37 - O fim

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     Uma semana passou. As provas finais me esgotaram, e no fim do sábado, fiquei treinando na quadra para esvaziar a mente, fazendo o treino na parede, como costumava fazer quando era uma mera principiante no jogo. 

     — Você abre demais a mão. Por isso que a bola não volta. —A voz de Angelina ecoava na minha cabeça. — Vai, dessa vez, com força. Junte as mãos, Alanis. Boa!

     Sorri com a lembrança, ao invés de chorar.

    Escutei os passos vindo da porta do ginásio, e soube quem era quando o sol que passara com um feixe de luz pela janela iluminou belos cachos dourados, e um belo par de olhos castanhos. O sorriso dele veio de encontro ao meu, as covinhas também iluminadas. Durante a semana de provas, ele invadiu meu dormitório para me ajudar a estudar, e no contexto, Rayssa e Miranda também eram recompensadas por serem ajudadas. Tudo isso para que no final ele pudesse ter privacidade comigo, e nos beijávamos no corredor. 

    Continuei vendo Dante, mas ele passou a me ver como uma memória antiga e falecida, então me ignorava constantemente, e quando me via acompanhada de Ravi, seus olhos pareciam ferver de ódio, como a pintura do anjo caído. Fred, o narcisista irritante do clube de xadrez, se tornou um ótimo amigo para mim, e relatava tudo que Dante fazia no quarto. Desde socar o travesseiro, até destruir a Lolita. E de como vê-lo chorar era muito esquisito. 

    Antes que eu me sentisse culpada, Fred mencionou como ele era dramático e não tivemos nada demais. Porém, uma gota de remorso me rodeava como um carneiro ferido. 

    — Te devo toda a felicidade da minha vida. — Disse Ravi, segurando meu rosto. — Tenho uma coisa para você. 

    Ele carregava um livro em suas mãos, e isso fez meu coração palpitar de alegria.

    — É de Augusto Cury. — Analiso. — Obrigada, Ravi, obrigada de verdade, mas...

    — Não venha me dizer que não precisava. — Ele me abraçou. — Feliz aniversário, Lani. 

    Deitei minha cabeça em seu abdômen, sentindo seu corpo balançar levemente o meu. Desde que começamos a namorar, compartilhamos tudo que temos direito de saber um do outro, então ele acabou descobrindo que meu aniversário era na primeira semana de dezembro, e providenciou comprar algo para mim no mesmo dia que descobriu.

   — Tem mais uma promessa para cumprir para mim. — Disse ele.

   — Tenho?

   — Claro, é uma questão de vida ou morte.  —  Ele agarrou minha mão e saímos do ginásio. — Cumpra o que promete. 

   — Devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos.  — Citei Nietzsche, enquanto caminhávamos pela mesma trilha que fizemos dois meses antes para chegar ao rio. 

   — Eu devia ter comprado um livro dele para você. É provável que teria surtado de alegria. — ele diz.

   — Tanto faz os presentes que eu ganho, o que importa é quem me presenteia.  — Digo. — Esse lugar é tão extraordinário.  

   As árvores se balançando com o vento é o encanto daquele bosque, e o que nos refrescava enquanto passávamos pela trilha. 

    — Lani, nunca lhe contei, e na verdade, nunca contei a ninguém, mas quando tinha quinze anos, ou seja, não há muito tempo, fiz uma cápsula do tempo.  — Ravi parou, e começou a olhar ao redor.  — Na época, eu nunca experimentara um cigarro, e ainda estava de luto pelos meus pais e pela vida solitária que levava. Mesmo assim...  — Ele procurava por algum sinal na terra.  — Ainda tive esperanças de mudar meu futuro, e por isso, quero abri-la contigo. E fazer uma nova. 

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora