7. Coragem e covardia

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As cortinas grossas da sala foram fechadas e felizmente Taehyung estava sozinho naquele horário, sendo o único a ocupar uma das cadeiras estofadas confortáveis de cor creme.

A seringa em sua veia no braço esquerdo era cada vez mais familiar, mesmo que não fosse essa a intenção. Quando não estava olhando desinteressado para a televisão acoplada à parede branca, observava os remédios intravenosos que sabia serem os responsáveis pelo estado debilitado do corpo, pois não eram apenas as células cancerígenas que eles atingiam; as saudáveis também eram afetadas.

Em algumas sessões, conseguia circular pela sala a fim de se movimentar. Em outras, ficava tão cansado que dormia na poltrona. E nessa sessão em especial do dia, ele estava concentrado nos próprios pensamentos.

Havia passado pela sala da médica mais cedo e a Dra. Orson o instruiu novamente a marcar os primeiros exames referentes à cirurgia. Diante da recusa de Taehyung — outra vez — ela explicou pacientemente sobre como seriam as próximas sessões dali em diante: mais severas e constantes, e o Kim precisaria tomar à risca os quimioterápicos ministrados via oral. Caso não houvesse melhora, a melhor saída seria a internação e um tratamento mais intensivo, e os custos para isso seriam tão altos que só assim Taehyung ficaria disposto a se endividar para custear a cirurgia, pois assim compensaria a mobilização financeira.

Respirou fundo outra vez e conteve a reação de passar os dedos pelos cabelos, estavam cada vez mais frágeis. Apesar de ter dito a Jungkook que não se importava com a queda dos fios, no fundo sabia que era uma mentira que ele só estava repetindo para talvez se tornar real em algum momento.

A sensação de ter o corpo destruído daquela forma, propositalmente para matar algo dentro de si, era aterrorizante.

Gostaria da companhia de Jungkook ali, mas este estava ocupado em uma nova vaga de emprego: não deu detalhes por estarem atrasados devido aos compromissos, mas caso desse certo seria um trabalho no qual Jungkook ganharia bem mais do que na cafeteria — só se esqueceu de falar quanto. Taehyung estava ansioso para vê-lo logo e perguntar como foi e se realmente havia sido contratado.

Um aperto no coração representou a saudade: não do marido em si, mas por estar sozinho demais. Tae respirou fundo e buscou forças — já estava um pouco sonolento — para se erguer o suficiente da poltrona e alcançar o celular na mesa de madeira branca onde ficavam suas coisas.

Procurou por um número nos contatos que raramente ligava, sabia que a mãe não se dava bem com as tecnologias mesmo após tantos anos. Preferia viver na área rural de Delaware, longe de tudo o que a fazia lembrar do marido e do sobrenome Kim — e Taehyung jamais a condenaria por isso, visto que o assassinato de seu pai a deixara assustada e com o medo de que fosse a próxima.

Ninguém nunca soube a respeito dos negócios de Kim TaeHo e o que ele fazia para chegar ao ponto de ser ameaçado de morte e tê-la como concreta.

Aguardou paciente os bipes da chamada, sabia que nunca era atendido de primeira. Tentou mais algumas vezes até ouvir um pequeno barulho ao fundo.

— Alô? — A voz feminina suave e sempre cansada aqueceu seu coração instantaneamente.

— Omma! — Sorriu com o celular grudado ao ouvido. — Que saudade!

— Meu amor, você nunca me liga!

— Eu ligo, mas a senhora nunca atende!

— Perdão, meu ursinho. — Kim Minji falou acolhedora ao telefone. — Sua voz está tão cansada, trabalhando muito?

— Sim, sim, época de provas. – Mentiu com uma pequena pontada incômoda no peito, mas que estava se tornando mais costumeira também.

Taehyung nunca abandonava o péssimo hábito de mentir para tentar proteger os sentimentos de alguém.

Almagesto | TaekookminOnde histórias criam vida. Descubra agora