Tive uma das piores noites e tive a certeza ao me olhar no espelho e notar as minhas olheiras. Não queria ir trabalhar, não queria ver ninguém, apenas me enfiar em um buraco e somente sair para os braços da minha mãe. Me sentia insegura, perdida e atordoada. Não sabia o que fazer e nem para onde ir.
Com as mãos em meu cabelo, suspirei fundo ainda com a cabeça baixa e deixei que algumas lágrimas caíssem e rolassem sobre a minha bochecha. Acho que uma das piores coisas é se sentir perdido e sem rumo. Para onde vou e para quem corro para contar o quão atordoada estou? A única pessoa que daria a dor da minha alma, seria a minha mãe.
Decidi não ir hoje, não me sinto bem o suficiente para cuidar de outras pessoas. Hoje eu preciso de cuidados. Me enrolei no edredom e alcancei um dos meus livros favoritos. Costumo ler para esquecer o caos em que vivo. A leitura nos leva para outros caminhos. Meu celular vibrou várias vezes e eu sabia que era o Xavier.
Dane-se.
O dia pareceu correr, eu cochilei algumas vezes mas não consegui dormir bem. A minha cabeça não permitia. Ouvi batidas na porta e insistências na campainha, não poderia ser a Maraisa, ela sempre me avisa quando vem. E se fosse o Murilo? Não, não pode ser.
Olhei pelo buraquinho que há na porta e meu coração pareceu saltar dentro de mim e chacoalhar todos os outros órgãos. Respirei aliviada, com os olhos lacrimejantes. Abri a porta e me joguei em seus braços, soluçando alto e sentindo suas mãos agarrarem o meu corpo como ela sempre fez. Me senti uma criança que implorava pelo colo da mãe, e por ironia do destino estava recebendo.
— O que aconteceu, minha criança? - A voz da minha mãe sempre pareceu com a dos anjos. A do meu anjo. — Mamãe tá aqui com você, meu amor!
Eu não conseguia parar de chorar, ela fechou a porta com o pé e me carregou com cuidado até o sofá onde deitou minha cabeça em seu colo. Eu tinha certeza que os meus olhos estavam vermelhos e as minhas bochechas também. Esfreguei meus olhos com força, querendo que aquela dor que me consumia fosse embora e que a felicidade que outrora senti retornasse como uma águia. Minha mãe segurou nas minhas duas mãos e olhou para minha alma. Enxugou a lágrima que insistia em cair, e beijou a minha testa como forma de acalento.
— Deus sempre sabe a hora de me enviar. A mamãe sentiu o coração apertado o trajeto inteiro, filha. Eu tô aqui, agora você está segura!
Abracei seu corpo e não ouvi mais nada nos próximos trinta segundos.
Ruth Dias point of view.
Minha filha adormeceu nos meus braços e eu relembrei os bons tempos da sua adolescência onde a mesma corria para o meu colo e me contava as suas dores. Sempre tivemos uma boa ligação e intuição aflorada quando se trata de nós duas, da nossa ligação como mãe e filha. Marília sabe o quão ligada sou com Deus e eu sempre afirmei que nossa relação era divina. Respirei aliviada ao vê-la dormir, beijei seu rosto e cobri a minha filha. Sempre respeitei o seu espaço, permito que ela sinta suas dores e depois retorne até mim para contar o que tanto lhe incomoda.
Sua casa estava uma bagunça e eu não estava cansada, dormi todo o trajeto e vim com o intuito de cuidar dela. Percebi que o seu celular vibrava sem parar, não ousava invadir sua privacidade, mas acabei por segurá-lo e ver algumas mensagens de uma moça chamada Maraisa. Não a conheço, até então Marília não me falou nada. Ela é assumida, mas achei que ela ainda estivesse com o Murilo. Resolvi deixar pra lá, mas, assim que me virei, o celular voltou a vibrar sobre a escrivaninha.
— Alô?
"Oi, tudo bem? A Marília se encontra?"
— Oi fia, ela está sim mas está dormindo. Acabou dormindo faz uns trintas minutinhos. Quer deixar recado? Eu passo pra ela.
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Rubble of this love
FanfictionMaraisa Henrique mudou-se recentemente para Ithaca, cidade onde sua irmã mais velha Maiara, mora. A emoção de estar residindo onde por muitos anos sonhou, toma conta do coração da morena. Por fragilidade, Maraisa acaba se envolvendo com a neurocirur...