Arquibancadas transbordavam. Gritos de motivação. Coração disparado.
Foi o que eu quis sentir depois de longas semanas (que se transformaram em meses) esperando esse dia chegar. Fazia um ano desde meu último intercolegial, na minha antiga escola, onde eu e meu antigo time vencemos, claro, e a causa disso tudo era Lina. Entrei nos trocadores no canto do ginásio com todas as meninas lá dentro, incluindo Ray, prestes a entrar no chuveiro.
— Vai logo, Lani, seu uniforme tá no armário. — disse ela a mim, como sempre, apressada. — Vai lavar o cabelo?
— Lavei ontem, e já tomei banho. — explico.
— Perfeito. Avisem se a Carla chegar. — ela disse, antes de entrar no box, para mim e Luma, que se maquiava com um espelho pequeno.
O cabelo dela, que antes era vermelho, havia sido recentemente tingido de roxo e cortado a franja, tudo sozinha.
— Ei, tu ficou gata. — disse Luma de repente, e lhe encarei confusa. — O corte.
— Valeu.
— Me lembro da primeira vez que cortei o cabelo sozinha. — Luma continuou. — Eu tinha doze anos e estava em uma crise de ansiedade, já que no almoço de família, meu tio fez uma coisa comigo, e... não aguentei.
— Sinto muito... — foi a única coisa que eu disse.
— Está tudo bem agora, ele foi preso. — disse ela, saindo do trocador, depois de calçar seu tênis.
Comecei a me trocar. Tirei a calça jeans e a regata, e coloquei o short, a camiseta do time com o número onze e coloquei os únicos tênis que consegui pegar sem me atrasar: all star preto, cano alto, ultra confortável. Imaginei que conseguiria jogar com eles.
A porta se escancarou e Miranda veio ao meu encontro velozmente.
Era sobre o torneio de xadrez, jogos recreativos estavam inclusos no intercolegial esse ano. De acordo com ela, não iria poder jogar hoje, e apesar de ter ficado um mês inteiro chorando por causa de seu término aparentemente insuperável, ainda não queria nosso suporte e sequer compartilhar suas dores conosco. Ray sabia muito melhor do que eu como a Miranda era, e segundo ela, aquela situação estava muito fora do normal.
Então, me lembrei de que certa vez, na segunda vez que terminei meu relacionamento, me tranquei por dias no quarto chorando e bebendo de madrugada escondida dos meus pais, e Angelina sabia disso. Ela conferia meus pulsos e minhas coxas todos os dias e escondeu todos os objetos cortantes de mim. Claro, não passava pela minha cabeça em fazer nenhuma besteira, apenas me afundar em minhas próprias lágrimas com uma pitada de álcool, mas ela queria ter certeza.
Por conta desse acontecimento, senti a estranha necessidade de conferir os pulsos da minha melhor amiga, e segurei os ombros de Miranda, sem pedir, estiquei o braço dela.
Meus instintos nunca estiveram tão corretos. As marcas esbranquiçadas em seu pulso iam de cicatrizes até cortes recentes, ensaguentados, grandes, pequenos, mas tantos que dava vontade de chorar. E eu senti o coração de Miranda bater mais forte.
Olhei diretamente para seus olhos, sem conter a expressão de pena. Como eu não havia visto nada daquilo?
— Me desculpa, Lani, eu... — a interrompi com um abraço.
— Está tudo bem, Mira. — sussurrei em seu ouvido, ao sentir suas lágrimas frias molharem meu pescoço. — Mas você não merece isso.
— É que... Ele me superou tão rápido, e, e está saindo com a Carla Marquez agora! Eu juro, não aguento mais isso, é tão... — ela chorava.
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Reacendendo-me
Teen FictionEnquanto uma adolescente passa pela fase do luto e do trauma, ela começa a estudar em um instituto interno, e onde espera mais tristeza, na verdade encontra diversos amores e uma vida que jamais imaginou viver novamente. iniciado: 22 de julho de 20...