Taehyung pressionou as mãos na cabeça depois de fechar a torneira e colocar um punhado de água na boca, tentando tirar o gosto amargo que ficara. No espelho retangular preso à parede, podia notar como já estava abatido: os olhos sem brilho não eram uma surpresa, mas ficaram ainda piores desde o início da quimioterapia.
O gosto da bile subiu à sua garganta outra vez, mas se esforçou para voltar ao lugar onde deveria estar. Era a segunda ou terceira vez que vomitava na semana e ainda era uma quarta–feira.
Seu estômago sofreu uma fisgada estranha outra vez e encolheu o seu corpo. Com um gemido de dor, ele se sentou atordoado no porcelanato frio do banheiro. Suas mãos rodearam a própria barriga e apertaram a região, como se isso afastasse a sensação.
Seu corpo ainda não estava reagindo muito bem ao tratamento.
A dose de remédios via intravenosa era feita duas vezes por semana e já estava na quinta sessão. Sempre sentia seu corpo fraco depois da medicação e nem sempre podia ir para casa na companhia de Jungkook, pois ele precisava trabalhar, então tinha a colega professora que ele considerava como uma segunda mãe, Margareth, como companhia — mas ainda não substituía a ausência que o Jeon fazia por não poder estar sempre com ele.
E naquele momento, ele queria mais do que tudo o marido ali.
Já eram sete e meia e não havia sinal do rapaz, imaginou que estava fazendo hora extra outra vez e seu coração ficou pesado. Jungkook se esforçava ao extremo para ajudar, seu coração era grande demais.
Sentiu culpa.
Outra pontada de dor no estômago, Taehyung pressionou os olhos e respirou pela boca. Queria que Jungkook chegasse logo.
Não era saudável ficar naquela posição, com a pele em contato direto com o chão frio. Queria se levantar e voltar para a cama, para debaixo das cobertas que o deixavam aquecido e confortável para se encolher e ignorar a dor. O escuro do quarto também aliviava a pressão na cabeça, mais precisamente na nuca.
Sempre que sentia alguma dor no cérebro, tinha medo de que fosse um sinal de que o tumor estava avançando. Então, se certificava de onde a dor irradiava e se lembrava dos exames, da médica oncologista explicando a ele aonde exatamente aquele punhado de células anormais estava. Felizmente, após todas as vezes que analisou a dor na cabeça, nenhuma delas coincidiu com o lugar indicado pela doutora.
Mas isso ainda o deixava preocupado.
Taehyung tomou impulso para se levantar ao apoiar as mãos na privada fechada e erguer o corpo. Um tremor nas pernas o fez colocar mais força nos braços e ele se levantou por completo, ansioso para sair do banheiro e ir rápido até o quarto.
Contudo, não poderia agir tão depressa assim, seu corpo não podia acompanhá-lo. A pressão pela subida repentina piorou o estado do seu cérebro e ele pareceu explodir em luzes brancas, e foi tudo o que Taehyung viu à sua frente.
Suas pernas perderam o equilíbrio assim que ele saiu do banheiro e sua pressão caiu de repente. Uma sensação gelada passou em seu rosto e ele não teve controle do próprio corpo ao cair, mas conseguiu amenizar a situação colocando os braços à frente e jogando-os em direção ao sofá, logo ao lado do banheiro.
Taehyung quis chorar. E também queria Jungkook ali consigo.
O sentimento de impotência o deixou ainda pior, como se isso fosse possível. Com a visão ainda embaçada, ele se arrastou e jogou o corpo ali no sofá, desistente. A cabeça se apoiou no braço do móvel e ele dobrou suas pernas como pôde, pois o estômago continuava a dar fisgadas, semelhantes a perfurações em seu interior que o faziam gemer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Almagesto | Taekookmin
FanfictionDarkfic | Não-monogamia | Slow Burn Jungkook precisa descobrir o real significado de amadurecer, quando seu marido recebe um diagnóstico que dependerá de um tratamento que não são capazes de pagar. Para salvar Taehyung, ele está disposto a se...