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      Certa vez, Angelina me disse numa viagem de carro entre nós duas que existem três formas diferentes de se matar sem ser considerado um suicida. Fumar, amar e beber. Ela disse isso em um momento de término, onde refletia sobre a vida mais que chorava por ter se submetido a aquilo. Ela disse aquilo para mim para que eu lembrasse de nunca, nunca praticasse os três de forma excessiva e viciante.

      No fim, Lina estava certa. E, no final, amei dois garotos, e eles me abandonaram. E já pude sentir como o cigarro consegue devorar meu pulmão tão rápido.

      Mas é crime tentar dar sentido á filosofia.

     Logo, uma semana se passou. Elaborei a redação na escrivaninha do nosso quarto, em um pleno domingo, enquanto Ray tentava ensinar uma equação impossível de álgebra para Mira, que quebrava a cabeça com isso e as duas acabavam brigando, como um casal de velhos. No dia seguinte deste, Dante me mandara um bilhete dizendo para encontrar-se comigo na hora do almoço, o que significava dispensar o almoço no esconderijo. Então, para minha surpresa, recebi uma notícia de supetão na segunda aula.

     Fer saltitou até meu lado quando me viu na aula de trigonometria, com um sorriso enorme empurrando as bochechas coradas.

      — O sr. Claude a convocou hoje a tarde para a partida, ele lhe dará uma chance. — Contou ela. — Ás 15 horas, estará disponível?

      — Tenho aula de biologia... — franzi a boca. — Acaba só ás 15h30, a não ser que eu saia mais cedo. — dou de ombros.

      Fer jogou os cabelos loiros escuros para trás de súbito, arregalando os olhos verdes.

      — Tente fazer dar certo, seria muito bom te ter no clube. — ela sorriu. O professor então se virou.

      — Fernanda Romero... — o professor disse, em tom de advertência. — Este não é seu lugar.

      Pensei bastante sobre a partida de xadrez com o sr. Claude e desenhei um tabuleiro na carteira com a intenção de treinar as jogadas. Eu precisava ter mais atenção que em qualquer outro jogo, e não devia me sentir pressionada. Tudo bem se eu não passasse, tudo bem que a única vez que ganhei foi quando Ravi me cedeu um xeque-mate. Tudo bem, estava tudo bem...

      — Está tudo bem? — Ouvi a voz do professor, quando senti sua mão em meu ombro. — Parece pálida.

      — Estou... — Respondi, me sentindo tonta. — Talvez pensando demais.

     Aquele estava sendo um dia definitivamente ruim. Os meus pensamentos oscilavam, eu não conseguia parar de pensar em três coisas diferentes: A partida de xadrez, interclasse e em Angelina, que ainda martelava na minha cabeça. Dante também saltitava no meu cérebro: se deveríamos 1) continuar como ficantes e ver até onde isso vai, 2) acabar com tudo de uma vez por todas, ou a opção que mais me assombra, 3) ser algo mais.

     Ele era um bom garoto, mas não tinha certeza de nada. Nos conhecemos apenas para ter alguém em quem dar uns amassos e quando percebera, estava apaixonado por mim. Mas morria de medo de relacionamentos unilaterais, e sentia que não era boa o suficiente para Dante Leblanc.

      — Sabe jogar? — Pergunta ele, enquanto almoçava e colocava o baralho na mesa.

      — Apenas um pouco de truco.

      — Posso te ensinar a jogar cacheta. Sabe, eu e minha avó adoramos jogar juntos quando estou em casa. — disse ele. — O que você faz com a sua avó?

      — Bom... sou meio afastada dela. — dei de ombros, pensando em minha avó paterna.

      — Vou te ajudar com isso. — ele distribuiu as cartas. — Foi... Ravi quem lhe ensinou a jogar xadrez?

Reacendendo-meOnde histórias criam vida. Descubra agora