🌺 Capítulo 18 - Fuga no deserto - Parte III 🌺

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Fecho os olhos em uma tentativa falha de conservar a lucidez. Respiro fundo para controlar as batidas aceleradas em meu peito. Mas quando os abro a miragem ainda está lá. Uma mancha branca avança rapidamente em minha direção. Apesar da visão turva, tento identificar o que se trata. O borrão branco se mescla a um risco negro que se movimenta sob ondas de calor.

__ Estou enlouquecendo.__ Gotas de suor se misturam às lágrimas.

Um relinche alto me desperta do topor. Arregalo os olhos ao reconhecer Akhal sob as patas traseiras no topo de uma duna.

__ Ah, graças a Deus!__ Consigo ainda erguer um braço antes de desabar na areia feito chumbo.

Em estágio de semi inconsciência vejo um cavalheiro saltar do cavalo e correr em minha direção.

Ele usa a mesma túnica preta que os outros bérberes do deserto. Que Deus me proteja! Estou muito fraca para fugir...

A cabeça e o rosto totalmente cobertos. Somente os olhos aparecem quando debruça sobre mim e me segura pelos ombros.

Não tenho forças para gritar, apenas o observo trêmula e de olhos arregalados.

__ Estou aqui. Não se preocupe. Vou cuidar de você agora.__ Passa os braços por minhas costas e joelhos.

__ Khan?__ Minha voz sai fraca.

__ Sou eu.__ Reconheço os olhos azuis vidrados me observando de um jeito preocupado.

Meu estado deve ser deplorável, se não ele não estaria me olhando dessa forma.

Me ergue e carrega até Akhal que aguarda obediente...

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Desperto depois de algum tempo. A cabeça pendendo para trás. Braços firmes me sustentam em cima do cavalo. O sacolejo do galope do animal provoca a colisão de minhas costas em seu peito. Giro o rosto e analiso o pescoço rígido e a pulsação rápida.

__ Estamos chegando. __Olho para frente, mas não vejo sinal das torres do palácio. Apenas um fio de fumaça ao longe que sobe serpenteando o céu.

Logo surge em nosso campo de visão, grandes tendas armadas e uma movimentação de pessoas, camelos e outros animais ao redor.

__ O que é isso?__ Sussurro franzindo a testa.

__ Minha tribo. __ Sinto o orgulho em sua voz.

Ergo a cabeça incrédula e encaro o rosto imponente de Khan que mantém os olhos fixos a frente.

Um grupo de crianças vem correndo ao nosso encontro. Saltam, riem e comemoram nossa chegada. Alguns homens se aproximam. Seguram Akhal e ajudam Khan a me tirar da cela. Ele mesmo me carrega para o interior de uma das tendas.

Ouço vozes de mulheres, mas minha visão começa a ficar turva novamente. A última coisa que ouço, antes de desfalecer no peito de Khan, é um comando dele em um dialeto local...

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Desperto com um toque delicado, quase imperceptível em meu rosto. Abro as pálpebras pesadas. Uma luz bruxuleante provoca sombras em um teto de tecido branco. Um cheiro de ervas invade minhas narinas. Tento movimentar um braço, mas uma mão o mantém parado.

Uma mulher de meia idade está debruçada sobre mim. Usa um véu sobre a cabeça e passa uma espécie de unguento em minha pele.

__ O que é isso?__ Ela dá algum tipo de explicação em sua língua.

Descanso a cabeça devolta na almofada e deixo que termine de pincelar o produto em meu corpo.

Pelo menos a ardência que sentia aliviou.

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