🌺 Capítulo 3 - Não confie em estranhos 🌺

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Aos poucos vou despertando do estágio de sonolência. Abro os olhos lentamente. Imensas cortinas brancas e finas pendem do teto ao chão. Tremulam com a brisa fria que entra pelo que mais parece um terraço do que uma simples sacada de hotel.

Espreguiço-me com vontade, dando-me conta de que a dor no tornozelo aliviou. Kaled tinha razão. Tudo o que eu precisava era de repouso. Sorrio ao lembrar da amizade mais improvável que poderia ter feito. O jovem sheik foi muito gentil e prestativo. Tenho que reconhecer.

Bocejo e esfrego os olhos.

__ Olá. __ Ouço uma voz feminina bem próxima.

Giro o corpo sobre um lençol dourado de cetim. Dou de cara com uma garota ajoelhada ao meu lado. Ela tem a pele escura e curiosos olhos amendoados. Usa uma espécie de vestido envelope que cobre todo seu corpo.

__ Quem é você?

__ Me chamo Aiyra, senhorita. __ Sorri animada.

__ Trabalha no hotel?__ Apoio os cotovelos nas almofadas.

__ Que hotel?__ A garota une as sobrancelhas grossas.

__ Como assim que hotel?! Esse hotel! Aqui é costume os funcionários entrarem nos quartos enquanto os hóspedes dormem?

__ Não entendo senhorita. __ A jovem realmente parece confusa.

__ Sabe dizer por quanto tempo dormi?__ Levo uma das mãos à testa. Minha cabeça parece pesada.

__ A senhorita dormiu por muitas horas. Chegou hoje de manhã e já está anoitecendo.

__ Como? Está dizendo que dormi um dia inteiro?!__ Sento sobressaltada levando parte da cabeleira para a frente.

__ Sim, senhorita. O senhor disse que estava muito cansada da viagem e precisava se recuperar.

__ Meu Deus! Anette vai me matar! Perdi a primeira sessão de fotos! __ Levanto cambaleante.

A garota tenta me apoiar.

__ Por favor, chame um táxi enquanto tomo uma ducha. Talvez chegue a tempo no estúdio.

__ Táxi?! __ A garota me encara como se visse um alien.

__ Afinal de contas, qual sua função nesse hotel? Parece que não entende nada do que digo!

__ Desculpe, senhorita! Ainda estou aprendendo. __ A jovem abaixa a cabeça com expressão triste.

Droga!

Subo na cama e caminho por cima das almofadas. Seguro a garota pelos ombros a erguendo. Ela me encara com os olhos arregalados.

__ Hei, hei, hei, desculpe minha grosseria, tá bom? Não esquenta com o que digo. Sou grossa assim mesmo.__ Aiyra acena a cabeça parecendo não entender nada ainda.__É que estou bastante atrasada para meu primeiro trabalho no exterior, por isso estou nervosa. Pode ajudar a achar meu celular?

__ Ajudar?__ A jovem finalmente entende algo.__ Sim!__ Sorri satisfeita.

__ Ótimo. Deve estar em minha bolsa tiracolo. Não lembro onde a deixei.__ Procuro no "mar de almofadas" sobre a cama.

Deus, para quê todo esse exagero?!

__ Achei!__ Abro a bolsa e vasculho dentro. Não encontro o aparelho.__ Onde está meu celular?!

__ Não sei, senhorita!__ A jovem me observa atordoada.

__ Chame o gerente dessa espelunca imediatamente!__ Aumento a voz.

__ Ge-gerente?!__ Aiyra gagueja.__ Quem é gerente?

__ Essa viagem já se tornou um pesadelo!__ Visto um roupão por cima da longa camisola, que só Deus sabe quem colocou em mim, e caminho para a enorme porta dupla cheia de arabescos.

A garota vem correndo atrás. Saio em uma espécie de salão com uma fonte no centro. O chão é todo azulejado com peças que parecem retratar cenas de povos antigos peregrinando no deserto. Há divãs, algumas estátuas de mármore, mais almofadas e muitas plantas espalhadas por todos os lados. Olho ao redor em busca de outro funcionário.

__ Onde fica a recepção?__ Me dirijo à garota que continua me seguindo de perto com expressão assustada.

__ Não sei o que a senhorita quer. Sinto muito. Quer que eu prepare um banho de sais para relaxar?

__ Não! Eu não quero banho de sais! __ Grito.__ Quero meu celular! Quero falar com o gerente! Entendeu?!

A garota me encara por um tempo e depois começa a chorar.

__ Não acredito nisso!

__ O que está acontecendo?__ Uma mulher bem mais velha que Aiyra surge de uma das entradas do salão.

Sua vestimenta é parecida com a de Aiyra. Deve ser uniforme do hotel.

__ Ah, graças a Deus fala meu idioma! É a gerente do hotel?__ A mulher me observa com estranheza.

__ Não sou gerente, senhorita. Nem estamos em um hotel. Este é o Palácio de Durab fi Alsahra, onde reside o Sultão e sua família. A senhorita chegou hoje cedo com o senhor Almir. Ele disse que é hospede do Sultão.

Minhas pernas parecem virar geleia.

__ Quê? Palácio?__ As duas mulheres se entreolham como se me achassem uma louca.

__ Ainda está se sentindo indisposta senhorita? Gostaria de um chá?__ A mulher parece notar alguma mudança em minha fisionomia.

__ Não estou indisposta. Vim parar aqui porque fui dopada!__ Vou aumentando o tom da voz novamente. __ Aquele desgraçado me sequestrou!

__ Quem a sequestrou?__ A mulher me observa incrédula.

__ Seu Sheik de "araque"!

__ O Sheik kaled não vive no Palácio, senhorita. Esteve fora do país estudando por anos. Soube que está retornando, mas ainda não chegou de viagem. Quem a trouxe foi o senhor Almir em um voo particular.

__ Isso quer dizer que não estou mais em Dubai? Aquele desgraçado me trouxe inconsciente para seu país...__ Sinto o coração acelerar. Um desespero incontrolável me invade.

Não acredito que está acontecendo tudo novamente!

__ Eu sabia. Notei que era estranho desde o princípio. Não devia ter confiado. O que esse infeliz quer de mim?__ Encaro a mulher incrédula.

__ O senhor Almir nos disse pouco ao seu respeito. Apenas que era uma hóspede e que deveria permanecer no harém até que o Sultão chegue.

__ Harém?!__ Minha voz sai esganiçada.

__ Acalme-se senhorita. De nada adiantará se desesperar. O melhor a ser feito no momento é esperar. O Sultão está retornando de viagem. Ele sanará todas as suas dúvidas...

Em uma descarga de adrenalina, disparo correndo. Atravesso o salão e alcanço uma das janelas. Saio em um terraço aberto onde um céu estrelado se descortina. Uma lufada de vento frio atinge meu rosto. A frente, apenas a imensidão do deserto...

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Ela é indomável Onde histórias criam vida. Descubra agora