Ser pega no flagra fazendo alguma coisa considerada errada nesse lugar era a última coisa que eu desejava. Não se passava pela minha cabeça. O senhor Andersen, o monitor chefe, nos levou direto para a coordenação. Ravi e eu parecíamos estar sendo escoltados enquanto passávamos um atrás do outro pelos corredores vazios.
Vazios, já que todos estavam no jogo de basquete.
Nunca senti tanta vergonha e repulsa na minha vida ao ver a cara do vice-diretor do colégio pela minha primeira vez.
— Então vocês dois estavam usando cigarros na sala do clube de xadrez... — anotava ele de olho no computador, com a voz neutra.O vice-diretor era gordo, como se tivesse passado o final de semana todo bebendo álcool. Sua cabeça era tão careca que refletia á luz, e o mesmo ajeitava os óculos meia-lua constantemente. Por estar velho, também era desajeitado. O senhor Andersen estava do meu lado, de braços cruzados.
— Enquanto deveriam estar no ginásio... — ele digitava no computador. — É grave, o assunto. Por acaso já leram o regimento escolar?
Ravi assentiu com a cabeça, eu, ao contrário, neguei.
— Artigo número 7, senhorita Silver. — se virou até mim. — Alunos que portarem bebidas alcoólicas no colégio, ou qualquer droga ou cigarro, deverá ser suspenso de 2 a 4 dias. Mas eu suspeitava já faz muito tempo que andou usando cigarros, Perez, desde o seu segundo ano nesse colégio. Foi esperto, conseguiu esconder por bastante tempo. Até influenciar seus colegas... não foi uma tarefa difícil.
Franzi o cenho, assustada em presenciar Ravi quieto como nunca. Sem sequer olhar para os olhos do vice-diretor.
— Gostaria de saber o que seus pais achariam disso.
Ravi mordeu os lábios, e acariciou os próprios fios dourados. Eu franzi mais ainda o cenho.
— O que o Raú acharia de seu próprio filho, que ele tanto falava e amava antes de você nascer, se o visse fumando como louco? Acho que ele não se decepcionaria muito, não é verdade? — disse o diretor, que logo virou o rosto gordo para mim. — Eu a expulsaria daqui, Silver, se sua mãe não tivesse implorado pela sua matrícula.
Meu coração disparou como um cavalo assustado.
— Sinto muito, senhor... Não irá mais se repetir. — disse eu, tentando me acalmar, tentando fazer ele dizer algo que me acalmasse.
— Oh, sabemos disso! — ele disse, no plural, como se referisse a ele e o monitor. — Mas precisamos, claro, ter certeza que aprenderão a lição. Três dias suspensos será o bastante.
Ravi fechou os olhos, como se xingasse e se debatesse por dentro. Me perguntei porquê ele estava tão quieto, até que o mesmo levantou a postura e acenou para o vice-diretor com a cabeça, e o senhor Andersen nos liberou.
— Merda... — sussurrei, enquanto andávamos sozinhos até os corredores dos dormitórios.
Mas ele ficou quieto.
— Não vai dizer nada? — questiono, impaciente. — Finalmente percebeu que errou?— Cala a boca, Lani. Você não entende. — ele respondeu, com os olhos franzidos.
Nos separamos e fomos para diferentes corredores, onde eu entrei abaladíssima no dormitório.
Cumprir uma suspensão naquele colégio era cumprir uma sentença. Suas notas disciplinas abaixam, seu boletim perde notas, tudo de repente muda, e você tem que esforçar o dobro para passar de ano. Além da sua reputação, já que por incrível que pareça, todos ficam sabendo das merdas que você fez muito rápido.
E fiquei pensando. Pensando muito, em todos os meus inimagináveis defeitos, e em quem colocar a culpa para sair daquilo. Era uma boa ideia culpar Ravi, a ideia do cigarro havia sido dele. Mas fui eu quem aceitei, e não o impedi. Na verdade, fiz pior. Estávamos quase nos beijando.
Aquilo me incomodava, e não consegui dormir a noite.
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Reacendendo-me
Teen FictionEnquanto uma adolescente passa pela fase do luto e do trauma, ela começa a estudar em um instituto interno, e onde espera mais tristeza, na verdade encontra diversos amores e uma vida que jamais imaginou viver novamente. iniciado: 22 de julho de 20...