CAPÍTULO 20

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TOMÁS

Acordei com uma dor de cabeça insuportável.

Abro os olhos devagar, lembrando dos últimos acontecimentos de ontem que passam como um flash na minha frente.

"Só de sentir seu toque, mesmo tão pequeno, me esfrego nela, para que ela sinta tudo o que ela andava fazendo comigo, tudo o que ela vinha me atormentando desde que chegou. Volto a beijá-la como se não precisássemos de ar.

Nos enrolávamos em um como se não fôssemos dois.

Quando deixei uma das minhas mãos livres e pronto para tocar na cintura dela, senti-la."

As memórias voltam para mim aos poucos.

Inquietação. Prazer. Choque. Raiva. Tristeza.

Era isso que tomava conta da minha cabeça em um looping eterno até que eu decidisse finalmente escapar de tudo com um pouco de uísque.

Provavelmente não foi a melhor ideia do mundo isso pro dia seguinte, mas foi o que me fez dormir antes que eu fizesse alguma loucura como procurar a Cecília e tentar explicar...

Tentar explicar o que? Que o beijo tinha sido um erro? Que eu me arrependi? Que era para ela esquecer isso tudo?

Acho que ela já imaginava isso depois que parti sem nem ao menos falar com ela.

Ela não precisava ter raiva de mim porque eu mesmo tinha raiva de mim.

Da minha falta de tato pra essa situação.

Não conseguia deixar de pensar nessa mulher que me deixava completamente louco. Algumas poucas semanas e não tirava seu sorriso da minha cabeça, a forma que ela falava com a minha filha com doçura, o jeito que ela se expressava na natureza como se parecesse em paz.

Do mesmo jeito que me sentia por aqui.

Mas como ir atrás disso sem parecer uma traição a toda a história que já tive? Amava a minha esposa, vivemos sonhos e realizamos vários deles. Como começar de novo pensando que estou triando tudo que já tive?

Parecia uma questão sem resposta na minha mente e por isso resolvi colocar isso em espera e começar meu dia.

Levantei mesmo a contragosto, tomei um remédio para dor de cabeça e tomei um banho gelado para espantar ou tentar espantar, meus problemas.

Quando sai, me senti renovado e pronto para outra.

Desci a escadas em direção a cozinha esperando encontrar minha filha, mas só encontro meus tios.

— Bom dia! – Digo tentando ao máximo parecer animado.

— Bom dia, Tom. — Meu tio me saúda levantando a xícara de café que tomava em minha direção, mas minha tia continua de costas para mim, trabalhando em algo no fogão.

— Não vai falar comigo tia?

Dona Verona sempre foi meu norte para referência em tudo. Me criou quando meus pais não puderam mais, me ensinou a vida aqui, me ajudou com a minha filha e sempre levei em consideração todos – ou quase  todos – os seus conselhos. Então, pensar que podia ter a decepcionado ou magoado de alguma forma me fazia sentir mal.

Estremeci diante do seu olhar acusatório.

— Voltou sozinho ontem, Tomás? Deixou a nossa hóspede sozinha na festa.

Outra onda de culpa passou por mim.

— Ela não estava sozinha, Charles estava lá ...

— Não importa! – Ela esbraveja apontando a colher de pau com respingos de calda na minha direção. — Se você levou, você a trás de volta. Que tipo de educação eu te dei? E se Charles não trouxesse ela de volta? E se algo acontecesse com ela? A Cecília não é daqui, Tomás. Por mais seguro que seja a vida pacata no interior, ainda tem seus perigos à espreita.

Abaixo a cabeça sem saber o que dizer. Só minha tia para me fazer sentir como se tivesse dezessete anos novamente e fosse pego fazendo algo errado.

Sabia que o jeito que fiz foi coisa de moleque e por mais que não quisesse, sabia que o certo era pedir desculpas para a Cecília, conversar com ela. Não importa os meus receios, ela não merecia isso e não era culpada por minha indecisão constante.

— Vou falar com ela.

Minha tia assentiu antes de voltar para o fogão e eu como um pedaço de bolo e pego uma fruta antes de sair em direção ao lado de fora.

Sabia que se não fosse a culpa me consumindo, teria prestado atenção no fato de que como minha tia sabia que eu havia voltado sem a Cecília. Mas a mente as vezes se prende ao que quer ver.

O sol bate no meu rosto enquanto caminho em direção a cabana da Cecília. O dia estava bonito, a vegetação bem verde, nuvens espalhadas pelo céu criando um ambiente ainda mais alegre.

Mas dentro de mim parecia que o caos havia se instalado. Não tinha direito de exigir nada dela, e sabia que havia errado muito com ela. Mas o mesmo tempo, só de pensar em não falar mais com ela, de não tocar nela...

Havia tocado apenas uma vez nela, mas uma vez tinha sido o suficiente para ficar dentro de mim como se houvesse se entranhado em cada canto do meu corpo.

Cada parte de mim pulsava por ela.

Cada parte de mim pensava nela e chamava por ela mesmo que eu lutasse arduamente contra isso.

Me aproximei e bati na porta.

Bati uma.

Bati duas.

Até chamei por ela e nada.

Será que ela não queria me ver? Faço uma careta ao perceber que ela tinha direito a isso. Ela não era obrigada a me ver se não queria e o mínimo que eu podia fazer era aceitar.

Estava me afastando mesmo resignado quando ouço um grito e meu coração gela por um minuto.

Era um grito feminino.

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