Bora com mais um capítulo?
CECÍLIA
— Sério???? – Minha melhor amiga gritava do outro lado, e tive que afastar o telefone um pouco enquanto segurava um sorriso. Estava fazendo chamada de vídeo no meu quarto.
— Muito sério. — Tento conversar com ela séria, mas não dava. Desde ontem queria sorrir muito, como uma colegial boba de dezoito anos e não uma mulher de quase quarenta. Mas acho que não existe idade para escancarar a felicidade.
— Sabia que faltava pouco para vocês dois bocós caírem em si, mas não sabia que estava tudo tão explosivo assim! Acho que agora quem precisa de férias sou eu! Seu fazendeiro tem um amigo fazendeiro gato?
— Mais uma vez te questiono, como você sabe que ele é gato?
— Porque você já sofreu por um feio, e pra que aha equilíbrio no universo, a gente só sofre por feio uma vez na vida.
A risada escala de mim mais rápido do que pretendia.
— E falando em feio... tenho uma coisa pra te confessar. – Minha amiga me olha com cara de culpada e sei que lá vem alguma cagada me envolvendo.
— O que? Desembucha, Larissa.
Ela suspira e desvia o olhar antes de me olhar novamente.
— Eu posso ou não ter visto o Felipe ontem com uma mulher e posso ou não ter esfregado na cara dele que você seguiu em frente também.
Sinto meus olhos arregalarem ao máximo enquanto ouvia essa maluquice.
— O que você fez? Larissa! – Depois me concentro em outra coisa tão importante quanto. — Ele estava com outra?
A indagação me deixou mais curiosa do que outra coisa e isso me surpreendeu. Esperava sentir mais tristeza ao ouvir que ele já estava por aí. Na verdade, até já esperava, mas sentir nada? Isso me chocou mais.
E saber disso me deixou mais triste do que outra coisa. Como o sentimento morre tão rápido assim? Como anos de casamento se transformam rapidamente em indiferença tão rápido? E isso me faz levanta outra questão: será que realmente era amor? Será que não aproveitei o comodismo da vida a dois para falar que era amor?
Por que se fosse amor mesmo... não deveria estar arrasada mesmo começando a seguir em frente?
— Você está triste por conta daquele canalha? Amiga! Não! Você tem que voltar a xingar e odiar esse ordinário. Está finalmente superando e seguindo em frente desse traste que não soube te dar o devido valor.
Balanço a cabeça.
— Relaxa, amiga. Não é sobre isso que estou chateada. Estou assim porque percebi que isso não me incomoda como deveria, sabe? Se eu não me incomodo mais que meu ex-marido esteja saindo com outras pessoas depois de só algum tempo de divórcio, é porque talvez eu não o amasse, sabe? No começo chorei e fiquei mal achando que era porque eu o amava. Mas amava mesmo? Ou estava triste porque teria que sair da minha situação cômoda e enfrentar o desconhecido?
Minha melhor amiga me encara compreensiva e uma lágrima escorre pelo meu rosto sem que eu perceba.
— É louco isso, sabe? Acho que tenho falar com a minha psicóloga depois de desligar com você. Perceber essas coisas é meio agridoce. É cada vez mais reconhecer e entender meus sentimentos ao mesmo tempo que percebo que passei mais tempo da vida adulta em situações cômodas do que realmente vivendo.
— E o importante é que você reconheceu isso, que entendeu isso. Viver não é fácil amiga, ninguém nasce sabendo de tudo.
— Você está certa.
Ela balança a cabeça.
— Mas chega desse baixo astral, bora voltar pro mais importante, e o pau dele? Apoia esse celular aí em algum canto e mostra com as duas mãos o tamanho. Quero ter certeza absoluta antes de tirar férias no interior e me sujeitar a mosquitos e sinal ruim de graça.
Começo a rir me sentindo mais leve. Que bom que tinha minha melhor amiga. Podia não ter mais meus pais que já eram senhores quando me tiveram, mas tenho minha irmã que não é de sangue mas que vale por mil.
**
A noite chega mais devagar do que eu queria.
Todo mundo me visitou, e as meninas agiram como minhas enfermeiras mesmo eu falando que não precisava. Elas se sentiam culpadas mesmo que falasse cinquenta vezes que não precisava.
Enchi as duas de beijos antes de me despedir das duas depois de trazerem meu jantar. Não consegui ver mais o Tomás porque ele estava ocupado fazendo as coisas na fazenda.
Era bobo, mas já estava com saudade daquele grosseirão.
Tinha tomado banho antes das meninas chegarem e já estava de pijama, com o cabelo enrolado em um coque alto na cabeça e lendo um livro na cama quando batem na porta horas mais tarde.
Meu coração bate mais rápido porque já sabia quem era.
Fecho o livro e deixo na cama, correndo em direção a porta.
Abro e lá está ele. Era engraçado que mesmo de banho tomado, Tomás tinha um cheiro só dele, uma colônia que me enfeitiçava mesmo quando negava que não queria nada com ele.
Ele me dá aquele sorriso bobo de lado antes de me puxar contra o seu corpo e me dar um selinho rápido antes de colar nossas festas.
— Senti sua falta hoje.
Sorrio contra sua pele contra a minha. Não entendia isso, essa necessidade desse homem e a calma que ele me trazia ao mesmo tempo.
— Também. Não está cansado? Entenderia se quisesse descansar...
Ele balança a testa contra a minha antes de se afastar era encarar com seu sorriso aumentando.
— Não mesmo. Nenhum cansaço do mundo me pararia de vir aqui e ficar mais com você. Falei sério ontem, Cecília, não vou lutar mais contra isso, não vou mais lutar contra nós. — Ele levanta uma bolsa térmica pequena na outra mão. — Trouxe até a sobremesa.
Foi o que precisava para puxá-lo para dentro e fechar a porta da cabana.
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NOSSA SEGUNDA CHANCE
RomanceSINOPSE: Cecília precisava de um recomeço. Acabou de separar e ver ruir um relacionamento de anos como se fosse nada. Logo, ela questiona sentimentos, pensamentos e até a si própria. E um momento de epifania, ela junta suas coisas e parte em uma jor...