Universidade de Delaware.
Abril de 2021.
— Qual é, Tae, quando você vai apresentar seu namorado?
A pergunta de um milhão de dólares saiu da boca de Jimin com diversão e um leve ciúme contido, mas que o moreno não percebeu. Estava mais focado nos carros que passavam em frente ao polo de Matemática para conferir se seu pai, o Sr. TaeHo, estava a caminho.
Jimin era naturalmente inquieto, as mãos sempre estavam ocupadas mexendo nos botões da blusa florida ou jogando a franja de lado, do cabelo descolorido que estava tingido de ruivo no momento.
— E pra quê você quer conhecer meu namorado, Jimin-ssi? — Taehyung perguntou despreocupado e ajeitou mais uma vez a mochila com seus livros nos ombros.
— Porque a gente é melhor amigo, eu pego carona com seu pai quase todo dia, já sou quase da família! Só falta me chamar pra almoçar. — Jimin cruzou os braços e Taehyung quis rir, o ruivo sabia ser irritante e insistente quando queria. — E você não fala nada sobre o seu namorado! Há quanto tempo vocês estão juntos?
— Muito tempo... — Balançou o próprio corpo, distraído olhando ao redor. Um vento fez os cabelos ondulados irem aos olhos e Taehyung começou a mexer no cabelo.
Jimin sabia que seu melhor amigo poderia falar muito, e ainda dizer nada ao mesmo tempo. Sabia muitas coisas a respeito de Tae: seu doce favorito, as músicas mais ouvidas na playlist e o time de basquete do coração.
Contudo, as coisas mais interessantes ficavam de fora dos assuntos: o porquê do coreano estar nos Estados Unidos, no que seu pai trabalhava para ser tão rico e quem era seu namorado. Sabia que o seu progenitor, o Sr. Park, já conhecia a família de Taehyung por frequentarem o mesmo grupo de apoio à comunidade asiática da cidade, mas o velho também não o ajudava a sanar sua curiosidade.
O ruivo odiava ficar sem respostas. Era desconfiado e até um pouco incoveniente, e daria um jeito de descobrir tudo o que queria.
— Ele é coreano também?
— É sim.
— Hum... — resmungou, sem saber mais que perguntas fazer. Por fim, tentou mais uma. — Qual o nome dele?
Taehyung olhou para Jimin com um sorriso implícito no rosto. Os olhos azuis artificiais por conta das lentes que o universitário de matemática usava deixavam-no com uma aparência diferente, mas que Jimin adorava.
O coração do ruivo de estatura menor se acelerou quando Taehyung se inclinou e roubou-lhe um selinho.
Nunca sabia o que fazer nessas horas; desde o primeiro beijo dos dois, Jimin sentia-se confuso. No início, tentou pensar que o melhor amigo na verdade fosse um grande canalha que vivia a trair o namorado misterioso, mas não via Taehyung sendo assim com outros alunos da faculdade, apenas com ele.
E isso, infelizmente, iludia o diminuto coração do ruivo e ele sabia o quão desastroso isso era, pois o coração de Taehyung já estava amarrado a outra pessoa.
— Você é muito curioso, Jimin.
— Mas, eu, ahn... — Perdeu a fala pelo outro beijinho rápido que recebeu. Taehyung fazia isso com frequência: quando não queria mais conversar, simplesmente beijava Jimin.
E o ruivo não sabia se essa era só uma demonstração de carinho amigável, visto que ele namorava, mas quem em sã consciência beijaria um amigo dessa forma?
Então Jimin não era mais capaz de dizer algo, pois secretamente gostava do melhor amigo.
E vê-lo namorando outro garoto era algo que doía seu coração.
{...}
Newark, Delaware.
Março de 2026.
Cinco anos depois.
Deus poderia ouvir seu clamor de desespero?
Era essa a questão que invadia a mente do jovem Jungkook, desde que chegara a Igreja principal da cidade e então caminhava em direção à entrada a passos relutantes.
Só havia entrado na Capela de Santa Maria uma vez, na companhia do marido. Esperava encontrar paz e conforto, mas recebeu olhares julgadores, em uma condenação implícita por entrar naquele lugar sendo um homem de mãos dadas a outro homem.
Não bastava ser apenas rejeitado pela etnia.
Por isso, se condenava internamente por se permitir entrar lá outra vez, mesmo após essa lembrança ruim. Se culpava por correr até lá sem o conhecimento de Taehyung, mesmo também sabendo que não fazia nada de grave. Estava indo lá rezar pela vida de seu marido, ele compreenderia o sumiço repentino.
Jungkook tomou cuidado para que os sapatos não fizessem ruído no chão polido, mas pela movimentação de fiéis ali dentro em um domingo, após a missa, viu que não chamaria a atenção. Alguns fios do seu cabelo preto liso e bagunçado estavam jogados à frente para ocultar seus olhos ao máximo, um hábito que adquiriu para ter privacidade ao observar tudo ao seu redor sem cruzar os olhos com o olhar duro de alguém.
Não gostava dos habitantes mais conservadores da cidade, e estes também detestavam o rapaz coreano que morava e trabalhava no meio de seu povo. O arrependimento de ter se mudado para lá só não ocorria por conta de seu marido, mas era difícil viver com uma carga pesada de medo pela homofobia e xenofobia na região.
Todas essas dores em seu coração foram o impulso para que Jeon Jungkook se ajoelhasse no chão frio, com os joelhos protegidos pela calça de couro falso e o sobretudo se arrastando no piso, e juntasse as duas mãos em uma prece silenciosa.
"Senhor, pode me ouvir?"
Era automático perguntar isso sempre que tentava rezar. Por várias vezes, questionava sua própria fé e depois se culpava por isso.
"Senhor Deus, por favor, salva meu marido."
Os dedos pálidos se apertaram ao falar aquilo mentalmente, pela primeira vez, de forma tão fervorosa. Os olhos fechados se pressionaram mais.
"Eu sei que o Senhor pode curá-lo, me perdoa por não vir aqui mais vezes e aparecer agora apenas para implorar por ajuda, sei que não mereço, mas eu estou aqui pelo meu marido, eu não sei se nossa união é abençoada ou se fomos condenados ao Inferno..."
Jungkook parou com a própria fala mental para engolir em seco, pois a garganta se arranhou pelo choro que estava preso. Prosseguiu.
"Eu quero acreditar que não somos condenados só porque nos amamos, pois o Senhor é amor, não tem nada errado em amar... E eu quero continuar com o homem que eu amo por muito tempo, então por favor, permita que ele viva, eu te imploro."
Segurou ainda mais o choro, não queria causar um barulho sequer naquele ambiente de teto alto e abobadado. Se recompôs em questão de segundos e foi em direção ao fim da prece, um por cento mais confiante do que antes.
"Mas se não puder curá-lo por conta própria, se isso não for mesmo possível... Então pelo menos me proteja, me guarde para que eu mesmo salve Taehyung."
Disse aquilo com certa dúvida de que realmente aconteceria, pois estava disposto a fazer coisas que desagradavam completamente o Altíssimo e sabia o quão absurdo era pedir para ser protegido.
Mas se um milagre não ocorresse a tempo, Jungkook estava pronto para se arriscar pela vida do seu marido.
Ele mesmo faria o milagre acontecer.
![](https://img.wattpad.com/cover/317691600-288-k37289.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Almagesto | Taekookmin
FanficDarkfic | Não-monogamia | Slow Burn Jungkook precisa descobrir o real significado de amadurecer, quando seu marido recebe um diagnóstico que dependerá de um tratamento que não são capazes de pagar. Para salvar Taehyung, ele está disposto a se...