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     Segurava meu horário que acompanhava com um guia da escola na frente e verso. O prédio que ficava a escola era de frente para o campus, de frente para onde estavam os dormitórios. Esse prédio era limitado por quatorze salas todas de frente para o campus, e a ponte em cima do pequeno lago praticamente de enfeite.

     Do meu quarto, a comunidade estudantil parecia tolerável, até ver aquele aglomerado de estudantes entrando com pequenas mochilas de cordão, com fichários e estojos naquele predinho, e não conhecer ninguém, sem contar no quanto as aulas eram extremamente complicadas.

     Dorama não estava brincando quando disse para eu me referir aos professores como senhor e senhora. Eles exigiam. Senhora Kalil era uma delas, professora de história, tivemos as duas primeiras aulas mais entediantes da minha vida com ela. Não a havia conhecido ainda, já que na minha primeira semana eu estava estudando com minhas colegas de quarto e tudo era mais leve. De acordo com Mira, a primeira semana de aula era sempre a mais leve. Depois, precisava me dedicar bastante.

     Quando o sinal tocava, o barulho me dava dor de cabeça e o paracetamol não havia dado efeito nenhum a mim. Rezava para Ray não ter me dado um remédio vencido.

     Na sala de aula, os alunos pareciam limitados aos seus cadernos e todas as carteiras eram separadas em fila, como um colégio normal. Antes dos professores passarem pela porta, era uma bagunça. Não, aquilo não era nem de longe uma sala de aula da terceira série.

     Então, finalmente começara a aula de filosofia com Duarte. A sala dele era a mais branca, não havia muita bagunça e sua mesa era impecável. Uma enorme frase de Nietzsche estava na lousa.

     Só me sentei quando Miranda chegou, segurou na minha mão e nos sentamos no fundo da sala, ao lado de Mars. Quando abri meu fichário na matéria Filosofia, pude ler a frase na lousa.

     "Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade? — F. Nietzsche."

     Li e reli aquela frase. Umas mil vezes. Os alunos conversavam, gritavam, fofocavam, brigavam, riam, mas a minha cabeça se limitou a um silêncio onde apenas minha voz interior falava, e falava aquela frase..

     Então, o mundo exterior se calou quando um homem alto e míope passou pela porta.

     — Eu suponho que todos vocês conhecem Friedrich Nietzsche, o filósofo alemão e clássico erudita. — disse o professor. — Sabiam que ele também foi poeta? — silêncio total.

     Pude escutar alguns murmúrios atrás de mim dizendo "que professor gato!"

     — Meu nome é Marcos Duarte. — disse ele. — sou professor de filosofia e sociologia em algumas universidades, e como por exemplo, já dei aula de Oxford. Alguns aqui me conhecem apenas por nome, mas nunca me apresentei verdadeiramente. — Ele se sentou em sua cadeira e cruzou as pernas. — Nasci aqui no Brasil, e morei em vários lugares do mundo. Me casei, me divorciei, me casei novamente, me divorciei novamente, e agora estou mais uma vez casado e feliz com isso. Mas desde que comecei a estudar filosofia numa carteira, assim como todos vocês aqui, a frase "Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?" tem martelado na minha cabeça e a minha resposta sempre foi não.

     Olhei para Miranda. Ela não prestava atenção, desenhava um leão em seu caderno, ao contrário de Mars, que encarava o professor, mas não dava para saber se o ouvia.

     — Eu quero que reflitam sobre isso, assim como eu. Presumo que todos, de início, vão parecer satisfeitos com a vida que tem, mas há uma chama dentro de cada um de vocês que no fundo, deseja algo a mais, deseja que as coisas poderiam ter sido diferente se pudesse refazer os passos. — O professor recitou, apontando para a frase, então, recitou cada palavra: — Vocês vivem hoje uma vida que gostariam de viver por toda a eternidade? Escrevam uma redação sobre e me entreguem para essa aula. Não esqueçam do cabeçalho e de um texto bem feito, lerei todos um por um.

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora