22

9 2 0
                                    


     Quando vi a jogadora que substituiría Ravi no treino de vôlei, deixei completamente de ser vaidosa como estava, depois dos elogios que Mira me fez. Suzi, que havia chegado e feito uma manchete com a bola para mim, mostrava um rosto preparado para contar uma fofoca de poucos segundos. Seu cabelo cor de mel balançava-se ao vento.

     — Não sabia que a Carla Marquez jogava vôlei. — disse ela, quebrando minhas expectativas.

     — Ravi é um enxadrista fumante que eu vou atropelar no futuro como vingança. Ele colocou a Carla para substituí-lo, e a garota jogou duas vezes na vida! — explicou Ray, prendendo o cabelo. — A interclasse foi para o lixo. A Tori vai ganhar de nós, ela tem o time perfeito.

     — Quem sabe não conseguimos ensinar a Carla o quanto antes? — perguntou Iuri, sempre quieto. — A interclasse é só daqui três meses, e duvido muito que vamos jogar contra o time da Tori.

     Procurei por Mira, Ravi e Mars nas arquibancadas enquanto meu time discutia, mas vi apenas os meninos. Mars mandou um tchauzinho quando notou que eu olhava para ele, e Ravi prestava atenção em um Game Boy. Quando vi os outros andando até Carla, me senti obrigada a segui-los.

     A primeira coisa que vi ao me aproximar de Marquez foram seus lindos olhos azul claro, quase cristalinos como um diamante branco. Luma passou na minha frente e chegou perto de Ray, que era capitã do time, como se quisesse estar, claro, com a melhor.

     Carla estava com a bola na mão, o número 09 na camisa esportiva e assim como Suzi, deixara os cabelos soltos. Não eram curtos como os dela, na verdade, era muito comprido, e visivelmente descoloridos a uns meses, ao ver mechas castanhas saindo de sua raiz, o que deixava ele mais dourado era a pele bronzeada e o quadril marcado a deixava mais linda ainda, não era atoa que Ravi andou ficando com ela. Ela era uma deusa...

     — O quanto sabe? — perguntou Luma.

     Carla bateu com as mãos na bola, os ventiladores fazendo seus cabelos espancarem seu rosto.

     — Sei fazer manchete e defesa. Claro, Ravi me ensinou um pouco. Juro, sou melhor do que pensam. — Disse ela, encarando o olhar mortal de Luma.

     Enquanto Ray ficou ensinando algumas novas ideias para ela, eu comecei a observar o espaço ao meu redor. Costumava ficar meio voada nas aulas de educação física antes de jogar vôlei, pensativa. Desde criança, eu sempre fui pensativa, como por exemplo, no oitavo ano, quando comecei a ter aulas de filosofia. Minha professora da época se chamava Raphaela, e sempre passava pensamentos filosóficos e perguntas de filosofia para respondermos, como "você é feliz?" e essas coisas. Minhas respostas eram sempre reflexivas, e ela me perguntou se eu me interessava em cursar filosofia. Então, comecei a refletir sobre isso, e na verdade, ser professora de filosofia começou a ser meu sonho desde então.

     — Lani, foca! — Luma bateu palmas na minha frente. — Vamos começar o treino.

     Ela empurrou Carla para o central, que agora prendera a cabeleira magnífica em um coque meio frouxo, e de relance, vi Perez lançar um beijo para ela quando fez a posição de preparação. Respirei fundo, ainda mais quando vi meu ficante passar pela porta e ser recebido por Mars. Por isso, quase não vi a bola chegando diretamente até mim. Meu toque por cima foi tão ruim que recomeçamos de novo, e Iuri sacou de novo. Nos treinamentos, jogávamos em trio.

      Quando olhei para Dante, o mesmo piscou pra mim. Viu que eu usava o seu presente.

      Enquanto Carla e Luma (meu time de trio) faziam manchetes, eu esperava perto da rede para lançar. O que aconteceu em seguida foi mais humilhante que qualquer coisa: a manchete de Carla foi tão ruim que a bola foi parar direto no meu rosto. Com a velocidade, e a força, só senti a dor, seu erro foi jogar com a mão aberta impulsivamente. O impacto da bola no meu nariz foi a sensação de levar um soco do Clark Kent. Disse anteriormente que sofri uma humilhação pois isso fez o jogo inteiro parar e virem até mim. O técnico, sr. Beddor, que estava nas arquibancadas do ginásio comendo um lanche e nos assistindo, também se aproximou.

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora