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     Ninguém estava falando sobre a falta de cigarros no clube debaixo da ponte e nem sobre Miranda ainda estar chorando por causa do namorado. Eu comecei a ler uma autobiografia da biblioteca e tenho parado apenas lá, frequentemente a biblioteca tem sido meu lugar de paz e não aguentava mais ver Mira desenhando Cal como uma idiota apaixonada. Conversei mais com Ray sobre Ravi e ela, mais uma vez, negou tudo me deixando cada vez mais para trás. Como se convencia alguém de ficar com uma pessoa?

     — Tá rolando alguma coisa no campus — disse Ray de repente, olhando para a escola, de longe. — Ai meu Deus, aconteceu alguma coisa séria!

     Nós todos corremos e a forma como Mars ficava para trás como um sedentário ridículo fez Miranda rir tanto que se esquecera de esconder a cerveja, e portanto, quando vi os montes de professores em volta dos dormitórios, peguei a garrafa da mão dela e arremessei para a floresta. Então, um homem alto, bigodudo, com um apito e um crachá em volta do pescoço e de braços cruzados passou por nós, correndo até a reunião de alunos. Era o monitor.

     Alguns xingavam, gritavam, cochichavam, mas não conseguia entender o que raios estava acontecendo ali. Até que Ray, que havia desaparecido de mim e Mira, aparecera correndo e esbarrou na multidão.

     — Esse é o dormitório de Lynda Martinez. — Ela dizia mais para Mira do que para mim. — Lembra de quando o Mars a pegou fumando atrás das arquibancadas no ginásio e ele disse que subiu um cheiro fortíssimo de maconha?

     Miranda arregalou os olhos.
     — Era maconha!?

     — É maconha! Encontraram drogas puras no quarto da Lynda e a Alissa é cúmplice. Ah, e a Sara saiu puta já que não sabia que tinha maconha escondida debaixo da cama dela. Ela jura por Deus, disse com essas palavras. — Ray explicou.

     De longe, vi uma menina de pele escura, com o cabelo trançado, chorando no telefone, e Dorama estava com a mão literalmente no coração enquanto conversava com outra menina menor que ela com os cabelos pintados de vermelho que soluçava muito, aos prantos. Do lado delas, um policial.

     — Deduradas. — Disse Mars, depois de conversar com uns amigos. — Lynda e Alissa foram deduradas.

[...]

    Fomos obrigados a assistir uma palestra de 40 minutos dada pela diretora, e finalmente pude conhecê-la. Uma mulher de cinquenta anos rica e cheia de plásticas, resumidamente. Depois disso, simplesmente me lixei para o que acontecia e fui para um ginásio vazio e peguei bolas de vôlei para treinar manchete na parede.

     Tudo parecia bem até uma figura ruiva passar pela porta, como uma assombração.

     — Alanis Silver. — Tori cantarolou. — A quanto tempo não falo com uma competidora á altura.

     — Estava esperando eu ficar sozinha para poder falar comigo do jeito que é de verdade? — falei, continuando a treinar na parede.

     Ela colocou as mãos no bolso.
     — Eu estou aqui para fazer uma proposta para você. — Sorriu de um lado quando parei de bater a bola. — De entrar no meu time.

     — Já não tem jogadores suficientes? — pergunto, tentando, apesar de falhando, tentando parecer "superior".

     — Posso abrir mão de um. — ela chegou mais perto de mim. 

     — E o que eu ganho indo para seu time? — arrisco.

     — Hum, vamos ver. — Tori coloca as mãos para trás enquanto pega a bola da minha mão. — Você vai ter um time de verdade. Amigos populares e garotos muito gatos na sua cola. Você não vai precisar ficar presa a essa gente problemática que joga sujo. — cuspiu as últimas palavras.

     Tori tinha olhos repuxados. Não chegava a parecer oriental, mas eram, de alguma forma, repuxados, como se quando olhavam para mim, com aquela boca carnuda meio mordida, fosse uma raposa astuciosa me persuadindo para ficar com minha carcaça, enquanto eu era um lobo que ela sabia que seria difícil ser contra. E se bem que meu olhar era realmente lupino.

     — Pense bem nisso, a maioria das pessoas quase implora para fazer parte do meu time. — e soltando uma risadinha, saiu do ginásio.

     Sentei-me no canto da janela na sala do sr. Duarte quando começou a escrever mais uma frase de Nietzsche, falando sobre o inimigo mais perigoso que podemos ter somos nós mesmos, mas estava ocupada demais — não pensando na oferta de Tori, aquilo estava fora de questão — mas no cabelo castanho escuro arrepiado e na boca sensualmente entreaberta de um garoto duas carteira á minha frente, que anotava a frase. Não, eu nunca o havia visto desde que entrei naquele lugar, mas meus olhos pararam nele e não saíam mais.

     Nunca quis tanto beijar uma boca rosada quando a de Dante Leblanc, e o que mais me chamara a atenção nele foi o livro de Machado de Assis debaixo da mesa. Deus, aqueles olhos vidrados na lousa estavam me deixando louca.

      Desviei o olhar para as árvores se balançando fortemente pelo vento lá fora, sentindo um olhar julgador vindo de dentro de mim. Eu tinha um grande defeito que se até eu mesma tinha vergonha disso, podia ser considerado; com letras maiúsculas; O Grande Defeito, que era: Sempre me apaixonar, mas nunca amar de verdade.

      A aula acabou e Dante foi o primeiro a se levantar com um exemplar de Machado de Assis na mão e uma garrafa de água na outra. Coloquei a mochila nas costas com dificuldades, como se estivesse pesando um chumbo, e vi Ray pela janela fazendo um sinal para nos encontrar no esconderijo naquele instante, mas quando saí, escutei meu nome soletrado.

     — Srta. Silver. — disse o professor, quando a sala se esvaziou. — Precisamos conversar sobre suas redações, e sua atenção em sala de aula. — Ele colocou todas as 4 redações que ele pediu em cada semana que tivemos aulas dele.

     Tive tempo para observar como minha caligrafia era pequena e sem graça.

      — Seus textos estão cada vez mais monótonos. Não li nada do que esperava aqui, e confesso que a maioria da turma fez textos melhores que isso. — disse o sr. Duarte. — Eu li seu histórico escolar. Todos os professores leram, sei que pode fazer melhor que isso. Até o fim desse bimestre, eu quero que refaça apenas uma redação sobre o que eu mostrei durante o mês. A filosofia de van gogh e o quadro Lírios, principalmente.

     Encarei todas as redações que me esforcei para fazer. Praticamente em vão.

     — Não sei expressar meus sentimentos. — confessei, balançando a cabeça, e pausei um tempo para completar: — e isso é aula de filosofia, não de redação.

     O sr. Duarte me observou bem.
    — Bom — arqueou o cenho enrugado. — Mas precisa de uma nota para filosofia, fazendo uma redação. Eu irei te dar uma chance até o dia 30. Senão irá bombar feio na matéria, quando pegar seu boletim.

    Desviei o olhar para a janela, para o bosque pouco depois do campus, enquanto pegava minhas redações de volta e enfiava na mochila. Assenti para o professor, completamente mentirosa e finalmente saí.

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora