Marília Mendonça point of view
As lágrimas me fizeram companhia o voo inteiro, me perguntei se fiz a coisa certa e acredito que sim. Minha mãe veio junto comigo, iremos passar uma temporada em sua casa, longe de todo esse caos. Estou indo, mas deixando o meu coração com quem sempre domou ele. Está sendo difícil ver o sol nascer e não ter os seus olhos brilhantes ao meu lado. Tem sido difícil desde que recebi a notícia de que você provavelmente não seria mais minha. Me pergunto, às vezes, sobre tudo. Talvez se eu tivesse comentado o quão terrível fora ele comigo, você acreditaria em mim e nada teria acontecido. Questiono-me se fiz a escolha errada ao tentar livrar-te das amarras do passado, mas tudo retorna quando lembro que não dá para se livrar de um karma.
Nesse exato momento estou sentada na varanda da casa da minha mãe, olhando para o grandioso jardim que brinquei até os meus 12 anos. Observei, de longe, o escorregador que eu tanto brinquei. Meus olhos sorriam e eu tinha a certeza de tal ato assim que minha mãe sorriu pra mim.
— Nunca tive coragem de tirá-lo dali, tenho esperança de que meu futuro netinho brevemente estará correndo nesse gramado e deslizando no seu brinquedo favorito. - disparou Ruth, em um sussurro carregado de paixão.
Nos entreolhamos e apesar do caos, sorri. Imaginei nosso filhinho brincando todo descabelado e sujo pela lama, Maraisa. Consigo ouvir os seus gritos atordoados me pedindo para dar banho nele e não deixá-lo exposto à bactérias. É a sua cara fazer esse desespero todo, amor.
Deitei minha cabeça no corrimão da varanda e milhares de cenas inimagináveis - ou talvez imagináveis -, dominaram os meus pensamentos. A ideia de casar nunca foi a minha favorita, tenho um certo receio devido às inúmeras separações que testemunhei. Mas não há nada mais puro e sincero do que imaginar-te de branco, com os cabelos soltos como uma cascata, com o seu rosto completamente lindo sobre as minhas mãos. E com um suspiro de alívio, ao padre proclamar o nosso definitivo casamento, beijar-te como a primeira vez em que a vi. Eu me casaria com você. Convoco-me a esse ato de amor. Por amor, eu faria tudo só para ter uma drástica oportunidade de tê-la novamente, Maraisa.
Deixei-te em ótimas mãos; nos acalantos de sua mãe e irmã. Antes de ir definitivamente, Maraisa, procurei a sua irmã e me desculpei em meio as lágrimas que praguejavam a minha queda. Ela me acolheu, mesmo com você ferida por um ato meu. Ou não. E eu derramei todo o meu amor. Chorei amargurada, não houve dor - até o momento - pior do que ter que deixá-la por amor.
Escrevo-lhe poesias constantemente. Você é a minha inspiração. Em cada traço da caneta, percebo que a minha maior realização é você.
Você me consome de uma maneira boa.
Estava passeando pelo Pinterest e, ao notar uma foto de um casal sáfico com o seu bebê, sorri na mais pura idealização de termos um nosso. Possivelmente ele teria os seus traços, o seu rosto afinado e talvez o meu nariz. Acredito que o seu sorriso seria o foco; e o desfoque seria a minha birra encravada que seria repassada para ele. Todo o equilíbrio recorreria do seu sangue; e o desequilíbrio ele adquiriria com a péssima influência chamada Maiara.
O nosso pequeno e tão adorável Léo, não passará de uma bela paisagem prescrita por meu coração. Lembrarei, talvez, com muito orgulho e amor, da nossa tão sonhada Marcela. Recordo que os meus dedos circulavam em sua barriga tão linda, idealizando o nosso fruto que, em um futuro perto, estaria dentro do forninho crescendo com amor e sentindo a paixão da nossa conexão.
Já era tarde da noite, estava deitada na minha antiga cama, olhando para o teto e cogitando a possibilidade de tentar uma nova realidade. Não quero encarar a atual situação em que vivemos; é cruel e dolorosa.
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Rubble of this love
FanfictionMaraisa Henrique mudou-se recentemente para Ithaca, cidade onde sua irmã mais velha Maiara, mora. A emoção de estar residindo onde por muitos anos sonhou, toma conta do coração da morena. Por fragilidade, Maraisa acaba se envolvendo com a neurocirur...