parte minha vai acabar machucando-a também?

E ela tem feito algo grave? Não.

A verdade era que eu queria evitar qualquer conversa constrangedora. Não sabia o que falar e nem como falar, então resolvi adiar tudo isso.

Depois de decidir isso, levanto e tomo meu banho para me arrumar para o dia.

Passo no quarto da minha pequena e vejo ela ali, pela porta entreaberta, tentando domar os cabelos cacheados que estavam em todas as direções.

Ela já estava vestida com um dos milhares macacões jeans que ela tem. Dessa vez era um jeans escuro e com uma blusa rosa por baixo.

Bato no batente da porta duas vezes.

— Posso entrar, meu amor?

Ela solta o elástico no chão antes de grunhir irritada em minha direção.

— Ai papai, não consigo arrumar esse cabelo. Quero fazer um coque ou um rabo de cavalo decente, mas ele não me obedece!

Rio baixinho.

— Todos os cabelos são complicados. E as vezes eles obedecem a própria mente que tem. Você quer que eu ajude no seu?

Ela me olha com os olhos suplicantes e pega o elástico antes de estendê-lo para mim.

— Por favor.

Vou em direção a bancada dela e arrasto o banco até a cama de solteira encostada na parede.

Sento na cama e coloco o banco na minha frente, entre as minhas pernas.

— Me trás o elástico, mas também o creme, o pente e o borrifador.

Podia não saber lidar com tantas coisas em relação a minha filha e talvez não fosse saber lidar com tantas outras coisas que viriam pela frente, mas sempre corri atrás para tentar ajudar.

Ser pai de uma menina já é um desafio, agora ser pai de uma menina negra, é lembrá-la todos os dias a princesa que ela é. O mundo que vivemos já é preconceituoso e racista o suficiente, e meu dever é ajudá-la a construir a autoconfiança que ela precisa para ser quem ela é sem medo.

Não sei o que ela vai decidir do futuro dela, não sei que carreira – já que ela muda de ideia todas as semanas –, mas quero que ela tenha o conhecimento de poder escolher. De poder ser, e de que o mundo está aos pés dela para ganhar.

Cacau me trás as coisas e senta de costas para mim.

Começo a borrifar a água no seu cabelo, passo um pouco de creme na mão e espalho pelo comprimento do seu cabelo uniformemente antes de pentear.

Puxo seu cabelo todo delicadamente para trás em um rabo de cavalo no alto da cabeça dela e arrumo seus cachos.

— Melhor agora?

Minha pequena levanta e olha no espelho da penteadeira dela, abrindo um sorriso gigante antes de se virar para mim.

— Amei, papai! Vou pedir pra você me ajudar mais vezes.

Sorrio ao levantar e botar o banco de volta na penteadeira e ir para a porta.

— Sempre que precisar, querida, mas agora precisamos descer e ajuda seus avós.

Ela acena para mim antes de pegar os sapatos no canto do quarto e calçar os tênis, e logo após descemos as escadas indo em direção a cozinha.

Vemos minha tia e a Cecília na cozinha que nem ontem, terminando de fazer as coisas para o café.

— Bom dia, meus queridos! — Minha tia nós saúda enquanto entramos e eu apenas aceno com a cabeça para ela e a nossa hóspede que parece estar bem melhor.

Cecília estava com um vestido hoje. Era verde escuro de alças e solto no corpo, com a saia rodada. E calçava all stars de couro da cor branca nos pés.

Ela também estava com um rabo de cavalo no alto da cabeça.

— Lia! Estamos com o mesmo penteado! Papai que fez o meu.

Ela sorri para a minha filha depois de tomar um gole da sua xícara, e fico inquieto com o seu sorriso porque me faz sentir engraçado.

Quanto tempo eu não tenho um contato com uma mulher? Não pode ser normal essa reação toda a essa mulher que está aqui e não tem nem uma semana direito.

— Está belíssima, Cacau. Ainda mais bonita.

— Você tá melhor? Vai conseguir ir na cidade com a gente hoje?

— Vou sim, acordei bem melhor. Nada que um pouco de remédio e uma noite bem dormida não resolvam.

— Vovó também já me disse isso.

— Só pode ser verdade então. – Minha tia diz antes de caminhar para nós. — Vamos todos para a sala porque o café está pronto. Tom, pegue a bandeja com os ovos, bacon e o bolo.

Continuo calado durante todo o tempo, pensando que agora teria que ir na cidade com aquela mulher que cheirava muito bem, superando até mesmo o cheiro da comida deliciosa da minha tia.

Isso não podia ser bom.

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