Oh, the love...

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A minha avó dizia que o que sobra são as memórias e eu nunca dei credibilidade, afinal, na minha cabeça as pessoas não iam embora, independente de qualquer coisa. Sempre acreditei no perdão. E hoje, olhando para dentro do meu interior e notando alguns detalhes que muitas vezes passou despercebido, adoraria retornar ao passado e acreditar na minha avó, talvez assim não precisasse sangrar tanto por algumas escolhas.

Acordei mais cedo, minha mãe estava sentada e com a bíblia no colo. Sentei ao seu lado e deitei minha cabeça em seu ombro. Ela puxou-me para o seu colo e beijou a minha testa, eu sorri verdadeiramente para o seu ato tão singelo. Minha mãe distribuiu carinho sobre os meus cabelos, deslizando seus dedos, mas com os olhos focados nos meus. Inalei o ar diversas vezes, tentando criar coragem para um dos meus maiores desabafos. Ela não me julgaria, disso eu tenho total convicção, mas com certeza me faria chorar com os seus ensinamentos. Dona Ruth sempre me disse que no deserto que aprendemos a como vivermos a colheita.

— O que te aflige, Marília?

Ah, mamãe… Tantas coisas.

— Muitas coisas, mãe. - Eu nunca escondi nada da minha mãe, sempre tivemos uma conexão forte e segura. — E eu não sei por onde começar.

— Fale daquilo que te dói. O que te dói, Marília?

— Amar, mamãe. Amar dói. - Não me julguem, mas antes que falasse, as lágrimas já estavam se solidarizando com a conversa.

— Por quê acha isso? - Seus dedos enxugaram as lágrimas que insistiam em cair.

— Eu não mereço a Maraisa, mãe. Não mereço o seu amor. Eu a amo, mas eu fiz muitas coisas erradas que, provavelmente, nunca terei o seu perdão. - Sentei ao seu lado e cruzei as pernas em cima do sofá, com a mão sobre as pernas e com a cabeça baixa, eu chorava atordoada lembrando de tudo. — Ela é perfeita, em tudo que faz.

Minha mãe ergueu o meu rosto levemente e me olhou com compaixão, ela nada falou, apenas envolveu o meu corpo em um abraço tão gostoso que eu aprendi naquele instante a andar, a raciocinar, a reagir. Despenquei, como uma árvore que cai em uma tempestade. Mas eu tinha o seu amparo.

Não era o momento ideal para falarmos sobre aquilo que corroía a minha alma, eu sabia. O seu silêncio sempre foi o seu ponto final, e eu sempre adorei a forma como a minha mãe lida com os meus sentimentos. Ela diz que o tempo é o remédio para amenizá-los. E realmente. Sempre foi assim.

Me desprendi do seu abraço ao ver a minha mulher encostada na soleira da porta e com os braços cruzados, ela estava com a cabeça encostada e com um semblante lindo. Chamei-a com os olhos e ela veio e se aconchegou no meio de nós duas. Minha mãe beijou o topo da cabeça dela e ela se aninhou em seu colo, deitando suas pernas em cima do meu corpo.

Maraisa começou a conversar com a minha mãe sobre mim, e observando as duas percebo o quão parecidas são. Fortes, guerreiras, destemidas e com alguns traços físicos parecidos. Tenho total convicção que as duas se conhecem de outras vidas. A conexão que se instalou nas duas desde o momento em que se viram, foi além. E a mesma coisa com a Maiara. A minha mãe titula a Maiara como minha irmã mais nova. É a sua filha caçula. A mimada.

— Onde pretendem casar? Quero estar presente. - Ruth disparou. — Acho que você ficaria linda no meu vestido de noiva.

Mamãe? - Olhei para ela e semicerrei os olhos.

— Oh, meu amor, você melhor do que ninguém sabe que odiaria usar vestido, ainda mais no seu casamento.

— Mas é diferente… é o seu vestido de casamento. - Cruzei os braços e virei o olhar.

Rubble of this loveOnde histórias criam vida. Descubra agora