War is over.

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Narrador point of view.

Maraisa concluiu que tudo era uma alucinação da sua cabeça e que Marília não estava em seu apartamento. A morena, completamente atordoada, suspirava profundamente, com os olhos fechados. Idealizar Marília fissurada em seus lábios, transtornou sua mente de uma maneira inexplicável. Talvez ler as cartas não lhe fez bem, ela sequer conseguiu concluir. A saudades transbordava em cada sílaba que ela lia. Era tudo muito intenso e insano, o que despertou uma saudades sem fim.

Atordoada, Maraisa buscou o celular e ligou para sua irmã Maiara, relatando tudo que acontecera. Sem entender, Maiara apenas ficava muda. Possivelmente sabia de algo, mas não comentaria para não causar um atrito maior.

Sem conseguir racionar e já não compreendendo mais, ela deita e chora, abraçada com os papéis que o seu amor lhe deixou como testemunha do seu fiel amor. Ela não quer acreditar que Marília realmente não a traiu. Em cada carta, Marília descreve cada temporada.

Maraisa senta sobre a cama, decidida a ler todas de uma vez.

A primeira carta que ela segura e abre, já lhe incomoda o coração.

Inexplicável, Henrique.
presumo que você está me odiando nesse exato momento, e eu compreendo o seu ódio destilado. eu também me odiaria. na verdade, me odeio por tudo isso. não irei justificar os meus atos, todos foram feitos conscientes, mas inundados pela dor da toxicidade que perfurava a minha mente todos os dias.

vivi em um relacionamento abusivo, fui ameaçada de morte, fui socada várias vezes no rosto e sangrei, diversas vezes. tenho uma cicatriz no pescoço, não sei se lembras, mas você costumava beijar sempre local. e eu queria chorar todas as vezes. fui enforcada brutalmente quando, pela primeira vez, decidi não querê-lo mais. lembro, com muita dor, da sensação agonizante que senti. chorei, desesperadamente, quando senti as mãos dele me apertando e cessando gradativamente o meu amor.

lutei para permanecer viva. nesse dia, desmaiei, poucos minutos após ele me largar sozinha em meu apartamento. havíamos conversado, ou pelo menos tentei conversar, para que ele entendesse que eu queria romper o relacionamento mas por motivos maiores. ele não aceitou e me torturou. quis ligar para a minha mãe, mas ele sempre descobria. cogitei me matar, maraisa. inúmeras vezes.

e não, não é uma justificativa.

quando te conheci, tudo reacendeu dentro de mim. você foi como uma luz em uma temporada obscura. no exato momento em que a vi, senti faíscas de uma paixão que, provavelmente, não seria correspondida. e, quando te apresentei o hospital, apresentei também boa parte de mim. eu sei, você me odiou algumas vezes. eu não sou a vítima. nunca foi a minha intenção ferir você, mas sei que feri e me condeno por isso. sempre irei machucar você com os meus erros tão inconsequentes.

provavelmente você sabe, você sabe que me deitei com ele. não estávamos namorando, não oficialmente. mas me deitei, maraisa. e nesse dia eu chorei. tentei sim terminar com ele, tentei sim fugir de tudo que me ligava à ele… mas como fazer? ele deixava bilhetes ameaçando-me de diversas vezes. ousei e desafiei o demônio. desafiei ele a mexer com você, mas antes ele passaria por cima do meu cadáver. e ele realmente passou quando atingiu você. foi uma dor descomunal, senti o meu mundo perder o sentido.

entre lágrimas, implorei para que ele me deixasse em paz porque estava apaixonada por uma mulher. e, em resposta, ele proferiu um tapa em meu rosto e riu, como um diabo ri do seu adorável e condenável futuro filho.

Rubble of this loveOnde histórias criam vida. Descubra agora