CAPÍTULO 32

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Estamos em reta final de mais um livro ☺️

CECÍLIA

Me arrumei de forma mais simples possível. Já estava com o pé também melhor para andar por aí.

Procurei o Tomás por todo o sítio, mas dona Verônica acabou me encontrando e disse que ele saiu com a Cacau para a cidade, e logo voltariam.

Tinha até o número dele e pensei em deixar uma mensagem, mas preferi explicar depois tudo. Acho que certas coisas eram melhores serem explicadas pessoalmente.

Me despedi de dona Verona e resolvi pedir uma carona pros meninos. Charles e Léo nos últimos dias estavam sumidos, tinham pego a Maya e ido passear de carro por aí, mas voltaram ontem.

Bato na porta e é Charles que me atende com um sorriso no rosto. Ouço o barulho atrás das risadas do Léo e da Maya.

— Vizinha! Como você tá? A gente não se vê a um tempão! Temos que organizar um queijos e vinhos aqui, hein!

Abro um sorriso.

— Com certeza! Se não estiverem ocupados, por mim pode ser hoje mesmo ou amanhã.

— Então está marcado! Mas me diz, você não parece que veio só para isso, o que houve?

Agora a vergonha vem um pouco de pedir um favor.

— Desculpa incomodar vocês, eu realmente sinto. Mas é que preciso de uma ajuda para ir para cidade e o Tomás não está e seu João está ocupado com a fazenda. Não queria incomodar vocês, mas...

Ele acena para mim desdenhando.

— Relaxa, gata. Eu te levo rapidinho e é ótimo, assim fico longe um pouco de assistir Encanto pela vigésima vez. Juro que se tiver que ver o Léo com um lençol cantando "não falamos do Bruno", eu me enforco com esse lençol. – Ele revira os olhos e pede uns minutos para se despedir.

Charles volta cinco minutos depois com as chaves nas mãos. Caminhamos animados até o carro.

— Olha, você me salvou, hein! Amo ser pai. A Maya é a luz da minha vida, mas existe limite pra tudo. E as vezes preciso de distância das constantes reprises de Encanto ou das aventuras da Lady Bug. Sério, é tudo tão óbvio nesse desenho que me irrita que esse casal nunca fica junto! Ai caramba, olha o que eu tô falando? Irritado por um desenho infantil. É isso que a paternidade trás. – Ele suspira ao dar partida no carro.

Começo a rir, achando graças

— Faz parte da paternidade e da vida de professora também. Se tem uma coisa que mais aprendi nesses anos, foram as novidades de desenhos e filmes infantis e como eles no final eram aliados fortíssimos na distração das crianças quando eu precisava de um tempo para corrigir deveres de casa ou olhar agendas.

Charles ri.

— Então, você sabe do que estou falando. Mas vamos falar de outra coisa. O que você vai fazer na cidade? Se for no shopping, pode deixar que vou junto. Bater perna vai me fazer bem.

— Quem dera. - suspiro. — Vou encontrar meu ex.

Charles desvia o olhar da direção para me olhar rapidamente com os olhos arregalados.

— Seu ex? Aqui? Sério?

Balanço a cabeça.

— Mais sério do que gostaria. Veio me atazanar e espero que dando a conversa que ele quer, vá embora o quanto antes.

— Hmmm, será que ele te quer de volta?

Faço um barulho de desdém.

— Que fique querendo, porque só quero que ele vá embora. Só quero que fique bem longe de mim e desse paraíso que encontrei como casa.

Charles sorri para mim.

— Aqui é incrível né? Amo nossas férias aqui, mas no momento nosso trabalho ainda é nas grandes cidades. Mas no futuro pensamos em mudar de vez pra cá. E você?

— Eu?

— É, já pensou em mudar de vez pra cá?

Charles me pergunta e eu fico por uns minutos muda.

Se eu pensei?

Acho que todo dia vivi devagar. Todo dia vivi respeitando meu tempo e me auto-analisando. Pela primeira vez, vivi sem planejar.

E logo teria que ir embora. Ou ficar.

Perceber que teria que ir embora daqui e deixar as pessoas que conheci me deixou meio ansiosa. Não queria sair.

Queria viver no meu paraíso particular. Queria continuar brincando e sorrindo com a Cacau. Queria conversar e me sentir acolhida pela dona Verona e o seu marido. Queria os sorrisos do Tomás todos os dias.

— Olha, honestamente não pensei não, mas agora que você está falando... – Suspiro. — Não quero ir embora.

Charles da um sorrisinho provocante.

— Isso tem algo a ver com um certo fazendeiro?

— Talvez, mas tem mais a ver comigo mesma. Tem mais a ver com o fato de que aqui consegui me descobrir, me entender, sabe? As pessoas também ajudaram bastante, mas me vi diferente aqui.

— Ah querida, que bom! Depois de saber da sua história, sei que você merece toda felicidade e paz que precisa. Por isso, xô esse ex-embuste!

Acabo rindo com ele.

— Xô, ex-embuste!

*

Havia marcado com o Felipe em um café no shopping, bem aberto para ele não ter ideias erradas.  Quando cheguei, ele já estava lá, arrumado e com um sorriso ansioso no rosto enquanto me encarava.

— Que bom que aceitou meu convite para conversar, sabia que no final, você viria.

Me sento na mesa e peço apenas uma água com gás, enquanto ele pede um café e um pedaço de bolo.

— Só vim porque sabia que você só iria embora se eu aparecesse. E no final, é isso que você vai fazer, Felipe. Você vai embora.

Ele me olha consternado.

— É isso mesmo que você quer? Não pode ser verdade que você prefere ficar nesse fim de mundo do que a cidade grande. Cercada por caipiras...

— Não vou admitir você chamar meus amigos de caipiras. – Corto sua baboseira logo agora. — Agora me diga logo o motivo de estar aqui para acabarmos com isso.

Ele suspira.

A garçonete trás nossos pedidos e ele toma um gole do café antes de começar.

— Acho que nos precipitamos no divórcio. Acho que... acho que cometemos um erro.

Fico encarando seu rosto enquanto tentado entender tudo o que estava ouvindo.

Ele estava falando sério? Ele não podia estar falando sério.

— Você perdeu a cabeça? Bateu a cabeça? Bebeu?

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