CAPÍTULO 36

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TOMÁS

Quando voltei, estava me sentindo mais calmo e pronto para conversar com a Cecília sem falar besteiras.

Tinha os argumentos prontos para conversar e expor para ela o porque achava que daríamos certo e que queria que ela ficasse aqui. E mesmo se ela não ficasse, queria que ela soubesse que estava disposto a tentar.

Não se tem certeza de nada nessa vida, e o pouco que a gente tem como certeza é que se a gente não tentar, o arrependimento é quase certo.

E queria tentar e caramba, como eu precisava que isso desse certo.

E com isso em mente, fui em direção a cabana dela só para ser interceptado pelo meu tio e a minha filha, um do lado do outro me olhando de forma acusadora.

— O que? – Pergunto meio suspeito, mas já adivinhando o motivo de me encararem julgando.

— Papai, não acredito que você seja tão bobão! Não posso acreditar! — Minha pequena abre os braços nervosa ao me encarar. – O senhor vai ter que consertar isso.

E com isso ela sai andando e vejo a Maya um pouco mais afastada com uma barra de chocolate na mão e um saco com outras coisas.

Ótimo, sendo repreendido pela minha própria filha.

Porém eu merecia.

— Ela está certa e você sabe. — Meu tio Jorge fala. — Não sei exatamente o que você fez, mas conseguiu mobilizar sua tia reclamando do quarto até o carro sobre como você era um idiota.

Me senti mais culpado.

— Tio, juro que precisava sair para espairecer, pensar sobre o que eu vi e como falar com ela. Me diz, me fala como eu posso não ter pensado o que pensei? Mesmo que tenha tirado conclusões precipitadas, eu sou novo nisso. Sou inseguro demais em relação a isso e deixei que minhas inseguranças tomassem conta.

Ele acena e me chama para sentar nos degraus do casarão.

Sentamos um de frente para o outro, ele tira o chapéu da cabeça e bagunça os cabelos antes de falar.

—  Relacionamentos são complicados. Sejam eles românticos ou não. É preciso ter paciência, consciência, empatia, sentimento e uma grande dose de vontade. Vontade para continuar, entender e persistir se necessário. Claro que nenhum é perfeito e todos tem seus desafios. E os maiores desafios são quando temos que lutar contra nós mesmos. Lutar contra nossas inseguranças diante dos vários percalços, e é por isso que falei sobre a vontade de persistir, de não deixar que nossas inseguranças sejam maiores do que nossa vontade.

— Como? É tão mais fácil falar do que fazer, tio. Mas foi por isso que cavalgar me ajudou a espairecer e pensar sobre como eu precisava ter as palavras certas para consertar a burrada que eu fiz. Errei em julgar? Errei, mas as coisas foram tomando outra proporção e quando vi, ela estava indo embora, se afastando de mim e eu que nem um palerma ali.

Meu tio ri.

— E isso vai acontecer mais vezes tá? Sua tia vive brigando comigo e vive ganhando os argumentos me deixando com a boca meio aberta. Por isso, decidi ser mais esperto e deixar ela sempre ganhar porque a realidade é que na maior parte do tempo dona Verona está certa.

Acabo tirando forças para sorrir porque ele estava certo. Dona Verona não é fácil e sempre está certa. Ou pelo menos tem argumentos que sustentam sempre para essa direção.

— E agora? O que eu faço agora?

— Agora você engole o seu orgulho, engole todo e qualquer argumento que possa sair do controle e vai atrás dela. Conversa com ela e só aceita tudo o que ela for jogar na sua cara, e por ela, eu quero dizer sua tia. Porque saíram ela, Cecília e Charles para uma possível noite de bebedeira imensa.

Já estava nervoso.

Uma coisa era uma mulher irritada. Outra coisa era um grupo de pessoas irritadas que iriam me descascar inteiro.

Respirei fundo e tomei a minha decisão.

— Estão no bar do Gil não é?

— Sim.

— Então vou lá.

Meu tio sorri para mim como se soubesse que eu ia me meter em uma enrascada.

E provavelmente ia.

CECÍLIA

Em um primeiro momento pensei que fosse uma ótima ideia falar sim para ir ao bar.

Agora, vendo Charles e Dona Verona improvisando no karaokê do Gil, comecei a me arrepender amargamente da minha escolha.

Mas não podia dizer que não estava entretida. E levemente embriagada.

— Eu vou ter que levar vocês todos para casa, não é? – Gil pergunta depois de depositar um copo d'água na minha frente.

— Com toda a certeza. – Bebo um gole d'água e olho para ele. — Água? Ela é bem-vinda, mas juro que pedi uma gin tônica.

— Você vai ter sua segunda gin tônica depois de beber esse copo d'água e comer um pouco dos petiscos que estou mandado pra vocês todos. – Ele responde com um sorriso.

Dou de ombros.

— Tudo bem, estamos sem pressa de ir embora mesmo.

— E esse é o meu medo. – Gil murmura antes de ir embora.

Meu celular vibra e eu penso em ignorar, achando que é Tomás pela décima vez ou pior, meu ex me importunando de novo com umas desculpas idiotas que me dão vontade de enfiar pela goela dele.

Mas pegando o celular, vejo que era minha melhor amiga.

Lala: amiga, pensei em te fazer uma surpresa na fazenda, mas agora quem se sente surpreendida sou eu porque juro que estou te vendo pela janela de um bar.

Podia sentir meus olhos se arregalando ao máximo antes de virar para janela e ver minha amiga balançando o celular para minha direção. Não tinha anoitecido ainda, então dava para ela ter uma ótima visão do bar.

Levanto meio tropeçando e saio pela porta com um sorriso no rosto.

— Não acredito!

— Não acredito eu! Como assim você já está comemorando a minha chegada mesmo sem saber? Nossa, acho que esse lance de amigas-irmãs realmente funciona, e tivemos o mesmo pensamento.

Eu só consigo sorrir antes de começar a chorar.

Era isso que eu precisava.

Me cercar de pessoas que realmente se importavam comigo.

Abracei minha amiga bem apertado, antes de solta-lá e limpar minhas lágrimas.

— Estou tão feliz que está aqui, você não imagina...

— Cecília! – A voz grossa do Tomás me chama e sinto um arrepio dos pés a cabeça.

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