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     — O ruim de ter alguém atrás de você, por ter apenas dado uns pegas no banheiro, é quando você perde o interesse. Tipo, não queremos mais falar com essa pessoa mas na cabeça dela pode ter chance com você. O Conan não tira da cabeça que tem uma chance comigo. — disse Miranda enquanto levávamos nossas bandejas do refeitório para sabe-se lá onde, já que não haviam muitas mesas para sentar, saímos da escola. — Eu já esclareci para ele, mas eu fiz algo na festa do Jorge que deixou ele hipnotizado por mim.

     — Deve ter sido a provocação que você disse que fez com os dedos. — Disse Ray, e Mira arregalou os olhos, olhando direto para mim.

     Mas não reagi.

     — Nis — me chamou Ray, pelo apelido novo. Ninguém nunca me chamara daquele jeito. — Já pegou alguém na vida, né?

     Pelos seus semblantes, elas esperavam que eu dissesse que uma vez fui desafiada a dar um selinho em um nerd que jogava games o dia todo.

     — Passei por dois relacionamentos e já tive uma amizade colorida com um amigo. — Falava de André.

     — Caralho! — Ray se impressiona. — Jamais imaginei que você seria dessas. Eu nunca namorei, mas já fui ficante de três garotos. Miranda terminou recentemente e ficou com um garoto daqui, na festa que um colega nosso deu no domingo passado.

     Permaneci quieta.
     Angelina, Lara, Eleanor, André e eu éramos inseparáveis. Bem, por Lina e Lara serem mais velhas, eu era mais próxima de Eleanor. André era meu amigo mais próximo, mas... tínhamos uma química muito grande, e não resisti ás encaradas dele, era o único que me deixava tão corada. Isso foi a oito meses. Três meses depois, no aniversário da Luiza, irmã de Lara, que foi uma festa imensa de quinze anos, André me secou quando eu cheguei com aquele vestido vermelho.

     Ele não aguentou. Eu também não. Fomos para o banheiro e ele me beijou. Me tocou toda, e eu o toquei. Saciamos nossa sede, e eu achava que viveria um lindo romance com ele. Quando menos esperava, havia me apaixonado.

     Mas a proposta dele de manter uma amizade colorida me destruiu. Ter um relacionamento aberto e uma amizade colorida... era a mesma coisa para mim. Pelo menos na minha cabeça.

      André só queria mexer com meu corpo. Mas não me importei, se eu pudesse ter o beijo dele, o abraço dele. Contei isso a Angelina, e ela não gostou nada, e arranjou uma briga feia com o André. No final, eles ficaram brigados, e só uma semana depois, se desculparam. André e eu nos afastamos... Até o dia do acidente, quando me embebedei e voltei ás origens.

     — Alanis, bem vinda ao riacho e ao clube dos cinco! — disse Ray descendo para debaixo da ponte que atravessamos.

     — Cinco? — virei a cabeça. — Somos só três.

     — E Deus multiplicou os pães, lembra? — Disse a voz masculina de um moreno, que apareceu de surpresa. — Você deve ser Alanis, estou certo?

     — Sim. — respondi. — E foi Jesus, não Deus,

     — Sou Mars, é um prazer. — Ele sorriu, me ignorando, um sorriso muito, muito largo e contagiante. Mordi o lábio para não sorrir de volta.

     — Ei, Mars, diz que trouxe. — Pergunta Mira.

     — Nada, deixei com o Ravi. — Disse ele, enquanto se sentava e comia o purê de batata servido. — Eu pedi uma caixa a mais e ele cobrou mais vinte e cinco de cada um de nós.

     Não conseguia entender do que eles estavam falando.

     — Vai fumar, Nis? — Pergunta Miranda, de boca cheia.

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora