Estou Exausta

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“A saudade é uma sala de espera em que a gente se senta e não sabe quando vai ser atendido”

Lucão

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Sete dias no Brasil 

Talvez seja mais fácil contar as partes boas e depois as ruins. Vai ficar mais organizado.

Pude matar a saudade da mamãe e do papai, da casa, do meu cachorro. Engordei uns cinco quilos em uma semana.

Minha mãe faz todo dia algo que eu gosto de comer no almoço e o meu pai faz na janta.

Todo o tempo que passo com eles parece não ser suficiente.

Revi a Jess, minha amiga do ensino médio. 

A Jessica e eu somos do tipo de amiga que não importa quanto tempo passe, sempre que nos encontramos nada muda.

Não havia cobrança nem drama entre nós. 

Era como uma segunda feira de aula. Passávamos os finais de semana separadas, mas tudo bem, segunda feira teríamos uma a outra de novo. 

No nosso caso, as vezes finais de semanas podiam durar dias, meses ou anos, estava tudo bem, quando nos víssemos seria como uma segunda feira.

Essas foram as melhores partes. 

Ter que adaptar com o fuso horário estava sendo horrível, eu dormia picado por algumas horas da manhã e depois no final da tarde. 

Minha mãe não parava comigo, ela me fez ir na casa de todas as tias, nos primos que não moravam mais com as mães, nos vizinhos que me viram crescer e até com os amigos dela da igreja. 

Eu teria classificado isso até como uma coisa boa, mas não dava por dois motivos. 

1-    Eu tinha que fingir que estava tudo bem e que estava muito feliz. 

2-    Ter que responder à pergunta “Por que voltou para o Brasil?” 

Não teve uma só vez que eu não sentia uma parte de mim se desfazer com essa pergunta.

É claro que a minha resposta era genérica “estou com outros projetos, só passei aqui pra dar um oi”, mas a verdade, todos nós sabemos.

A pior parte era eu me sentir perdida.

Não sinto que falhei se tratando da minha carreira e nem que tudo tinha dado errado.

Meu sentimento de não saber o que fazer estava atrelado a falta que todos os meus amores me faziam e a cada dia que passava o buraco no meu peito ia aumentando e eu estava ao ponto de enlouquecer. 

Trinta e dois dias no Brasil 

Criei uma rotina intensa, decidi preencher todas as horas com o máximo de atividades que conseguia fazer.

Entrei em contato com a empresa do Canadá que me sondou na época que  estava fazendo o processo seletivo da BH e me escrevi para uma nova contratação. 

Na primeira etapa íamos fazer uma prova, era um peneirão para eliminar vários candidatos, depois teria outra prova oral visando checar nosso nível em inglês e por último uma entrevista com os dez melhores colocados, mas haviam apenas três vagas. 

Montei um cronograma de estudos, estava estudando inglês, a história e todas as diretrizes da empresa, atualidades do mercado de trabalho e novas tendências, principais leis do país e coloquei também alguns tópicos sobre cultura, alimentação, clima e tudo que eu precisaria saber se desse certo. 

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