🌺 Capítulo 2 - Kaled Al-Abadi 🌺

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Hospital Dubai, Emirados Árabes;

__ Obrigada por me apresentar ao doutor Youssef. __ Agradeço Kaled que me aguardou todo esse tempo na sala de espera do hospital.

__ Youssef Al-Amari é médico e amigo de nossa família de longa data. Jamais negaria um pedido meu.__ Ele se levanta.

__ Me receitou novos remédios. Só tenho que passar em uma farmácia e...

__ Almir se encarregará disso.__ Kaled puxa o receituário de minha mão e entrega a seu secretário que nos observa com seu jeito taciturno.

__ Em breve retornarei com suas drogas, senhorita. __ Almir acena a cabeça e sai pelo corredor de acesso aos consultórios.

__ Nossa, nem sei como agradecê-los.

Agora tenho certeza que os julguei mal. Mesmo Almir com sua altivez e postura indiscreta ganhou pontos comigo.

__ Apenas não leve em conta a péssima recepção que teve ao chegar nos Emirados.__ Kaled se acomoda novamente na poltrona da sala de espera me indicando um lugar ao seu lado.

__ Parece que isso é uma questão muito importante para vocês, não é? São bastante patriotas. __ Prefiro me acomodar em outra poltrona à frente.

Kaled nota meu distanciamento, apenas sorri.

__ Isso é uma verdade. Mas seria desonesto se dissesse que minha única motivação é essa. __ Seu olhar me percorre com admiração.

__ Kaled, estou imensamente grata por sua ajuda, mas preciso deixar bem claro que não tenho interesse em homens.

__ Ah, você é gay Adrielle?__ Kaled ergue as sobrancelhas.

__ Não. Não foi isso que quis dizer. Apenas prefiro ficar sozinha.

__ O que aconteceu?__ Encosta na poltrona, cruza os braços e me observa como se tentasse ler minha alma.

__ Como assim?__ Desvio de seu olhar sentindo-me desconfortável.

__ Que tipo de decepção sofreu que a fez querer se afastar das pessoas?__ Kaled tomba um pouco a cabeça de lado.

__ É complicado.__ Respiro fundo.

Como um desconhecido me interpretou tão bem em tão pouco tempo?

__ Seja o que for, sinto muito.__ Se estica e toca minha mão repousada no descanso da poltrona.

__ Obrigada. __ Retiro minha mão devagar.

Kaled respeita meu desconforto. Retorna para sua posição inicial.

__ Sabe Adrielle, na verdade, os Emirados é minha segunda casa. Minha mãe que era daqui. Meu país de nascença é bem menor. Fica entre a Península Arábica e o Sultanato de Omã. Chama-se Durab fi Alsahra.

__ Lembro-me do atendente do aeroporto citar isso. Mas realmente é um sheik? __ Volto a me sentir a vontade sem o clima do assunto anterior.

__ Sim. É verdade. Mas não se constranja com isso. É apenas um título em meu país. No mundo ocidental esses títulos não fazem tanta diferença. Fui para uma universidade americana porque quis me sentir como um cidadão comum.

__ Deve ser muita pressão carregar um título desses....

__ Não faz ideia.__ Kaled se joga no encosto da poltrona.__ Meu irmão, o Sultão, nasceu para isso. Tem prazer em liderar. Eu já prefiro o anonimato. __ Sorri deixando transparecer um certo desprezo por seu legado.

__Nossa, seu irmão é um Sultão?__ Me sinto curiosa pela realidade tão distante da minha.

__ Ele recebeu o título precocemente, logo após a morte de nosso pai que foi Sultão de Durab fi Alsahra por trinta anos. Meu país é um dos poucos que adota ainda o regime do sultanato.

__ Seu irmão é jovem como você? Imagino a responsabilidade que tem.__ Lembro-me de ouvir esse tipo de coisa somente nas aulas de história e geografia no colégio.

__ khan é um pouco mais velho. Tenho vinte e três, ele tem vinte e sete anos.

__ E sua mãe?__ Cada vez fico mais envolvida pela história do jovem Sheik a minha frente.

__ Nossa mãe faleceu muito cedo. Morreu logo após meu nascimento. Não tenho lembranças dela. Nosso pai precisou contar com o auxílio de amas para cuidar de mim e de meu irmão. Almir também nos ajudou muito. É mais que um servo. Sempre esteve conosco.

__ Sinto muito por sua mãe.

Entendo a falta que ele e o irmão devem ter sentido. Passei por isso quando meu pai partiu...

__ Senhor! Aqui estão as drogas da senhorita Machado!__ Almir entra agitado na sala de espera.

__ Obrigado pela presteza, Almir. __ Kaled pega o pequeno embrulho das mãos de Almir e me repassa.

__ Obrigada. __ Me dirijo a Almir tentando me retratar pela forma que o tratei assim que nos conhecemos.

__ Não é necessário agradecer, senhorita. __ Almir abaixa a cabeça e dá alguns passos para trás.

__ Tomarei assim que chegar ao hotel. __ Começo a guardar o embrulho na bolsa tiracolo.

__Seria melhor que a senhorita tomasse logo. Assim fará efeito logo.__ Almir ergue a cabeça rapidamente.

__ Qual efeito? __ Franzo a testa.

__ Acho que ele quer dizer que o medicamento já começará a aliviar suas dores. __ Kaled explica primeiro.

__ Ah, claro...__ Encaro Almir ainda sem conseguir confiar em suas motivações.

Se Abigail estivesse aqui diria para eu parar de implicar com o pobre homem. Como em certa vez que cismei com um vestido que ela teimou em comprar. A tal peça estava envolvida em uma história sinistra sobre uma noiva desaparecida. Abigail acha que sou superticiosa ao extremo. Prefiro dizer que sou uma criatura precavida.

__ Permita-me ajudá-la, senhorita. Buscarei um copo d'água para que beba sua droga.__ Almir se retira silencioso feito uma cobra.

Retorna alguns minutos depois com uma enfermeira carregando uma bandeja com um copo d'água.

__ Sua água, senhorita Machado.__ A enfermeira sorri de um jeito dócil.

Retribuo o sorriso de forma nervosa. Pego o copo da bandeja com a mão um pouco trêmula. Olho para Kaled que me incentiva com um sorriso também amigável. Almir é o único que mantém uma postura suspeita me observando de forma sinistra pelo umbral de entrada.

Entorno um pouco de água no piso.

__ Ah, desculpe!

__ Não se preocupe querida. Daqui a pouco peço alguém para secar.__ a enfermeira me tranquiliza.

__ Isso é efeito do cansaço por tudo o que aconteceu no aeroporto. Tanto aborrecimento consumiu suas forças, Adrielle. Beba seu medicamento que pedirei ao meu motorista para levar-nos ao hotel onde ficará hospedada até que encontrem sua bagagem. Precisa descansar. __ Kaled se levanta decidido.

__ Verdade. __ Retiro um comprimido da cartela, coloco na boca e engulo com um gole d'água.

Tenho a ligeira impressão de ver um leve sorriso despontar na face do secretário de Kaled, mas fico na dúvida por conta da luminosidade do ambiente e de minha mente cansada...

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