Capítulo 12

3.2K 393 43
                                    

FLASHBACK'S ON

A garota se moveu sobre o colchão duro sentindo seu corpo inteiro estremecer de dor, suas pálpebras tremeram quando ela tentou abrir os olhos que estavam pesados demais. Hella colocou a mão sobre a bochecha para logo se arrepender quando uma dor insuportável se alastrou por seu maxilar, nariz e testa a fazendo soltar um choramingo.

Hella finalmente abriu os olhos, piscando algumas vezes para se acostumar com a luz que entrava pela janela. Ela se sentou na cama mesmo que seu corpo gritasse para que ficasse parada e voltasse a dormir para recuperar suas forças, mas ela sabia que não podia.

Precisava ir até Locke. Precisava saber que o irmão estava bem e que sua mãe havia comprido o que prometeu a Hella antes de chicotear suas costas no porão da casa de dois andares.

É claro que Hella não sabia o motivo de tanto ódio, tudo começou quando ela teve sua primeira menstruação e seu corpo enfim começou a mudar. Sua mãe sempre foi incrível aos olhos de Hella, a figura feminina que ela ansiava se tornar quando crescesse… Isso até seu aniversário de 15 anos.

Diferente dos aniversários anteriores, Hella não recebeu um “Feliz Aniversário!” de manhã bem cedo junto com um bolo e seus pais e irmão em seu quarto com grandes sorrisos, muito pelo contrário. Ela acordou atordoada, em pé no porão da sua casa, nua e com as mãos presas sobre a cabeça em uma corda presa no teto.

No início, Hella ficou confusa e desesperada e tudo pareceu piorar quando ela notou sua mãe sentada em uma cadeira no canto da parede com os olhos fixos nela.

“— Mamãe? Onde eu estou? O que… O que aconteceu?” perguntas e mais perguntas saiam de seus lábios enquanto ela tentava se soltar. Mas o que adiantaria? Ela não conseguia nem respirar direito e os olhos sombrios de sua mãe sobre ela não ajudavam muito.

Naquele dia, foi a primeira vez que sua mãe havia tocado nela. Hella foi chicoteada por horas naquele sótão e ela não pôde fazer nada para impedir aquilo além de se perguntar o que havia feito para deixar a mãe tão furiosa. A ardência em sua pele era tão insuportável, a dor que sentia era tanta que em algum momento, Hella acabou ficando inconsciente.

No dia seguinte ela acordou em seu quarto, ela poderia ter cogitado a ideia de pensar que tudo teria sido um sonho se não fosse pela dor em todo seu corpo. Quando encontrou com a mãe no mesmo dia, percebeu que a mesma estava agindo como sempre e Hella decidiu que o melhor seria não perguntar, afinal, não queria que a mãe ficasse furiosa e a punisse novamente.

— Hel! Onde você passou a noite? — Locke perguntou aparecendo em frente a irmã e a abraçando com força, Hella suprimiu um gemido de dor e suspirou quando ele a soltou — Eu fui te procurar no seu quarto, mas você não estava lá.

— Ah… Eu dormi na casa de Elide — Mentiu lhe enviando um sorriso culpado.

— De novo?

— Me desculpe por não avisar.

— Tudo bem — Locke lhe enviou um sorriso gentil e ela ficou aliviada por saber que ele estava bem — Vamos tomar café, nossos pais estão nos esperando.

Hella havia passado a odiar as refeições. O café da manhã, o almoço e o jantar em família, onde ela recebia sorrisos falsos de sua mãe e encaradas estranhas de seu pai que sempre tentava arrumar um jeito para tocá-la, seja uma carícia na mão ou no ombro ou em uma mecha de cabelo, ele sempre a deixava desconfortável e parecia não notar isso quando a mesma se esquivava de seu toque.

— Locke, eu… Não estou com fome — Murmurou soltando a mão do irmão, Locke se virou para ela e franziu o cenho confuso.

— Você já tomou café na casa de Elide? — Ele perguntou e a analisou — Mamãe fez aquela torta de limão que você ama, Hel. Você pode comer pelo menos um pedaço?

— Você pode guardar para mim? — Perguntou de volta — Eu preciso tomar um banho agora e depois nós teremos que treinar um pouco… Não somos tão poderosos como aqueles feéricos do outro lado da muralha, não é?

— Oh, sim! Às vezes me pergunto como seria se não tivéssemos nascido humanos — Locke fez uma cara de pensativo e pressionou os lábios — Você acha que eles são realmente tão horríveis como dizem?

— Muitas coisas não são o que parecem, irmãozinho — Hella abriu um pequeno sorriso que logo desapareceu quando viu sua mãe no fim do corredor encarando os ombros largos de Locke — Vá tomar café, sabe que nossos pais odeiam esperar.

— O que eu digo a eles sobre você?

— Diga que já tomei café na casa de Elide — Respondeu e ele concordou. É claro que ela não precisava se preocupar tanto com essa mentira já que foi sua mãe quem a prendeu no porão pela terceira vez na semana.

Na cabeça de seu pai, Hella e Elide eram como irmãs e toda vez que ela desaparecia, as duas estavam passando o dia juntas e não que Hella estava sendo tortura por sua mãe bem debaixo do seu nariz.

É óbvio que a opção de ir embora sempre brilhava em sua mente, mas ela não tinha para onde ir e também não queria explicar para Locke o motivo do qual os dois precisavam ir embora. Como diria ao irmão que a mulher que ele vê como sua heroína e a mesma mulher que está destruindo sua irmã?

Sua mãe tinha dito a Hella que não machucaria Locke, já que não era ele quem estava a irritando, mas caso Hella tentasse algo, Locke sofreria em seu lugar e machucar Locke está fora de cogitação.

Afinal, família é poder e Locke é sua única família.

𝕬 𝕿𝖔𝖚𝖈𝖍 𝕺𝖋 𝕯𝖆𝖗𝖐𝖓𝖊𝖘𝖘| ʳʰʸˢᵃⁿᵈ (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora