Rubble of this love

Fresh start.

Residi por muito tempo em Philadelphia, Pennsylvania. Nasci e construí minha essência lá, ao lado dos meus pais e dos meus amigos de infância. Sempre tive muitos sonhos, e um deles era conhecer Ithaca - New York. Meu pai sempre comentou comigo como a cidade era regida por árvores de diversas cores, de diversos tamanhos, e isso sempre me encantou bastante. E cá estou eu, em Ithaca. Mudei-me recentemente com os meus pais, decidimos em conjunto investir em outra cidade e conhecer outras culturas, e com muito esforço, persuadi a mente deles para que viéssemos para cá. O percurso foi rápido, tracei o caminho inteiro lendo um dos meus livros favoritos. Evelyn Hugo.

Sempre tive o hábito de leitura, desde muito cedo fui influenciada pela minha irmã mais velha, a Maiara. Maiara e eu temos 6 anos de diferença, ela sempre me ensinou a importância de ler.

“A leitura te levará não só a lugares incríveis, mas também será o portal para descobertas. Através da leitura você sentirá e vivenciará coisas que jamais cogitou. É uma viagem sem fim, Maraisa. Permita-se. Deixe que a leitura te ensine tudo aquilo que você precisa. Os livros te darão a liberdade que seu coração sempre procurou.” - Maiara falou, tocando com sua mão direita no meu coração. “Sinta-se livre para voar.”

Foram essas as palavras que ela me disse aos 16 anos quando tive minha primeira decepção amorosa. Doeu como nunca, mas deixei-me sentir tudo. Maiara sempre ressaltou o quão ingênua eu era, a contar dos meus 4 aninhos, quando permiti que uma coleguinha derrubasse o meu sorvete e mesmo assim acreditei que não foi por maldade enquanto ela ria ao lado de suas amiguinhas.

Eu vejo bondade onde não há, e talvez esse seja um dos meus maiores defeitos.

“Não se culpe por ser tão generosa, meu amor. O mundo não é mau, as pessoas que são. As pessoas não estão preparadas para te conhecer, e por isso muitas irão ferir você.” - Maiara sussurrava baixinho, enquanto as lágrimas desciam pelos meus olhos. “Não ouse mudar sua essência para caber em alguém. Lembre-se: eles quem deve se moldar para te amar.” - Sua mão massageava os meus dedos com delicadeza, e sua expressão era de paz. “Enquanto eu existir, você poderá contar comigo. Estarei sempre aqui para te relembrar o quão importante você é, minha pequena.” - E ao ouvir tudo aquilo, abracei-a como se pudesse fazer com que ela sentisse o meu coração sangrar. Suas mãos acariciavam minhas costas em sinal de proteção, e eu realmente me sentia protegida em suas mãos.

Minha mãe sempre reforçou que Maiara e eu somos almas gêmeas; amor de outras vidas. E hoje eu tenho essa certeza, olhando para o seu retrato e sentindo os meus olhos transbordarem. Sinto sua falta todos os dias, mas o que me conforta é saber que sempre terei os seus braços para me aninhar.

Almira sacudia levemente o meu corpo adormecido no colchão, não sabia há quanto tempo estava dormindo desde que chegamos em Ithaca. Sua voz estava longe, como se eu ainda estivesse dormindo. Abri os olhos lentamente, tentando assimilar que horas seriam naquele momento.
— Você esqueceu que dia é hoje?

Olhei fixamente em seus olhos e procurei informações em meu cérebro. Sem êxito.

— Esqueci. - Falei atordoada, ainda sentindo o sono presente em meu corpo. Almira deixou meu quarto e eu permaneci ali, deitada, olhando para o teto. — Bom dia pra você também.

Levantei na maior preguiça e caminhei até o banheiro onde tomei um banho demorado, deixando com que a água levasse consigo o cansaço que em meu corpo habitava. Enrolada no roupão, troquei-me ligeiramente e desci as escadas com os meus cabelos em mão fazendo um coque frouxo no topo da minha cabeça.

Abri os armários e retirei o pacote de sucrilhos e peguei o leite que estava na geladeira, sentei-me sobre a mesa e despejei ambas as coisas.

— Droga! - Coloquei a mão cobrindo meus olhos. — O casamento da minha irmã é hoje! - Saltitei, lembrando-me da data que a minha mãe reforçou o mês inteiro. Pulava alegremente, com o sorriso mais sincero no rosto.