Hallucinations?

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Marília Mendonça point of view.

Maiara me ligou anteriormente, estava um pouco aérea ainda devido o sonho tão lúcido que tive. Perguntei o motivo da ligação e a mesma constou saudades. Não sei exatamente do que, mas não quis prolongar, não estava com cabeça para desvendar mistérios.

Beijei o rosto da minha mãe e a apertei. O cheiro do café irradiava o pequeno espaço em que estávamos. Théo, meu cachorro, lambeu meu pé e eu o peguei, aninhando-o em meu colo. Seu contato físico sempre me acalmava.

O dia estava lindo, o sol estava exposto, mas nada tão calorento. Resolvi pegar um sol, pensar um pouco. Estava mais aliviada, não sei ao certo. Tudo parecia apenas uma miragem.

Deitei sobre a cadeira, terminando de passar o óleo em meu corpo. Fechei os olhos e, como um dejavu, lembrei da minha ex namorada que adorava deitar-se em meu colo. Sorri, desprevenida. Um sorriso carregado de saudades dos bons momentos que vivemos juntas.

Estava há um mês aqui, longe de Ithaca e de todos. Conheci algumas pessoas, tentei, por vezes, me relacionar com outras, mas em vão. A única que, até o momento, domina todas as partículas inexistentes e existentes é a Maraisa.

O sol queimava a minha pele, causando-me sensações conhecidas. Sentei e olhei para a água convidativa. Estava quentinha, tal como adorava quando residia com a minha mãe. Mergulhei, o mais profundo daquela água, e subi. Apoiei meus braços na borda e deitei a minha cabeça, observando, de longe, a minha mãe. Lancei um beijo para ela que retribuiu sorrindo.

Um ótimo dia para se viver ao lado de Ruth.

Sentia saudades do meu irmão, que faleceu há 2 anos. Não costumo citá-lo, é uma dor incomum.

Sei que a minha mãe lamenta a falta dele; a ausência não, afinal, em tudo que ela faz há um gesto dele.

Inspiro, mergulhando novamente. Dessa vez não quero voltar à superfície, então, pouco a pouco, sinto a água entrar por minhas narinas, me fazendo afogar. Minha respiração está presa. Por susto, só sinto o meu corpo saltar dentro da água.

E choro, perdida em meus pensamentos confusos.

Saio da piscina e me enrolo, busco meu celular e ligo para Maraisa.

Maraisa Henrique point of view.

Estou entretida com a papelada da minha mudança, resolvi que iria morar em outro estado. Fui convocada para administrar uma ala pediátrica de um imenso hospital populacional em uma região um tanto quanto distante de onde estou, e provavelmente aceitarei.

Minha mãe preparou o almoço, o cheiro está delicioso e convidativo. Me contenho, bebericando o café. Fui ao médico para drenar o líquido contido em meu corpo. Pouco a pouco estou me recuperando.

Distraída, não escuto o toque persistente do celular. Ao olhar para o visor acendido, por alguns milésimos sorrio. Marília está me ligando e isso causa um atrito absurdo em meus sentimentos. Meu coração está acelerado e as minhas mãos estão geladas.

Atendo, mas nada falo. Estamos caladas, só consigo ouvir o doce barulho da sua respiração do outro lado. Fecho os olhos, sentindo uma paz ecoar em meu corpo e persistir.

E, quando ela fala "sinto sua falta", despenco, sentindo meu coração apertado e os meus olhos quererem transbordar.

"Eu sei que você me escuta, Carla. Não há um dia sequer em que eu não pense em você e no que poderíamos ter sido. Ainda te amo.", e então desliga, deixando-me com os resquícios da sua voz tão profundamente bela. 

Rubble of this loveOnde histórias criam vida. Descubra agora