2. Silêncios e Confissões

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Taehyung folheou mais uma vez a lista de exames que precisava fazer, como se olhar mais vezes os fariam desaparecer magicamente à sua frente.

Mas não existia magia.

O homem dobrou a folha outra vez e esfregou os olhos com as pontas dos dedos, com a mente exausta e com saudades de Jungkook. O rapaz apenas dois anos mais novo estava fazendo hora extra quase todos os dias na cafeteria, a fim de ganhar uma renda a mais para comprarem os remédios e marcarem as consultas.

Taehyung se sentia péssimo por fazer o marido trabalhar daquela forma, apenas para ajudá-lo. E por conta das finanças dos dois, decidiu que não iria parar de trabalhar por enquanto, pois fisicamente ainda estava bem.

Ainda.

Ele sabia que o tratamento que passaria a fazer iria atingir seu corpo, só não tinha certeza de qual seria. Precisava de mais exames, mais consultas.

Ainda não entendia direito o que uma pessoa deveria fazer ao descobrir um câncer. Faria radioterapia ou quimioterapia? E por quanto tempo? Seu cabelo iria cair? Quais seriam os efeitos dos remédios no seu corpo? Até quando conseguiria trabalhar? Faria alguma cirurgia?

Eram perguntas demais e respostas de menos, que faziam sua cabeça doer e o deixava alerta por conta do que estava em seu cérebro.

Ignorou o turbilhão de pensamentos e tentou se levantar da cama.

O gato do casal, Chimmy, não estava ao seu alcance de vista e o bichano raramente entrava no quarto. Taehyung retirou a coberta dos pés e mexeu os dedos, pensativo sobre tudo e nada enquanto olhava os próprios movimentos.

Queria muito sair da cama. Contudo, uma força o puxou para colar as costas ao lençol outra vez e ele se deitou.

Pegou a coberta para se cobrir e odiou sua falta de força de vontade, mas não conseguiu resistir ao desânimo. Impotência. Taehyung pensava em tudo e nada ao mesmo tempo.

Quando foi que se tornou tão diminuto?

Tomou coragem e se sentou mais uma vez; novamente, a coberta foi posta de lado. Precisava de muito para qualquer movimento e pensou se sua situação pioraria demais quando começasse o tratamento quimioterápico.

"Levante, Taehyung. Vamos lá."

Nenhum movimento.

Mexeu os dedos dos pés mais uma vez e tentou se lembrar de quando era uma pessoa ativa: fazia atividades físicas na faculdade? Não se lembrava.

A depressão o tomara todas as boas memórias, ou ele quem nunca as tivera?

Não conseguia se lembrar de nada da época da faculdade.

Tentou mais uma vez e finalmente retirou os pés da cama. Pareciam dois pedaços de chumbo, do mais denso existente, mas deveriam bastar. Taehyung não podia entregar o próprio controle de forma tão fácil assim.

A vitória de sair da cama veio em silêncio, sem qualquer empolgação.

Na cozinha, metade dos produtos eram orientais e a outra metade compravam do comércio local para manter uma rotina norte-americana. Taehyung abriu a dispensa com desânimo e retirou um pacote de macarrão para Udon. Seria mais rápido do que fazer uma refeição completa e em breve Jungkook chegaria cansado do trabalho.

Deveria se ocupar de manter as coisas em ordem na casa, visto que trabalhava em horário menor que o marido. Os horários letivos na escola iam de nove da manhã até às três da tarde, enquanto o dia de Jungkook na cafeteria era de oito da manhã até às seis da noite, mas ele estava entrando mais cedo e saindo mais tarde quase sempre. Por isso, eram sete e meia e Jungkook ainda não havia voltado.

Almagesto | TaekookminOnde histórias criam vida. Descubra agora