37. Memórias

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Jeon Jungkook não sabia se o tempo frio do dia era realmente por um fator climático ou porque o cemitério central da cidade realmente causava aquela sensação.

O túmulo do Sr. TaeHo era visitado uma vez ao ano na data de sua morte por ele e Taehyung, mas algo dentro de si o motivou a ir vê-lo naquele dia em específico.

Com tudo o que descobrira acerca do sogro, chegar em seu túmulo conferiu um novo sabor amargo ao ver o nome inscrustado na lápide.

O lugar em nada havia mudado: o pé de ipê peculiar próximo ao túmulo continuava colorido pela época do ano, as lápides ao redor eram idênticas e podia ouvir bem ao longe o som de arbustos sendo cortados, provavelmente pelo coveiro.

Mesmo assim, tudo parecia diferente.

A sensação era nova, mas igualmente desconfortável.

— Eu queria ter sido mais próximo do hyung. — falou sem tirar os olhos da lápide, uma das mãos estava no bolso da calça moletom preta e a outra segurava o pingente de estrela no seu cordão. — Talvez eu tivesse notado essa parte da sua vida se eu prestasse mais atenção, Taehyung não é muito bom em descobrir coisas.

Uma risada fraca escapou sem querer nos lábios levemente ressecados pelo frio. A grama abaixo de si estava tão mal cuidada que seria uma afronta dizer que ela era verde.

Apesar disso, Jungkook se sentou ali mesmo. O gramado espetou sua calça, mas ele não se incomodou. Ficou de pernas cruzadas, ainda segurando o pingente, e a outra mão tocou no comprido pedaço de concreto.

— Eu nunca te agradeci por ter me aceitado praticamente como um filho, por ter me recebido quando eu vim para cá com o Tae... O senhor poderia ter sido uma pessoa ruim, mas me aceitou, uma coisa que meus pais não fizeram.

Falar de sua família era sempre desagradável: mesmo naquele quase monólogo. Sempre ficou admirado com o respeito proveniente da família Kim-Smith, que abraçou o filho ao se assumir e ainda recebeu o companheiro de braços abertos.

Respirou fundo e tentou afastar aqueles pensamentos da cabeça, pois eles o fariam lembrar dos seus pais e não era seu desejo.

— Eu queria muito ter um conselho agora, mas não queria pedir ao Jimin. Ele quase não vai ao laboratório, o que é bom, porque Taehyung não pode ficar sozinho. É estranho pensar que aquele lugar deveria ser do Tae, e ele até sente falta de ficar mais tempo lá, mas eu mandei o hyung sossegar em casa enquanto a radioterapia não terminar. O senhor já devia imaginar que ele passaria por isso, né? — perguntou mais para si mesmo, já que estava sozinho naquele "diálogo". — O senhor criou Almagesto para que ele pudesse se curar. Eu vou ser eternamente grato por isso.

Foi capaz de sorrir mais um pouco. O coração se tornou leve e ele se sentiu motivado a continuar o desabafo.

— Acho que o senhor iria gostar de ver como estão as coisas agora... Ficou tudo melhor. É claro que teria sido mais fácil se o hyung não tivesse deixado tudo para o Jimin, sabe? — brincou. — Passamos alguns apertos nos últimos anos, mas também acho que foi melhor assim, longe desse mundo complicado. Se bem que... — franziu as sobrancelhas. — Eu parei nele de qualquer forma. Quem diria, não é?

Riu baixo outra vez. Soltou a mão do túmulo baixo e ficou com as duas segurando firmemente o cordão.

— Quinta-feira vai ser a última radioterapia do Tae. — falou com um sorriso bem mais verdadeiro. — Ele vai pro hospital de segunda a sexta, como hoje é domingo ele tá bem disposto, e pensar que só faltam mais quatro dias me acalma tanto... — desabafou. — Alguns dos nossos amigos estão vindo essa semana e quero que todo mundo comemore quando o Tae sair do hospital na quinta. Vai ser bem legal. — falou animado e descruzou as pernas para se levantar.

Almagesto | TaekookminOnde histórias criam vida. Descubra agora