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     No dia seguinte, prometemos não beber nem uma gota de álcool. Estava dormindo bem, até um sol escaldante invadir minhas pálpebras e obrigá-las a se abrirem. Minha primeira visão do dia foi Miranda em sua cama calçando o que deveriam ser coturnos.

     — Levante-se, Lani! Temos um grande dia pela frente. — disse ela.

     Ela havia feito um penteado bem estranho em seu cabelo, e disse que deveria ser a nova moda das meninas. Basicamente, o penteado consistia em prender uma mecha só do cabelo em partes com ligas elásticas, e eu comentei como aquele formato de "fita dupla em espiral" parecia de um DNA. Mira sorriu, e disse que aquele poderia ser o nome do penteado. Enquanto isso, eu fiz um coque, e como meu cabelo era extremamente liso porém assustadoramente cheio e bagunçado, tive que afrouxar para não doer a raiz capilar.

     Eu calçara um tênis all star preto, também.

     Logo, nos vimos andando em fila indiana com Ravi pelo bosque, e de acordo com ele, quanto mais andássemos mais fundo, chegaríamos em frente a um rio. O famoso rio Dourado. E depois desse rio, havia uma fazenda, e antes que qualquer uma de nós duas perguntássemos como atravessaríamos o rio, ele disse de primeira "nadando" e Mira arregalou os olhos.

     — Eu não sei nadar!

     — Tem um caminho de pedras mais a frente, mas teríamos que andar muito, muito mais. — ele a responde. — Alanis, você também tem medo de água que nem a Mimi?

     Ravi chamava Miranda de Mimi quando queria irritá-la. Eu percebi isso quando jogavam xadrez juntos.

     — Não tenho medo de água! Só não sei nadar. — Ela rosnou. — Você é um canalha.

     Optamos por nadar. De qualquer forma, não havíamos levado uma mochila pequena com outras roupas dentro atoa. Só que a parte de precisar obrigatoriamente nadar não estava nos planos, e Ravi sabia disso, por isso nos pegou de surpresa.

      Assim que nos aproximamos do rio; não tão comprido, por sinal, Ravi tirou a camisa e entrou na água. De acordo com ele, a água estava morta, e não deveríamos pular já que era raso e tinha muitas pedras. Mira, que usava um crooped de crochê de margaridas sem mangas, o tirou devagaramente e ainda o segurando, entrou de short e sutiã de top. Fechou os olhos, esperando por uma água gelada, mas Ravi lhe deu a mão e a ajudou, porém, em risadas.

     Na minha vez, por estar usando calça, precisei tirar tudo. Por sorte fui completamente preparada e minha calcinha era em formato de short e o sutiã... era casual.

     — Amiga? Que sutiã sexy. — disse Mira, quando eu entrei na água.

     Estava com medo de Ravi olhar para mim. Não sei porquê. Talvez fosse uma insegurança que eu tivesse com garotos verem meu corpo tão intimamente, que eu sempre tive. Nunca, em toda minha vida, deixei um ficante meu ver meu corpo.

     — Ok, a correnteza está muito forte, então mantenham-se firmes, as pedras estão escorregando. Vou guiar o caminho. — disse ele, sem se virar.

     — Como sabe quais lugares são fundos e quais tem as pedras? — perguntei, metade da coxa abaixo d'água.

    Ele parou para respirar.
     — Eu sempre venho aqui nos feriados.

     Não perguntei a Ravi se ele ia para casa. Era órfão, então provavelmente os avós ou os tios cuidavam dele, ou melhor, da matrícula e dos materiais dele no colégio. Também se responsabilizavam em autorizações.

     Mira, então, de repente nos assustou ao dar um grito levemente agudo ao escorregar em uma pedra cheia de lodo. Ela acabou caindo e mergulhando, e eu caí na risada. Estávamos no meio do rio.

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora