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      Mars me contou que quando um aluno desse colégio leva uma detenção, advertência ou repreensão, cai um recado no site de supervisão escolar de pais, que o colégio criou para os responsáveis ficarem alertas sobre o comportamento dos filhos. Ou seja: Deve ter chegado uma mensagem no celular dos meus pais sobre minha detenção, e claro... a razão dela. Se minha mãe sequer viu, não ligou.

     Tive a impressão de que ela estava com raiva de mim.

     Porém, meu pai ainda se importava comigo, e recentemente eu descobri que minha avó paterna havia se mudado para nossa casa, para ajudar meu pai com assuntos domésticos, já que ele trabalhava constantemente. E claro, como uma avó muito esnobe e exigente, ela conferia o site de supervisão dos pais todos os dias. Então, recebi uma ligação dela na sala da Dorama, no dia seguinte da minha detenção, o que me fez perder a primeira aula.

      — Querida, pode me dizer o que está acontecendo? Eu te conheço desde novinha, Alanis, e nunca, nunca imaginei que cresceria e se tornaria... isso! — minha avó dizia, no telefone, e eu só respondia com uma respiração. — Tem sorte de que seu pai está ocupado demais para de lembrar de supervisionar seu boletim escolar, mas estou decepcionada com as notas!

      — Eu estou com notas acima da média em todas as matérias, vó. O que tem de errado?

      — Claro! Um 7,0 parece perfeito para você! Mas isso deve mudar. A detenção foi a melhor solução. — ela tossiu. — Saiba, Alanis, que seu tio morreu com um cigarro na boca. Você conhece essa história, e não quero nem saber onde ele foi parar. Deus abomina o cigarro, faça uma oração de perdão antes de começar a detenção. E nunca, nunca mais quero saber da minha neta fumando, e pare de andar com pessoas deste estilo de vida! Entendeu?

     — Sim, vovó.

     — Prometo que não contarei nada ao seu pai. E muito menos para sua mãe, já que fiquei sabendo que ela está usando entorpecentes e se afundando nesse mundo louco das drogas. Não quero isso para você, minha neta. — disse ela, e desligou o telefone. Sem ao menos se despedir.

     As vantagens de ter algum tipo de contato com minha avó paterna era que ela podia me humilhar de diferentes formas, mas nunca, nunca me comparou com minha irmã desde que ela se foi. Mesmo que ela e minha mãe tenham brigado muito por conta de desentendimentos, Angelina nunca foi o problema. Meu temperamento era similar ao da minha mãe, e o de Lina era similar ao do meu pai, por isso vovó Agnes mimou Lina mais que eu.

      Fora isso, essa foi a maior atenção dela que já recebi em toda a minha vida.

      — Está atrasada. — disse Dorama, de olho no computador. Vi o relógio e arregalei os olhos. — Ande logo para a sala, ou terei que contar como falta.

       Sem lhe responder, fui correndo para a sala de detenção, onde encontrei o senhor Andersen conversando no telefone de frente para a janela e Ravi absorto para os próprios pensamentos, ignorando o regulamento em sua frente. Fui para o meu lugar e abri a apostila com todos as regras da escola.

       Se minha avó dissera que eu não deveria me meter em problemas, então não me meterei em problemas.

      — Certo, senhor... Eu entendo muito bem. Sim. Sim. Tchau. — O monitor dizia, rapidamente, após desligar o celular e pegar sua maleta. — Atenção vocês dois, não tentem nada. Eu volto em dez minutos.

      E saiu.
      No mesmo instante, Ravi, o que minha avó chamaria de caçador-de-encrenca, se levantou, e se sentou na cadeira dele.

      — E se a gente fingir... Que tá fumando? — ele disse, enrolando um papel. — Assim, veja.

      E o colocou na boca, soprando uma fumaça imaginária. Eu sorri.

      — Não faça merda de novo.

      — Mas eu estou só colocando um pedaço de papel na boca! Quanta opressão. — disse ele, entre risadas.

      — Estou falando sério, sai daí. — eu repito, fazendo um gesto com as mãos.

      O garoto bagunça os cabelos, e roda a cadeira giratória, fazendo barulhos com seu tênis. E então, se volta para mim.

      — Vem me buscar, Silver. — ele falou.

      Não havia câmeras na sala de detenção. Não havia nenhum monitor. Então, fui ao encontro dele.

      Ravi era um dos poucos garotos que me apaixonei além do seu jeito de me tocar. Todo relacionamento que passei, eu admirava o beijo dos rapazes, mas nunca os seus olhos. Sempre admirava sua voz, mas nunca seu sorriso. Todos os garotos que já disse que amei foram amados pelo jeito que me trataram, e os amei exatamente pois me amavam. Mas ele não. Eu não sabia o que Ravi sentia por mim, se sua intenção era me usar de ficante ou estava me dando um golpe.

      Mas, desde o dia em que ele falou dos meus olhos pela primeira vez, eu sinto que estou apaixonada, e até para mim mesma estou omitindo essa verdade. Que quando estou ao seu lado, não são apenas os cigarros que corroem meu pulmão, mas também as borboletas que reviram meu estômago. Assim que eu sinto seu olhar em mim, essa ansiedade me prende, e é completamente diferente com Dante. Ravi não precisou me beijar para me conquistar, ele só é ele mesmo, e pronto. 

     Me aproximar dele era uma tarefa difícil. Ainda mais naquela sua posição, sentado na cadeira do monitor. 

     — Mais perto. — Ele sussurrou, me vendo ali, parada em sua frente. 

     Entendi o que ele queria, quando me aproximei o suficiente para ele me abraçar sentado, enquanto eu permanecia em pé, acariciando seus sedosos cachos dourados. Ele passou a mão nas minhas costas de uma forma suave, sem maldade alguma. Ele só queria me abraçar, e eu ficaria naquele abraço para sempre.

     — Você é incrível, Ravi Perez. — eu sussurrei, e ele sorriu, olhando da minha boca para minha pupila. 

     — Você é extraordinária, Alanis Silver. Eu daria tudo para sentir sua boca agora. — diz ele, enquanto segura minhas coxas em um sinal para que eu me sente em seu colo. — Confesso que desde que eu te vi com aquele sutiã preto, no rio, eu não paro de pensar em te abraçar sem ele. Eu não paro de pensar em te encher de beijos, e acordar todos os dias e você ser a primeira coisa que eu vejo. — Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — E não queria expor, mas pirei quando vi seu cabelo. Você combina com esse corte.

     — Eu te amo. — soltei, sem esperar mais uma palavra, e ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas não conseguia. — Eu... sinto isso por você. Meu orgulho dizia não, mas no fundo, sabia que deveria ser contigo que eu deveria ficar. Eu te amo, Ravi Perez.

      Mais uma vez, silêncio. Meu coração começa a acelerar, como acontece quando fazem suspense por um segredo. Eu revelei minha verdade, e queria saber a dele. E queria muito mesmo que fosse amor correspondido. 

      — O Andersen tá voltando. — ele disse, por final, e corremos para nossos lugares. 

      Sem seu toque, meu corpo esfriou. Mas o que deixou meu coração mais frio ainda foi não ter uma resposta.

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora