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     A última festa que eu fui era uma festa estilo boate de adolescentes e minha irmã e eu fomos convidadas a comparecer, e foi lá que eu fiz a maioria das coisas que já não faço a um bom tempo. Temos uma idiota mania de quando estar perto de completar a idade seguinte, começamos a dizer que a temos. Apesar de eu ter 16 anos, dizia para as pessoas que tinha 17, apesar de faltar ainda oito meses para meu aniversário. Era uma forma de mostrar que na verdade eu estava alcançando os 18 e não havia problema em dançar, beber, festejar, e tudo mais. Nunca fui uma garota problema e encrenqueira, mas gostava de desafios.

     E claro, Angelina estava comigo.
     Ainda me lembro de quando ela me colocou naquele vestido de tubinho preto tomara-que-caia e vestiu um short branco com uma camiseta de renda. Lina nunca teve o corpo padrão das modelos, e era bem fortinha, apesar de eu ter alguns traços de nossa mãe e parecer uma varapau, fui conquistando massa muscular com o tempo. Mas, mesmo com isso, ela ainda conseguia ser a garota mais linda da festa. 

     Conheci um cara de 18 anos chamado Lars, que mais parecia uma planta. Não sei como me interessei por ele, mas me lembro bem de como beijá-lo foi ruim. O forte ardor na boca dele era de bebida, cigarro e uma mistura de vodca com whisky. Ainda de brinde tinha uma barba que arranhava muito, muito mesmo, e tentei não deixar isso me abalar quando ele disse "você tem gosto de morango". Eu tinha comido alguns antes de ir até lá, e não bebera nada até ele me convidar, já que minha irmã havia sumido quando o cara me levou para o balcão e me deu uma dose de gim. Ele me convenceu de beber muito, muito mesmo, e fiquei bêbada. Muito bêbada.

     Sei dessa história por relatos de Lina, já que ela apareceu bem na hora que ele me carregava para o banheiro, onde eu iria vomitar. Mas não era verdade, e por sorte, Angelina me viu e o barrou. Lars tentou passar por ela mas minha irmã jogou o copo de energético dentro de seu olho me fazendo cair no chão quando me soltou. Ela me contou que eu dava risadas muito altas chamando a atenção de todos enquanto bambaleava para os lados. Passamos pela multidão que nos encarava, e ao chegarmos em casa, ela me deu um banho de água fria.

     Minha irmã quase arranjou uma briga. Por mim. E nunca terei a chance de retribuir...

     — ACORDA, PORRA! — Gritava a voz fina de Ray colocando a calça preta... do uniforme. — NÃO VAI DAR TEMPO ASSIM!

     — São 05h30... Só mais cinco minutos, o uniforme é pequeno... — Bocejei.

     — Acho melhor levantar agora, Lani, se quisermos passar na coordenação para pegar seu novo horário. Parece que a Dorama o trocou de última hora já que chegaram muitos alunos novos semana passada. — Disse Miranda, calmamente.

     — E AINDA TEM O CAFÉ DA MANHÃ! — Gritou Ray, do banheiro. — AS TORRADAS COM GELEIA DE MORANGO COM PEDAÇOS VÃO ACABAR!

    — CALA A BOCA, RAY! — Gritou Mira, engrossando a voz. Rayssa não disse mais nada. — Temos vinte minutos ou talvez mais para nos arrumar, dez para ir até a coordenação pegar seu novo horário e mais vinte para tomar o café da manhã no campus. Ás 07h15 precisamos estar dentro das salas de aula. Rápido, Lani!

     Miranda ontem a noite enquanto conversávamos antes de dormir decidira sozinha que "Nis" eram um apelido muito feio e lembrava o barulho de uma cobra. Depois de ficarmos quinze minutos imitando cobras e rindo bastante — e rindo mais um pouco depois de Ray dizer que estávamos imitando a Tori — ela decidira que "Lani" deveria ser meu novo apelido. Menor, mais bonito e mais rápido de ser dito.

     Assim que saltei da cama, peguei minha escova de dentes e fui direto para o banheiro. Tomei um banho quente de praticamente vinte segundos e quando me parei diante do espelho, pude ver melhor minha imagem.

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora