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     — Após abrir a página 25, nos deparamos com a frase de um escritor, em um de seus renomados livros. Podem ler o texto e tiraremos nossas próprias conclusões oralmente.

     Estava com a cabeça escorada na mesa enquanto escutava a voz arrastada do senhor Duarte e o barulho silencioso das páginas de livros se virando, enquanto todos liam o texto indicado pelo professor, eu apenas me aproximei da frase final, que recitava entre aspas: "O que é sofrimento?"

     — Senhor Laurent - ele apontou para o garoto atrás de mim. - Consegue responder essa última pergunta?

     O garoto coçou a nuca, e engoliu em seco, coçando os braços.

      — Sofrimento são os resultados das nossas... ações? - ele disse, com a voz trêmula.

      — Você acabou de comparar sofrimento e consequência, doutor. Alguém tem alguma definição diferente? - O professor pediu, levantando a cabeça para o outro lado da sala, e um silêncio pairou. Mais uma vez, seu olhar voltou-se para mim. - Silver.

      Mordi os lábios, me lembrando de estar devendo uma redação a ele.

      — Sabe responder á esta questão?

      Olhei em volta, e me virei de volta á ele.

      — Não, senhor.

      — Nem uma hipótese, como a do senhor Laurent?

      — Não gostaria de responder essa pergunta, senhor. - fui direta.

      Ele franziu o cenho, e alguns alunos riram. Mais tarde, quando o sinal bateu, todos saíram, exceto eu. O professor Duarte me fez assinar uma advertência por ter esquecido de entregar a redação, e se eu não fizesse uma esquematização sobre filosofia e senso comum até quarta feira que vem, meus dias estariam contados para uma recuperação de filosofia. Entretanto, havia um motivo para eu me recusar a me dedicar a essa matéria.

     Para estudar filosofia, eu precisaria abrir meus sentimentos, precisaria me expressar de verdade.

      — Sei que pode ser melhor do que isso, Alanis. Suas notas em outras disciplinas são excelentes. - disse o professor, em seu sermão. - E seu histórico de filosofia em outras escolas mostram notas que eu gostaria de ver no presente, não no passado. Por favor, faça o possível para melhorar, estude mais, vá á biblioteca e faça pesquisas ao invés de ficar de namoricos ou sabe-se lá o que adolescentes fazem. Apenas dê o melhor de si.

      Contei para Ray sobre o sermão do professor, e de brinde, recebi outro.

      — Eu sei, Lani, que é difícil para você. Mas tente se lembrar que precisa dessa nota não para a vida, mas sim para passar de ano. - disse ela. - Agora vamos jogar. Você saca.

      Carla perguntou para mim se meu nariz estava melhor, depois de uma semana que não nos vimos mais. E ouvi pela língua solta de Suzi, que fofocava para sua amiga do primeiro, que Carla e Ravi haviam brigado feio e terminado tudo o que tinham, tanto que não o vi naquele dia no ginásio. Nem ele, e nem Mira. Apenas Mars e Dante, que parecia mais corado que o habitual ao me ver treinando.

      Depois de Ray ressaltar nossos erros e pedir melhoras até o intercolegial, corri até as arquibancadas e beijei Dante.

      — Por favor, na minha frente não. - disse Mars. - Já faz tempo que não fico com ninguém, e está fazendo uma falta lascada.

      — Pergunte se Iuri está disponível. - eu o respondi.

      — Ele não me parece uma opção. Muito retraído. - Mars analisou. - Acho que vou falar com a Fer, do clube de xadrez. Falando nisso, você não ia entrar?

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora