🌺 Capítulo 22 - Serpente do deserto 🌺

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O grupo de homens esteve fora por toda a noite. Mais uma vez tive um sono agitado. Antes de adormecer não conseguia aquietar a mente que não parava de fantasiar situações bastante intensas com Khan. Seu toque, seu beijo, sua voz, suas palavras, tudo funciona como combustível à chama que consome meu corpo toda vez em que se aproxima.

Khan Al-Abadi é o homem que despertou meu espírito ferido adormecido. Depois do que aconteceu, me tranquei para a ideia de um novo relacionamento. Abigail diz que sou jovem e que com o passar dos anos superaria. Mas sempre soube que as lembranças dos dias em que passei sob custódia de Léo e do pai, jamais se apagariam de minha memória e a possibilidade de alguém me tocar novamente daquela forma me aterrorizava.

Até que conheci Khan. O único homem capaz de me tocar sem que eu sinta repulsa. Chega parecer ironia do destino. Esse homem ser o Sultão de um país quase no extremo oposto de onde vivo...

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A manhã também passou arrastada. Até que os integrantes da tribo começaram a ficar inquietos com a demora do retorno do grupo. Uma ansiedade se apossou de mim de tal forma que não consegui esperar quieta na tenda. Comecei a ajudar as outras mulheres a carregar lenha, lavar peças e a cozinhar.

Por volta das três horas da tarde, uma agitação na tenda de Samira fez com que todos corressem em sua direção. A recém-casada chorava compulsivamente sendo consolada pela família.

__ O que houve com ela?__ Sussurro para Raja que parece bastante aflita com o estado da prima.

__ Nunca um noivo demorou tanto para retornar. Samira está achando que foi abandonada. Que Hani desistiu.

__ Quê? Raja, acalme-a. O amor de Hani por ela foi visível esses dias. Não deve ter acontecido nada demais.

Raja me observa incerta.

__ Precisamos reconhecer que há algo estranho. Os esposos costumam levar poucas horas para retornar. Eles estão fora há quase 24 horas.

__ Sério? Pensei que toda essa demora era comum.__ Observo os rostos desanimados da família.

__ Minha avó disse que sentiu um mal pressentimento quando viu o grupo partindo ontem.

Raja abaixa a cabeça e se aproxima da prima. Senta aos seu pés para consolá-la. Observo a cena sem saber o que fazer ou pensar. Os costumes da tribo são novidades para mim. Se ao menos Khan estivesse aqui, poderia orientar e acalmar a todos. Sua presença me transmite mais segurança do que imaginava. Me pego caminhando pelo acampamento ansiando seu retorno.

Por volta do entardecer, o grito de um dos homens mais velhos da tribo ecoa pelo terreno. Alguns saem das tendas, outros correm na direção em que o velho aponta.

Em uma das dunas ao longe, um cavalheiro solitário vem em disparada. Quando se aproxima do acampamento, novos cavalheiros surgem no horizonte. Em meio a gritos, choros e comemorações, Samira busca ansiosa a imagem do esposo.

Me pego com o coração disparado. Me debato entre a multidão em busca da figura de Khan. Subo em uma rocha e reconheço Hani a frente do grupo. Mas seu rosto não está feliz por retornar para a esposa. Na verdade, nenhum dos homens parecem bem. As cabeças estão baixas.

Me estico, mas não vejo Khan. Uma aflição começa a crescer em meu peito. Meu coração salta ao notar um corpo debruçado em Akhal, que vem mais atrás sob o comando de outro homem da tribo.

Novos gritos se seguem. Dessa vez são de lamento. Escorrego pela pedra e corro em direção à montaria. O homem desmonta e tira o corpo inerte de Khan do cavalo. O carrega nos ombros como um soldado resgatado de um combate.

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