1. Caminhos Desesperados

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Três meses atrás.

O frasco de pó azul e reluzente encheu de brilho os olhos do homem, que sorriu e revelou a falta de um dos dentes na arcária dentária, um sorriso maravilhado e repugnante diante daquele pequeno objeto.

Park observava em silêncio, com um resquício de bom humor enquanto mexia a pulseira delicada de prata no pulso, ainda não totalmente convencido de que seu produto estava do agrado; precisava ser provado primeiro. 

— E o que exatamente é isso? — O homem à sua frente perguntou com o sotaque latino evidente na voz e concentrou os olhos no coreano, o qual estava tão impecável em sua calça de linho grafite, sapatos sociais lustrados e blusa preta com o último botão livre, que fazia o loiro sequer parecer dono de uma rede de contrabando de produtos químicos.

— Eu chamo de Almagesto. — Jimin sorriu de lado ao falar o nome escolhido por ele mesmo.

Era sempre prazeroso contar o nome de sua criação mais lucrativa, após três anos de diversas tentativas.

— O que significa? — O dono da casa de prostituição e tráfico franziu as sobrancelhas, curioso.

— Almagesto é um estudo matemático e astronômico de Ptolomeu. — Deu de ombros ao falar aquilo em um inglês perfeito, ciente de que aquelas informações eram irrelevantes ao seu comerciante principal, e mesmo assim gostava de contar a história por trás do nome do produto. — A ideia, literalmente... — Revelou mais do sorriso presunçoso, repleto de convicção do que falava. — É ver constelações com isso.

O sorriso do homem se aumentou com a explicação.

— Não sabia que era estudioso assim! Vocês asiáticos são mesmo inteligentes! — Riu e abriu o frasco cintilante.

Jimin Park revirou os olhos com o comentário do norte-americano de descendência do México, já acostumado com aquele estereótipo. De qualquer forma, era muito melhor ouvir que era inteligente só por ser asiático do que ouvir que era japonês ou um chinês viciado em pastel de frango.

Na verdade, ele não se considerava inteligente. Não era a mente por trás da criação de sua droga química: isso vinha de Jonathan, seu principal parceiro em todo aquele jogo. O ex-aluno de Físico-Química Avançada na Universidade de Wilmington possuía um extenso laboratório clandestino e uma equipe para ajudar os dois a comercializarem seus produtos aos verdadeiros chefes do tráfico de todo o Estado de Delaware — algumas vezes, até para fora dele.

A verdadeira função de Park era administrativa: era quem se apresentava aos seus clientes, quem negociava valores e tirava do caminho aqueles que ousassem atrapalhar seu negócio.

Mas mesmo de fora da produção, havia sido ele a nomear a nova droga.

Quando Jimin admirou o azul cintilante, resultado da reação dos componentes ali usados, se lembrou do par de lentes azuis que gostava de admirar no homem que não via há três anos.

O universitário de matemática não gostava da cor dos próprios olhos na época, por isso Jimin sempre o vira com aquelas lentes. Nem se recordava se já o havia visto sem elas, mas achava divertido encará-lo com aquele olhar tão vibrante, mesmo artificial.

Na primeira vez que o viu, segurava um exemplar raro do Almagesto embaixo do braço.

Na primeira vez que o beijou, ouviu da boca do outro que beijá-lo era como tocar as estrelas no céu.

E na última vez que tentou encontrá-lo, já estava formado na Universidade de Delaware e ninguém sabia aonde ele estava, se começara a trabalhar ou se ainda residia nos Estados Unidos. A única coisa que tinha certeza era de que estava casado, que seu pai — o grande Sr. TaeHo — havia morrido há três anos e que já era comprometido quando se conheceram, mas aparentemente isso não o impediu de se aproximar.

Almagesto | TaekookminOnde histórias criam vida. Descubra agora