🌺 Capítulo 24 - Sultana - Parte I 🌺

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O acampamento parece estar em festa. Desvio de alguns moradores da tribo que se acumulam na entrada da tenda. Passo pela entrada apressada. O coração saltando de expectativa. Um corredor humano se forma me dando passagem. Nossos olhos se encontram. O cabelo dele está molhado. Parece que acabou de sair do banho. A barba também foi feita, mas ainda há vestígios do tormento que passou. Olheiras arroxeadas ao redor dos olhos, um curativo no braço onde foi picado e parece mais magro.

Dois homens o apoiam pelos ombros. Tenho a impressão de que fez questão de me esperar em pé, mas percebo que está fraco. Um sorriso discreto vai se formando em seu rosto. Lágrimas surgem em meus olhos por tudo o que presenciei. Pelo estado em que o vi e pela possibilidade de o perder.

Corro ao seu encontro. O impacto o faz cambalear um pouco. Os outros o seguram. Abraço-o pela cintura. O rosto em seu peito. Seus braços me envolvem. Ouço o som de uma risada rouca.

__ Acho que é melhor sentarmos, amor. Ainda não estou totalmente recuperado para dar conta de todo seu vigor. __ Khan fala comigo como se estivesse lidando com uma criança, porém o que registro com maior intensidade é como me chamou, de amor.

__ Desculpe. __ Tento me desvencilhar. Ele me segura pela cintura e me puxa. Senta em um divã e me acomoda em seu colo de lado.

Ouço um burburinho entre os presentes. Apesar de não entender o idioma, noto a indignação e reprovação de Soraia e de outros anciãos da tribo. Khan fala algo que os acalma. Alguns até sorriem e começam a se retirar um a um. Sobrando somente nós dois na tenda.

__ Acho que escandalizamos eles.__ Volto o olhar para Khan. Um de meus braços em seu pescoço.

__ Os membros da tribo são extremamente conservadores, principalmente os mais velhos. __ Khan mantém o braço ferido imobilizado. Usa o outro para me segurar. Começo a me sentir eufórica.

__ O que disse que os acalmou? __ Cerro os olhos.

Novo sorriso. Dessa vez malicioso.

__ Em breve entenderá.

Prefiro não insistir. Há coisas mais importantes para dizer.

__ Como está se sentindo?__ Toco seu rosto de leve.

__ Melhor. O pior já passou. __ Fecha os olhos por alguns segundos quando o toco.

__ É verdade. Senti tanto medo.

Seu olhar está vidrado em mim.

__ O que mais importa é que você esteve todo o tempo ao meu lado.

__ Como sabe disso? __ Sinto meu rosto e todo o corpo esquentar.

__ Eu senti e ouvi tudo o que aconteceu ao meu redor, Adrielle.

__ Você se lembra de eu ter dito...

__ Que me amava?__ Completa. __ Como disse, lembro de tudo.

Abaixo as pálpebras encarando seu peito. A mão que segura minhas pernas vão até meu queixo e ergue meu rosto para encará-lo.

__ E eu disse o mesmo.

__ Khan eu...

Novamente ele me interrompe.

__ Não faça isso, Adrielle. __ Acena a cabeça. __ Não volte atrás. Não tente me enganar, nem se enganar.

__ Eu não ia mentir. __ Meu coração parece que vai saltar pela boca. __ Só estou com medo.

__ Sei que tem medo do que está sentindo. Eu mesmo estou assustado com o que vem crescendo aqui dentro desde que chegou no palácio.__ Toca o peito.

O encaro sem poder mais negar que estou apaixonada.

__ Entendo seu medo. Sei de tudo o que passou, por isso mandei alguém ao Brasil para investigar. Acontece que não consigo mais me conter. Adrielle, quase morri. Achei que não teria mais oportunidade de estar com você.

__ Também achei isso.

__ Lutei muito para viver, porque de uma forma estranha senti falta de algo que ainda não vivi. __ Khan me olha confuso.

__ Também lamentei por não ter tido mais tempo.

Ele sorri compreensivo.

__ Me entende agora? Estamos tendo uma segunda chance.

Ergo o rosto. Nos encaramos por um bom tempo. Até que afirmo com a cabeça. Um gemido rouco sai da garganta de Khan. Fecha os olhos e me beija. Se afasta apenas para me mudar de posição, colocando-me de frente para ele. Uma de minhas mãos acaricia sua nuca, a outra envereda pela abertura do colete aberto no peito.

A mão de Khan percorre minha perna subindo a túnica. Quando alcança meu quadril para.

__ Sem peças íntimas, Adrielle?__ Fala grudado em minha boca. __ Quer me torturar?

__ Não deu tempo de colocar. Quando recebi a notícia de que havia acordado saí correndo.

Khan geme indignado. Suga meu lábio inferior e me joga no divã. Paira o corpo sobre mim.

__ Preste bem atenção ao que vou lhe explicar.__ Segura meus braços acima da cabeça. __ Essa tribo tem leis rigorosas. Diria até arcaicas para os costumes americanos. Mas acontece que sou o chefe desse povo. Não posso descumprir as leis. Preciso dar exemplo. Então, a menos que case comigo, não poderei tocá-la mais desse jeito.

O encaro de boca aberta.

__ Você ouviu o que eu disse, Adrielle?__ Toca meu rosto para ter certeza que o entendi.

__ Está me propondo...__ Minhas sobrancelhas se unem.

__ Case-se comigo. Pelo menos no religioso, aqui na tribo. Damos andamento ao civil quando voltarmos ao palácio e estivermos com os documentos.

__ Nos conhecemos a tão pouco tempo. E você é um Sultão. Não sou apropriada para ser a mulher de um governante. __ Começo a falar disparado.

__ Pare de se menosprezar... __ Khan me cala com um beijo. Se afasta e continua.__ Sempre deixei claro para todos que não casaria por conveniência política.

Permaneço em silêncio por alguns minutos tentando processar tudo o que Khan diz. A família Machado me mataria se descobrisse que me casei sem a presença deles. Principalmente Abigail.

Espere! Estou mesmo cogitando essa loucura? Tenho apenas dezoito anos! Mas há alguns meses estava decidida a jamais me relacionar com um homem outra vez. E esse foi o único capaz de me fazer esquecer. Khan me ensinou a sentir. A amar.

__ A não ser que... __ Ele ergue o corpo e me desperta dos pensamentos. __ Que o que sente não seja o suficiente para ficar.

__ Khan, não é isso.

Ele senta.

__ Desculpe se te pressionei.__ Passa os dedos pelos cabelos. __ E que eu realmente acreditei que...

__ Eu aceito.__ Eu o interrompo agora.

Ele se cala e me encara descrente.

__ Eu disse que aceito.__ Me encaixo em seu colo de volta.

__ Adrielle, não brinque comigo.__ Seu rosto está sério e a voz rouca. Posso sentir o quanto minha decisão é importante para ele.

Acaricio seu rosto e beijo sua face.

__ Eu aceito casar com você, Khan Al-Abadi, porque eu te amo.__ Sussurro próximo à sua boca.

Khan rosna e me beija de um jeito selvagem até o ar nos faltar...

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Ela é indomável Onde histórias criam vida. Descubra agora