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     Dormi no avião.
     Meus fones de ouvido estavam tendo um mal contato, mas queria muito escutar minha playlist. Havia feito uma para cada emoção minha; alegria, raiva, tristeza, empoderamento, motivação... mas nenhuma me ajudava a entender o que estava acontecendo. O que eu sentia. Posso ter saído apenas com um braço quebrado do acidente, mas algo em mim se foi com Angelina, já que eu não sentia... nada. Algo em mim morreu naquela hora, e só sobrara isso. Essa Alanis fria e desiludida.

      Fui encaminhada por um Uber pago pelo meu pai pelo aplicativo para me levar direto ao colégio interno. Com apenas duas malas e uma mochila menor onde carregava mínimas coisas minhas, cheguei na zona rural onde se encontrava a escola, a alguns quilômetros apenas perto da capital de SP, parecida com uma escola normal, a não ser pelo aspecto de universidade.

     Uma placa enorme na entrada do caminho dizia "Instituição Interna Educacional Maria Quitéria" e um brasão da escola, com algumas legendas pequenas com frases que deveriam motivar os estudantes.

     Estava me lembrando do café de despedida que minha mãe fez. Pães de queijo, bolo de trigo, pudim, café... Tudo que eu gostava. Menos a alegria da minha mãe, que ainda estava sentindo um vazio tão grande quanto eu ou Lara. Meu pai era o único que parecia ainda ter algum tipo de sentimento no olhar.

     Agradeci ao motorista quando uma mulher de cabelos grisalhos me esperava na porta. Ela parecia ter menos de um metro de sessenta e usava óculos grandes demais para seu pequeno rosto.

     — Bom dia, você deve ser Alanis Silver. — perguntou ela, e assenti sem sorrir. — Entre, querida, irei apresentar-te a escola e falar as regras e te indicar as matérias. O colégio promete uma educação de excelência e um ambiente confortável aos seus alunos. — As palavras pareciam ter sido recitadas. — Me chamo Dorama, mas me chame de senhora sempre que for falar comigo. Com qualquer professor, também, e aliás, sou coordenadora. Agora, indicarei os dormitórios.

     Não falei uma palavra sequer. Assentia toda vez que perguntava algo, e não fez perguntas específicas. Dorama parecia estar com pressa, então também não me interessei.

     — É este o seu quarto. — Indicou quando chegamos no quarto penúltimo corredor. — O número é 505, decore e não perca a chave, você e suas colegas de quarto tem uma chave.

     Colegas de quarto. Achava que era coisa de filme, mas eu teria colegas de quarto. Revirei os olhos quando ela se virou para pegar a chave, com o número do meu quarto. Antes de sair, Dorama me entregou as chaves e sorriu, desejando boa sorte.

     Arrastei as malas pesadas para o dormitório, relativamente grande. Haviam duas beliches, ou seja, seriam quatro meninas. Duas delas estavam perfeitamente arrumadas, e também havia quatro guarda-roupas, então ainda bem, não precisava dividir nada com ninguém.

     Deixara minha mala perto da janela quando a porta se abriu.

     — Olá... — murmurou a garota, de cabelos curtos e repicados. — Você é a aluna nova, eu presumo. — Assinto. — Meu nome é Miranda, mas pode me chamar de Mi ou Mira, como minhas colegas me chamam. — Mira sorriu.

     Eu esperava que o uniforme fosse uma saia, uma gravata, um blazer... Mas era apenas uma calça de cintura alta e uma camiseta (graças a Deus) bem larga. Mas deveria haver outra opção sem mangas, já que uma loira saiu do banheiro com o mesmo uniforme, só que o modelo era uma regata.

     — Ah, ela já chegou. — a garota veio direto a mim. — Prazer em conhecê-la, sou Rayssa. — Ela jogou o enorme cabelo dourado para trás, enquanto encarei seus olhos esverdeados e ela encarou os meus.

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora