CAPÍTULO 21

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Pensaram que ia esquecer de vocês? Jamais 🤣

CECÍLIA

Já imaginava que elas inventariam alguma coisa arriscasse perigosa porque vamos lá, quando duas crianças te olham com os olhos de cachorrinho e sorriso maroto, você sabe que alguma elas estão armando, certo?

Então quando descobri que elas queriam brincar de subir na árvore e inventar um mundo, pôde-se dizer que meu coração errou uma batida.

Como poderia dizer não isso?

Sempre tive imaginação forte, mas era muito introvertida para deixar que meus pensamentos e criações tomassem forma. Por isso amava tanto ser professora porque podia criar um mundo só meu e das minhas crianças.

Foi por isso que concordei e começamos a inventar acessórios e nomes.

Pegamos flores secas e botamos nos cabelos fazendo coroas de flores. Éramos fadas, rainhas e princesas.

Éramos guerreiras contra os monstros invisíveis que queriam destruir nossa casa, nossa árvore-lar.

Ambas as meninas já sabiam subir na árvore, mas como essa era maior, subimos um pouco mais.

Bem, tive que subir um pouco mais para que elas não pudessem subir mais. Estavam animadas e sem medo algum do perigo que podia ser estar aqui em cima.

— Vejam! Vejam! O vento se revolta porque está mandando seus capangas atrás de nós! – Cacau bradava em alto e bom som.

— E só nós, fadas da floresta, guerreiras floridas, que podemos enfrentá-los. — a pequena Maya brada ao lado da amiga, ambas com um sorriso de ponta a ponta que me fez animada a me soltar também.

Levantei um galho que fazíamos de espada e apontei na direção do céu.

— Avante, minhas companheiras! Venceremos essa guerra!

Grito as palavras animadas e renovada com a ideia de que esse momento, essa liberdade, era tudo para mim e não tinha nada a temer.

As meninas gritaram e eu também.

Ficamos mais um pouco até eu achar melhor que era hora de descer. Por mais que eu amasse subir em árvores, não dava para testar muito a teoria de lugares altos e possivelmente perigosos com crianças espevitadas.

As meninas desceram uma por uma e fui por último, tentando descer aos poucos ao me apoiar nos galhos mais fortes.

Estava prestes a pular quando ouvi um barulho vindo a distância e me distrai pisando em falso.

Merda.

Pensei isso quando me desequilibrei já prevendo a queda que doeria com certeza bastante.

— SENHORITA CECÍLIA! – As duas gritaram ao ver caindo.

— CECÍLIA! — Uma voz masculina me gritou ao longe ao mesmo tempo que as meninas.

A dor se espalhou por todo meu corpo, principalmente pelo meu pé que tinha certeza que havia torcido.

Queria rolar, queria gritar, queria até tentar levantar e sair correndo para um hospital, mas continuei deitada no chão parada, tentando memorizar cada parte do meu corpo que continuava a latejar sem parar.

Senti me cercarem enquanto eu fechava os olhos sentindo as lágrimas caírem de dor.

Droga. Queria morfina. Queria muita morfina. Queria estar dopada e não sentir mais nada.

— Não toquem nela, meninas. Preciso pegar a Cecília devagar e levar vocês de volta para a casa. – A voz grossa do Tomás passava pela minha cabeça na névoa da dor, mas não queria entender nada. Só pensava na dor.

Mãos gentis tentaram me levantar cuidadosamente. Tomás me pegou com calma, evitando meu pé que não parava de doer.

Mesmo sentindo o lado do meu corpo também doendo, consegui deixar que ele me levasse delicadamente.

Tomás me segurava com todo cuidado do mundo enquanto sussurrava no meu ouvido.

— Vai ficar tudo bem, meu anjo. – Ele sussurrava baixinho no meu ouvido enquanto me carregava.

Não lembro muita coisa do caminho, mas depois do que pareceram horas, chegamos no casarão e eu ouço toda comoção ao meu redor antes de finalmente me darem um remédio e eu apagar de exaustão e cansaço.


TOMÁS

Vê-la caindo da árvore quase parou meu coração.

Na verdade, só de relembrar isso me deixava com a boca seca, o coração doendo e as mãos suadas de nervoso. Só senti dor e desespero assim uma vez antes e pensei que meu coração não aceitaria viver nada parecido novamente.

Ver as lágrimas e ela gemendo me fez perceber algo que relutei muito em aceitar: que eu me importava.

Me importava com a Cecília.

Gostava dela, e talvez gostasse até demais dela.

Não consegui nem me afastar enquanto minha tia que já foi enfermeira, cuidava do seu tornozelo que graças a Deus não havia quebrado. A queda que ela sofreu não foi tão alta, mas foi o suficiente para ela ralar um lado do corpo e ter uma leve torção no tornozelo.

Depois da medicação e dos cuidados, minha tia me garantiu que ela agora iria descansar e quando acordasse precisava se alimentar.

As meninas ficaram preocupadas e um pouco chorosas. Cacau principalmente se culpava, mas conversei com a minha filha que ela não teve culpa alguma e que acidentes aconteciam mais do que podíamos sequer imaginar ou prever.

Garanti também que cuidaria da Cecília. E garanti isso para todos, porque não era uma promessa só para ajudar, mas era porque eu estava com essa necessidade visceral de que só eu poderia ajudá-la. De que precisava fazer isso, estar atento a ela, estar perto dela, ou iria enlouquecer não possibilidade dela estar com dor longe de mim.

Respirei fundo enquanto a encarava ainda dormindo.

Tinha colocado ela deitada na cama sob os cuidados da minha tia e tomei um banho rápido, pronto para ficar ali o dia todo se precisasse.

Um tempo depois minha tia trouxe uma bandeja com sanduíches, pedaços de bolo, frutas, uma garrafa de suco e uma de água.

Comi minha parte enquanto via Cecília acordar aos poucos, se espreguiçando antes de fazer uma careta de dor.

— Ai! – Ela bota a mão na cabeça como se lembrasse.

Cecília abre os olhos devagar e leva um susto ao me perceber ali.

— O que você está fazendo aqui? O que... – Ela afasta a coberta e vê o pé enfaixado. — Ah, sabia que não tinha sido apenas um sonho ruim.

Me endireito não cadeira fazendo uma careta.

— Não mesmo, mas minha tia foi enfermeira quando mais nova e garantiu que foi apenas uma leve torção. Temos uma muleta aqui, mas se quiser, amanhã te levo no hospital.

Ela me olha como se estivesse tentado entender.

— Você... você não precisa me levar. Tenho certeza que o Charles ou a sua tia podem me ajudar. Sei que tem outras coisas mais importantes pra fazer.

— Também acho importante te ajudar.

Cecília franze a testa me observando com cautela.

— E por que? Já que desde do começo não parecia querer nem me dar um oi.

Essa era a pergunta de um milhão de dólares que não sabia como respondê-la sem que ambos tivéssemos que reconhecer isso.

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